Este texto tem por objetivo compartilhar a sensação de fazer música durante o período da covid-19 com o Grupo Vocal Liberato e a Orquestra Liberato. Busca socializar o modo de encarar o impacto inicial, a criação de soluções e alguns dos desafios enfrentados por uma arte que essencialmente se sustenta a partir do trabalho coletivo e que atinge sua plenitude no agrupamento de pessoas, o que de forma inimaginável seria vetado subitamente.
A pandemia ocasionou uma abrupta interrupção no funcionamento de diversas atividades e, em meio a uma infinidade de outras, as artístico-culturais sofreram com toda sua cadeia produtiva. O retorno viria a ser lento e recheado de cautela, algumas vezes sem uma fundamentação adequada que possibilitasse um alicerce na prática segura do seu trabalho artístico. Considerando as circunstâncias, no cenário vivido pelo Grupo Vocal, não se pode ignorar, ou deixar de imaginar, a tamanha dificuldade de uma porção de pessoas cantando uma ao lado da outra sem espaço físico apropriado, sem ventilação e filtragem adequados, com gotículas projetadas ao ar e a formação da nuvem que não pediria licença para se propagar. E, ali em frente, sem blindagem específica para o canto, a figura involuntária tal como um “alvo” perfeito recebendo toda essa artilharia pesada: o maestro…
Quando a covid-19 invadiu nossas vidas, tanto o Vocal quanto a Orquestra imaginavam ingenuamente, assim como outros, que essa infecção respiratória aguda grave poderia nos privar por algum tempo, mas não tanto…que ilusão! Naquele momento, a esperança era de um retorno em breve. O que se pensou imediatamente era não perder o vínculo, aproximar de alguma maneira tantas pessoas que comungam de uma mesma alegria: cantar e tocar. Mas como? O que veio em mente foi o emprego da tecnologia, afinal de contas, podemos usar todo o poder daquele minicomputador com que obstinadamente convivemos diariamente na troca de mensagens: sim, o celular! Então, como solução, temos a produção de vídeos no estilo mosaico! É aquele tipo de montagem visual em que dispomos quadrinhos distribuídos em uma tela com cada cantor e instrumentista aparecendo e fazendo sua parte específica. E um detalhe: todos devidamente sincronizados.
O maestro abarcou uma função “multitarefa” do setor audiovisual, uma novidade em sua vida profissional que abrange diversas etapas para a produção de um clipe, entre elas a edição de imagens, de vídeos, de sons, a composição visual, a decupagem, a fotografia, a mixagem, a masterização, a orientação de figurino, o enquadramento, a escolha de software, entre outros. Aos instrumentistas e cantores coube a desafiadora tarefa de ensaiar muito, captar seu áudio sem ruídos externos (difícil), arrumar espaço físico em casa para filmar, colocar cortina atrás do sofá para o plano de fundo, aproveitar um abajur inclinado para ser um canhão de luz, ajoelhar na frente da câmera para obter o melhor enquadramento porque raramente existia um tripé que pudesse dar suporte ao celular e tampouco alguém para segurá-lo…e muito mais…
A sensação do processo todo é que, ao fazer música desse modo, as ondas sonoras das gravações não escondem totalmente de seus intérpretes as apreensões, angústias, inseguranças e a esperança de tempos melhores. As emoções permanecem registradas naqueles arquivos, os quais de digital não têm nada, sem zero ou um, mas de um formato analógico, sem conversão, cheio de nuances captadas e gravadas. Todos os integrantes expressam a luta diária de seguir em frente e o desejo de que tudo isso “VAI PASSAR”. Esse tempo vivido reitera que a arte é importante e que a música feita em mosaico terá um lugar todo significativo na produção de um vídeo muito especial… o da celebração da vida.
Acesse os vídeos produzidos: