O aclamado livro A vida que ninguém vê foi escrito pela gaúcha Eliane Brum e lançado pela primeira vez em 2006, pela editora Arquipélago Editorial, em Porto Alegre. Tendo iniciado no jornalismo em 1988, a autora construiu uma carreira de impacto ao longo de décadas de publicações sobre histórias encontradas em lugares ordinários. Os textos de Brum foram produzidos e traduzidos para diferentes idiomas – como o inglês, o espanhol, o italiano e o polonês, além do português – e seu trabalho foi reconhecido com dezenas de premiações no Brasil e no exterior.
A vida que ninguém vê é um conjunto de crônicas-reportagens de cerca de seis páginas cada. Todos os capítulos são iniciados com uma fotografia diferente referente à história contada a seguir. Nessas imagens, os rostos são desfocados, e os entrevistados, mostrados em tons de cinza, preto e branco. A capa mostra uma rua movimentada no mesmo padrão das outras figuras, com o título centralizado em amarelo, com destaque para a palavra “vida”.
Os capítulos têm raiz de reportagem, com a preocupação em transmitir o real e o compromisso com o(a) leitor(a) em escrever sobre a verdade como ela é. Porém, cada história é narrada sob um olhar extremamente delicado e não apenas apresentada. A autora escreve sobre Eva, uma mulher negra, pobre e deficiente física, cujo único crime foi ir para a universidade; sobre o colorado Alverindo, que vive sentado no chão olhando para os pés alheios na Rua da Praia; sobre Antônio, que depois de enterrar seu bebê e sua esposa em uma cova rasa no cemitério da Santa Casa, disse “esse é o caminho do pobre”. Conhecer essas histórias e saber que elas estão perto, mas são simplesmente ignoradas, é tão inacreditável, que parece ficção. Ao mesmo tempo, é tudo tão real, que não parece verdade.
Eliane usa o livro como uma oportunidade para mostrar detalhes de vidas comuns, que não chegam até as telas. Assim, a jornalista foge do padrão e une os poderes de escrever uma notícia e contar uma história. Ao longo das páginas de A vida que ninguém vê, o(a) leitor(a) se depara com um jornalismo profundo, uma amostra do que é viver no lugar do próximo. Brum tem um talento extraordinário para fazer a vida de um desconhecido se tornar palpável e para mostrar como, em cada canto – mais especificamente, nas periferias do Rio Grande do Sul – existe uma história de sobrevivência. Ler esse livro é uma experiência de mudança de visão. Ao longo dele, o(a) leitor(a) ressignifica os conceitos que tinha de “milagre” e “resistência” e percebe que, em todo lugar, há vida para ser vista.
BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2006. 208 p.
Vontade de ler o livro , bela resenha Ju , parabéns.
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