Relato da Palestra “Sete Dias em Auschwitz”, da pesquisadora e egressa da Fundação Liberato Bianka Adamatti, organizada pelas professoras Sonia Porto Machado e Paola Del Vecchio
Ao sobreviver ao Holocausto, Primo Levi escreveu um livro, É isto um homem, importante para tentarmos entender o que é um homem e como age em situações de alta violência. Também analisou a capacidade de um homem destituir a humanidade de outro, mesmo que seja sob ordens superiores, como muitos alegaram. Primo Levi sobreviveu, mas muitos não.
Quando Bianka Adamatti visitou Auschwitz, famoso complexo de campos de concentração e extermínio sob domínio nazista e localizado na Polônia, talvez não imaginasse que as provas da barbárie ainda estavam vivas. Viajou como estudante de um programa especial e teve oportunidade de entrar em lugares que os turistas não acessam. Viu na parede de uma câmara de gás (em Majdanek) o azul exuberante do Ziklon-B (o gás usado na solução final). Ainda está ali porque, mesmo que a parede seja pintada, ele retorna como quem diz: “Eu estou aqui, e nada vai me apagar”. O cianureto vive e não permite o esquecimento. Assim como o cheiro forte do fenol no barracão de experiências com gestantes e seus bebês. Provas além dos documentos escritos, dos depoimentos, dos livros e das fotos. São provas sensoriais que impedem a negação e mantêm a memória viva como o azul.
Quando alguém fala de temas tão delicados e dolorosos, facilmente nos remete a questionamentos sobre os motivos de escolher alguns grupos humanos como foco da morte. A palestrante deixou claro que a política nazista era uma política de morte e que, acima de tudo, precisava ser eficiente no processo. Mas, antes de tudo, era um regime irônico. Vendiam a ideia de uma vida melhor àqueles que compraram suas passagens de trem para a morte. Arbeit macht frei – O trabalho liberta – era a frase de entrada no complexo.
Os grupos, além de trabalharem forçados e com pouca comida – longe da liberdade –, deveriam também ser objeto de pesquisa por parte dos cientistas do Reich. Falou das experiências de Mengele e da pesada aura do prédio onde aconteciam, assim como mostrou que o desperdício não fazia parte da estrutura nazista, onde tudo se resolvia na base do “serve ou não serve”. Eficiência era o lema até sobre o matar: cortar caminhos de logística, utilizar os bens e até os cabelos das vítimas.
Por fim, preocupada com a disseminação de inverdades que levam as pessoas a defenderem o ódio como forma política, nossa palestrante animou a plateia a estudar o tema e buscar informações relevantes que dignifiquem a vida humana.
Bianka estudou na Liberato, no curso de Química e, desde cedo, demonstrava interesse específico pelo tema da Segunda Guerra. Hoje formada em Direito, com mestrado em Direitos Humanos, ruma ao doutorado na mesma área, mas estudando o genocídio dos povos indígenas. Retornou à escola no início de agosto de 2022 e compartilhou experiências e sentimentos com os estudantes em uma oportunidade como poucas. Sua palestra intitulada “Sete dias em Auschwitz” deixou o auditório da Fundação Liberato, para além da lotação, em um silêncio profundo e a mensagem “Holocausto nunca mais!” ecoando na mente.
Sonia Porto Machado e Paola Del Vecchio
Professoras da Fundação Liberato