A produção de notícias de divulgação da ciência no Ensino Médio a partir de pesquisas da Mostratec e da Mostratec Júnior

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Durante o mês de outubro de 2022, como professoras de Língua Portuguesa dos 1ºs anos do Curso Técnico de Química Integrado ao Ensino Médio da Fundação Liberato, trabalhamos com o gênero discursivo “notícia de divulgação científica” com nossos estudantes. Trata-se de um gênero que tem como objetivo divulgar os resultados de pesquisas científicas a um público amplo. Para Giering (2013), nessa notícia, encontram-se título, subtítulo (opcional), lead (informação sucinta do fato noticiado e das principais circunstâncias), detalhamento, intertítulo (opcional) e, geralmente, algum elemento icônico.  

As respostas às seis questões fundamentais que precisam estar presentes em qualquer notícia, popularmente conhecidas como a “fórmula do 3Q+COP” (Quem? Quando? O Quê? Como? Onde? Por quê?), na notícia de divulgação da ciência, relacionam-se a essa novidade científica: quem foram os cientistas, eles descobriram o quê, onde, quando, com qual justificativa (por quê), com qual metodologia (como), porém sem o aprofundamento de uma reportagem. 

A linguagem precisa ser simples, objetiva e clara, buscando estratégias para informar e, ao mesmo tempo, captar a atenção do leitor. Todos os conceitos científicos devem ser explicados. Para isso, a notícia apresenta definições, apostos, comparações ou analogias, sendo um texto diferente de artigos científicos produzidos para revistas científicas especializadas ou dos relatórios produzidos para as feiras científicas, em que o autor escreve de cientista para cientista. O autor precisa escrever para leitores não familiarizados com o tema da pesquisa ou até mesmo com ciência.

Outra característica marcante da notícia de divulgação da ciência é o emprego da citação, recurso por meio do qual “o jornalista traz a voz do cientista responsável pela pesquisa ou de alguém que esteja direta ou indiretamente ligado a ela” (GIERING, 2013).

Após estudarmos as características do gênero em sala de aula, lançamos um desafio aos estudantes: eles deveriam ir até a Mostratec, que ocorreu em outubro de 2022, nos pavilhões da Fenac, escolher um projeto de pesquisa do Ensino Fundamental ou Médio (Mostratec ou Mostratec Júnior), entrevistar os pesquisadores e, em seguida, redigir uma notícia.

Neste relato, trazemos algumas das produções de nossos estudantes, algumas dedicadas a pesquisas de crianças do Ensino Fundamental e outras a de jovens do Ensino Médio.

Daiana Campani e Liane Filomena Müller
Professoras a Fundação Liberato

Referrência:

GIERING, M. E. Gêneros acadêmicos e de divulgação científica. In: DAMIN, Cristina Pimentel (Org.) et al. Leitura e produção de textos de comunicação da ciência. São Leopoldo, Unisinos, 2013. E-book.


Crianças ao volante!

Os pequenos foram às ruas para aprender e ensinar sobre educação no trânsito 

Por Lara Rodrigues Paz 

Se você, grande ou pequeno, já se fez a pergunta “Quem é responsável por salvar vidas no trânsito?” alguma vez na vida, saiba que a Maria Eduarda, a Nicole, o Josué e a Valentina descobriram a resposta! Representando toda a sua turma de segundo ano da Escola de Educação Básica Anita Garibaldi – Novo Hamburgo, o quarteto foi à Mostratec Júnior 2022 nos contar o que aprenderam com seu projeto de pesquisa “Educação no trânsito: juntos salvamos vidas!”

Aluna da Fundação Liberato Lara Rodrigues Paz com os pesquisadores Josué Augusto de Vargas, Maria Eduarda Duarte Oliveira, Nicole Eduarda da Silva Romana e Valentina da Silva Hugentobler após a apresentação do projeto na Mostratec Júnior 2022

Aluna da Fundação Liberato Lara Rodrigues Paz com os pesquisadores Josué Augusto de Vargas, Maria Eduarda Duarte Oliveira, Nicole Eduarda da Silva Romana e Valentina da Silva Hugentobler após a apresentação do projeto na Mostratec Júnior 2022

 

A aventura teve início quando um coleguinha sofreu um acidente bem na frente da escola. Foi quando os pequenos começaram a se perguntar a mesma coisa que você, leitor, e decidiram ir atrás de saber quem era responsável por salvar as vidas no trânsito todos os dias – e qual era a identidade desse super-herói!

Depois de estudar muito sobre as sinalizações de trânsito, a turma saiu com sua professora, Lillian Wiezorek, para observar como funcionam as ruas e até puderam andar por elas pelo aplicativo Google Maps. Assim, o segundo ano entendeu a necessidade de se terem calçadas adaptadas e sinalização para pessoas com deficiências físicas e visuais, bem como rampas de acesso. Tudo isso, concluíram, estava presente nas ruas que visitaram e nos arredores da escola.

Mas isso foi só o começo: a galerinha recebeu na escola a visita do guarda municipal Almeida! Seria ele a pessoa responsável por salvar vidas no trânsito? Para desvendar isso, o segundo ano ouviu, com muita atenção, o que o guarda tinha para falar a respeito das leis de trânsito e da segurança nas ruas.  

Descobriram que uma pessoa não poderia dirigir se tivesse tomado bebida alcoólica antes. Por quê? Não sabiam, mas decidiram fazer um experimento para responder à pergunta. Com a ajuda de um óculos de realidade virtual adaptado pela professora, os pesquisadores simularam a visão de uma pessoa embriagada e concluíram que seria impossível até mesmo caminhar em linha reta, que dirá dirigir de acordo com as leis de trânsito! Sendo assim, a turma aprovou com unanimidade a lei apresentada pelo guarda Almeida.

Além disso, o guarda municipal explicou os métodos de segurança para cada criança ao viajar de carro, divididos por faixas etárias. Ficou claro que, para as crianças abaixo de um ano, era necessário um bebê-conforto, ao passo que, até os quatro anos, o pequeno deveria usar uma cadeirinha com cinto e, por fim, um assento de elevação até os sete anos de idade (ou até atingir 1,45m de altura); após cumprir esses requisitos, fica obrigatório somente o uso do cinto de segurança. A fim de colocar em prática a nova informação, os alunos confeccionaram uma régua para medirem suas alturas, com a qual concluíram que todos os colegas deveriam utilizar o assento de elevação dentro do carro por medirem menos de 1,45m.

Para fechar a pesquisa com chave de ouro, os jovens cientistas construíram com suas famílias um meio de transporte com materiais alternativos e aproveitaram para perguntar aos familiares se já haviam sofrido acidentes no trânsito e quais foram os motivos. Com essas informações, a turma montou um gráfico em torno da pergunta “Alguém da sua família já se envolveu em um acidente de trânsito?”, ao qual 19 de 25 pessoas responderam positivamente. Assim, concluíram a necessidade de conversar com os pais sobre os perigos do trânsito!

Por fim, inspirados pelo filme Carros, da Disney, cada aluno pegou seu meio de transporte feito em casa e pôde aplicar o que havia aprendido com a pesquisa nas ruas fictícias construídas dentro da escola – com réplicas de placas de trânsito e tudo!

Ah! Lembram da pergunta inicial, que motivou o projeto? As crianças não só conseguiram encontrar a resposta, como fecharam a apresentação pronunciando-a em uníssono, pois descobriram que, além do guarda Almeida, todo mundo é responsável por salvar vidas no trânsito!!


Engoli uma semente, e agora?

O caminho da semente no nosso organismo e os fatores que a levam a não se desenvolver.

Por Ana Vitória Stroher 

Se você já engoliu uma semente, já deve ter se perguntado se ela cresceria dentro de seu organismo, saindo pela sua boca ou até pela suas orelhas. E foi exatamente  isso que aconteceu com o João, colega das pesquisadoras Nurhia Janaína Stroher, Manuela Caballero de Moraes e Isabele Meneghetti, da Escola Municipal de Ensino Fundamental José de Anchieta, do município de Bom Princípio-RS, Brasil. A pesquisa foi realizada com o 1°, o 2° e o 3° ano. 

Durante o recreio, o colega João engoliu uma semente de bergamota, e todos ficaram extremamente preocupados. Afinal, o que aconteceria com o João? A semente iria se desenvolver dentro do seu organismo, e os galhos sairiam pelo nariz ou pelas orelhas? Ele teria que ser levado às pressas ao hospital? Ou será que ela simplesmente sairia pela forma natural? E foram essas dúvidas que motivaram as três turmas a se perguntarem: “Para onde vai a semente que engoli?”

As investigações começaram, e o primeiro passo foi descobrir o caminho que a semente faz dentro do nosso organismo, através de vídeos explicativos e textos. Com as pesquisas, descobriram que o alimento passa por cinco estágios quando ingerido. O primeiro é a mastigação, no qual a nossa boca, com auxílio dos dentes, deixa o alimento em pequenos pedaços, e a saliva deixa tudo molinho. 

O segundo estágio é a ingestão. Nele, a língua empurra o alimento para o fundo da garganta formando o bolo alimentar (que não é tão apetitoso quanto o nome indica ser!). Essa bola de comida desce por um tubo, o famoso esôfago. 

O terceiro estágio é a digestão, onde o estômago deixa o bolo alimentar ainda menor, e, através de movimentos, desmancha-o com ajuda dos ácidos. 

O quarto estágio ocorre após o bolo alimentar sair do estômago e ir para o intestino delgado, onde só são retirados os nutrientes que vão para o sangue.

 No quinto estágio, o responsável é o intestino grosso, que absorve a água e os sais minerais. O restante, que não é utilizado, gera as fezes. A partir dessa breve explicação, já concluíram que o João não teria uma árvore crescendo dentro dele (o que seria bem legal, mas de certa forma assustador!).

Durante a pesquisa, a turma teve a visita da nutricionista Niviane de Carvalho, que apresentou algumas curiosidades sobre as sementes. Ela nformou também que algumas são de suma importância para nossa saúde e que deveriam ser ingeridas diariamente, como, por exemplo, linhaça, gergelim, feijão, arroz e entre muitas outras. Mas também existem as sementes “malvadas”, que não deveriam ser ingeridas em grandes quantidades, como, por exemplo, a semente da maçã, pois contém um composto tóxico, assim como a semente do cajú e da cereja. 

Após essas grandes descobertas, os estudantes também coloriram o sistema digestório e confeccionaram um livro sobre a história do famoso João. Depois da visita da nutricionista, a turma do segundo ano fez um bolo de gergelim (que iria ser muito melhor se fosse de chocolate!) e representou o sistema digestório com massinha de modelar. Já o terceiro ano pintou o nosso organismo em camisetas brancas.

Também realizaram o experimento do boneco cabeludo, em que cada aluno plantou um pouco de alpiste em um pote e o colocou em um local que recebia luz solar, água, ar e solo. Após quinze dias, o alpiste estava enorme e bem verdinho. “Enfeitamos os potes e fizemos belíssimos penteados e cortes de cabelo”, narra Manuela. Na mesma ocasião, os alunos colocaram um pote com alpiste em uma caixa escura, representando o nosso estômago, que não é um ambiente propício para o desenvolvimento da planta, visto que não possui as características do mundo externo. E, como já era esperado, o alpiste não cresceu, explicando o porquê de as sementes não se desenvolverem dentro de nós quando ingeridas. 

Foi feita uma série de experimentos com as três turmas, como o da meia-calça, representando o esôfago e como o alimento desce por ele. Além disso, misturaram leite e vinagre, observando a função do suco gástrico no nosso estômago. Assim todos os estudantes participaram e conheceram, de uma forma dinâmica, a perfeição que é o nosso corpo!

Ao final do projeto, as turmas conseguiram compreender o sistema digestório e como ele atua para a retirada dos nutrientes necessários para nosso organismo, assim como identificar quais são os órgãos que fazem parte desse processo. Aprenderam também sobre quais sementes devem ser evitadas e quais devem ser ingeridas diariamente. E o mais importante, puderam, finalmente, dormir tranquilos após concluírem que as sementes se transformam em árvores quando ingeridas, somente na nossa imaginação.

Foto da estudante Ana Victória Stroher ao lado das pesquisadoras: Nurhia Janaína Stroher,  Manuela Caballero de Moraes e Isabele Meneghetti.

Ana Victória Stroher ao lado das pesquisadoras: Nurhia Janaína Stroher,  Manuela Caballero de Moraes e Isabele Meneghetti.


O descarte que salva o planeta

Estudos realizados por estudantes do Rio Grande do Sul oferecem opção sustentável para a produção de fraldas descartáveis.

Por Marina Smolinski

Alunos pesquisadores da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) apresentaram na Mostratec 2022 uma forma biodegradável e viável de desenvolver fraldas absorventes descartáveis. Os estudantes Vítor Ludwig Pereira e Sofia Wolff, orientados pela professora Fernanda Kohlrausch, desenvolveram um material absorvente a partir de resíduos orgânicos descartados no estado do Rio Grande do Sul. 

A partir da testagem com cascas de arroz, de banana e de pinhão, todas descartadas em abundância no Estado, os pesquisadores constataram que as primeiras absorvem 10 mL de água, viabilizando o uso destas como material absorvente em fraldas descartáveis. Apesar de uma absorção inferior às fraldas atualmente disponíveis no mercado, que absorvem 32,5 mL a cada 3g, a pesquisa se mostra como uma promessa sustentável de desenvolvimento futuro, uma vez que os polímeros utilizados nas fraldas comercializadas são altamente poluentes. 

O projeto “Desenvolvimento de fraldas biodegradáveis e economicamente viáveis a partir de resíduos orgânicos da região Sul” nos oferece uma alternativa para aliviar o impacto ambiental. “Os materiais usados nas fraldas hoje em dia demoram em torno de 500 anos para se decomporem, por isso buscamos em materiais rejeitados no Rio Grande do Sul uma outra forma absorvente.” diz Ludwig. 

Momento da entrevista com os pesquisadores Vitor e Sofia

Momento da entrevista com os pesquisadores Vitor e Sofia


Estudantes desenvolvem uma máscara de proteção a partir de fibras de fruta

Você já se imaginou usando uma máscara com aroma de fruta?Ou melhor, uma máscara comestível? Pois é, alunas do Colégio Farroupilha desenvolveram uma máscara sustentável através de uma fruta tropical.

Por Larissa Prade

A Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, conhecida como Mostratec, ocorreu presencialmente entre os dias 24 e 28 de outubro de 2022. Essa feira tem como objetivo apresentar projetos de pesquisa científica e tecnológica em diversas áreas do conhecimento humano.

Dentre os 664 projetos expostos neste ano de 2022, destacou- se o projeto “Máscara de proteção individual biodegradável a partir das fibras presentes na fruta tropical Mangifera indica”, desenvolvido pelas alunas Bárbara Müller, Sofia da Rocha, Gabriela Gonzales dos Santos e Valentina Rinaldi Foscarin, do Colégio Farroupilha, do município de Porto Alegre/ RS.

Essas pesquisadoras, durante a pandemia, observaram que as máscaras se tornaram muito mais que uma obrigação, se tornaram um meio de proteção mundial contra a covid-19.

Assim, começaram suas pesquisas em 19 de março de 2022, onde buscaram desenvolver uma máscara biodegradável, dentro dos laboratórios da escola, que reduziria o impacto dos descartes incorretos na natureza, já que nelas é possível encontrar polipropileno, tipo de plástico que tem como tempo de decomposição aproximadamente 450 anos.

Para isso, através de uma fruta fibrosa e que fosse de fácil acesso em todas as estações do ano, criaram uma máscara a partir do fruto Mangifera indica, conhecida aqui no Brasil como “manga”.

O processo dividiu-se em duas partes: realizaram os testes em mangas com casca e sem. Em seguida, ao cortarem em pedaços, colocaram-nas em liquidificadores e acrescentaram 30 gramas de amido de milho. 

Dessa mistura, separaram 50 gramas de cada em um recipiente e levaram as amostras para uma estufa a 34º C para serem desidratadas em um período de 4 dias, no próprio laboratório da escola.

Relatam também que realizaram um teste para verificar o tempo de degradação do produto na natureza. Para isso, utilizaram duas maneiras, uma enterrada no solo, que teve como resultado 2 dias, e outra depositada sobre a terra, que demorou 4 dias para se decompor totalmente.

Além disso, apontam que o maior problema na elaboração do projeto foi em descobrir o tipo de fruta e a “receita” que melhor se adequaria à produção.

Como resultado, a máscara desenvolvida que mais se destacou foi a mistura sem a casca da fruta, pois ficou flexível e intacta, mostrando que a técnica utilizada teve bons resultados. 

E, ao finalizarem a apresentação, Valentina comentou: “ainda estamos em busca de aprimorar e aperfeiçoar nossas pesquisas, realizando mais testes para que assim possamos elaborar o equipamento de proteção para uso”. 

As autoras do projeto ao lado da aluna Betina Luft, da turma 1123.

As autoras do projeto ao lado da aluna Betina Luft, da turma 1123.

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