ENTREVISTAS: COMEMORAÇÃO DOS 30 ANOS DE SIET

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Entrevistas:
Júlia Brandelero Labres

Transcrição:
Gustavo Ferraz Favero, Júlia Brandelero Labres e Rafaela Trennepohl Leivas

Grupo Voluntários de Mídias
Fundação Liberato


 

É muito bom frisar que estávamos no final de um milênio (7º SIET). E nós tínhamos algumas tecnologias que estavam emergentes. […] As entradas USB estavam recém aparecendo nos nossos computadores, e nós tínhamos computadores há dez anos. Algumas pessoas tinham notebooks, laptops, eu mesmo tinha um com entrada USB e não sabia para o que era, até que me explicaram. Um dia me levaram um pendrive de 500mb, que era a capacidade que a gente tinha….

Eu fiz o 7º SIET. Havia uma tendência, uma ideia de que ele tinha que acontecer junto com a Mostratec para ter a oportunidade de ter professores orientadores que vinham do Brasil todo, inclusive os nossos aqui, diretores de escolas que traziam os alunos de fora. […]

Nós fizemos um consórcio. Essa palavra não existia ainda para falar de cooperação entre instituições, mas nós fizemos. Convidamos, chamamos para a colaboração SENAI, SESC, SESI, PUC, UFRGS, Secretaria de Educação, Prefeitura de Novo Hamburgo, Feevale, Unisinos… Naquela época, estava surgindo no RS um estudo sobre bioética. Aquela palavra, aquilo ficou na minha cabeça, e um dia eu levei para o grupo: “Vamos fazer um seminário cujo tema seja bioética na formação profissional!”. Ninguém no Brasil tinha feito coisa parecida, nenhuma instituição no Brasil tinha abordado esse assunto.[…]

A ideia era fazer o SIET todo conceitual, todas as peças tinham que ser como um disco. Hoje, se tu vais ouvir música, tu ouves unitariamente. Mas antigamente a capa do artista tinha a ver com as músicas… A primeira palestra foi sobre bioética, com o José Goldin, referência brasileira, professor de biologia, doutor em bioética e medicina. A última era de um geólogo da PUC, Jorge Villwock. Foram palestras geniais!. Então, os alunos foram convidados a ir, daqui [da Liberato] – pois a Mostratec acontecia aqui – para a Feevale, onde acontecia o SIET. Lotamos com 500, 600 alunos, mais professores.

Cícero Marcos Teixeira Júnior
Orientador Educacional no Curso de Eletrotécnica
Comissão Organizadora do SIET
Fundação Liberato


Sou professora de História na Fundação Liberato há 36 anos, e nesse tempo todo participei de muitas atividades aqui na escola, participei de muitos momentos importantes e espero contribuir agora nos 30 anos do SIET.

Eu acho que o SIET nasceu para ser um espaço de discussão, de debate dentro da área da educação e da tecnologia, permeando ambas, e é isso que sempre foi, um espaço em que pudéssemos discutir bastante, em que pudéssemos refletir bastante e com outros colegas, de outras escolas, de outros estados, mesmo de outros países. […]

Acho que cada vez mais precisamos pensar sobre educação e tecnologia e, nos tempos atuais, vamos ter que pensar muito sobre essa questão da inteligência artificial. Isso é uma questão que está ainda nos impactando, vai nos impactar ainda mais. Por enquanto acredito que estamos alguns um pouco assustados ainda, mas creio que seja uma questão para se pensar muito, sala de aula e inteligência artificial. Não só nós, os professores, mas sim os alunos e os professores, que futuro vai ser esse da escola frente à inteligência artificial?

Ana Izabel dos Santos Fernandes
Professora de História. Espectadora do SIET
Fundação Liberato


O SIET é um espaço bem importante para troca de experiências de pesquisadores, de orientadores que vêm acompanhando os projetos dos estudantes, então é um encontro dos orientadores de pesquisa, dos profissionais de pesquisa das diversas instituições dos mais diversos países. A maior parte tem sido dos países latino-americanos. Quando eu fui coordenador, em 2015, nós retratamos […] as pautas que estiveram muito presentes na Fundação Liberato, as pautas da sustentabilidade ambiental, da nossa preocupação com o aquecimento global e também a questão dos limites da racionalidade e os enfoques de ciência que estão sendo feitos pelas instituições. Então nós tentamos produzir ali um ambiente reflexivo, crítico, sobre essas temáticas, dos sentidos, dos significados das pesquisas em curso e da capacidade de a gente gerar soluções reais para o mundo e para a realidade, para os ambientes. […] Em 2015, nós produzimos também uma inovação, que foi a apresentação de experiências de pesquisa, projetos de pesquisa em curso nas instituições. Eu me lembro das apresentações de vários projetos do México, da Argentina, do Paraguai, do Uruguai, do Peru, além das experiências brasileiras.

Pedro Giehl
Professor de Gestão e Empreendedorismo
Comissão Organizadora e conferencista do SIET
Fundação Liberato


Há vários eixos que organizam o Seminário. Passamos por várias mudanças no mundo do trabalho, na questão da ciência, da tecnologia, por um período de negação da ciência, de coisas que já eram consolidadas no campo da ciência e que passaram a ser questionadas. A história não é linear, não vai sempre para frente, às vezes dá uma recuada. A questão do trabalho, igualmente. Agora comemoramos os 80 anos de CLT e vemos que ela também teve uma reforma, a reforma trabalhista. A CLT foi um avanço, mas agora temos também alguns retrocessos; então sempre se está interrogando sobre esses avanços. São avanços que significam melhorias ou são avanços que às vezes significam retrocessos? Então eu penso que o desafio do futuro do Seminário é continuar presente nesse espaço tão rico, de tanta troca e em que está presente uma geração que está se formando, ou várias gerações, pois agora há a Mostratec Júnior. Então acredito que o espaço tem um desafio de poder pensar o que é educação neste século com a presença forte do digital, dessas ferramentas, que precisam ser pensadas, que precisam ser discutidas. É preciso refletir sobre elas, sobre os benefícios dela e também sobre os riscos. E o próprio mundo do trabalho, o que vai ser o trabalho neste tempo? A gente teve uma pandemia que acelerou algo que vinha em curso que é a possibilidade do trabalho remoto. Áreas, profissões se reinventam, novas oportunidades de trabalho. A função do Seminário é isso, trazer essa reflexão. […]

Creio que o Seminário não pode deixar de pensar o tema da ética: o conhecimento, a tecnologia, o trabalho, a educação, eles têm um sentido ético? Que civilização a gente quer, que sociedade a gente quer? Uma sociedade que seja evoluída tecnologicamente, mas em que a fome não esteja presente. Que a saúde seja uma prioridade, que as pessoas não morram de fome, não morram de doenças; se existem hoje conhecimento e desenvolvimento tecnológico capazes de fazer frente a isso. […] Que a gente possa substituir uma convivência baseada no ódio, no estímulo do preconceito, da intolerância, por valores de humanidade. Então acho que o SIET tem esse desafio: associar ciência e tecnologia a um sentido ético de uma civilização, de valorização dos princípios de humanidade, solidariedade, igualdade, respeito, tolerância, diversidade.

Maria Inês Zulke
Psicóloga
Comissão Organizadora e conferencista do SIET
Fundação Liberato


Coordenei o SIET nos anos de 2019 e 2020, mas participo desde quando entrei na Fundação, em 2011, como espectador. A partir de 2017, atuei como parte da comissão organizadora do Seminário.

Em 2019 […] trouxemos um palestrante finlandês, Jarkko Wickström, e a escritora e jornalista Viviane Mosé, e o SIET então alcançou um marco histórico de 2217 inscritos, o que foi bastante interessante porque foi um público muito grande e uma movimentação bastante grande.

E um outro desafio foi o primeiro SIET no modelo virtual em 2020, em função da pandemia. Nós estávamos planejando o SIET para um evento presencial como tradicionalmente ele ocorria até então, e nós, em meio a esse planejamento, tivemos uma mudança radical que foi a decisão de transformá-lo, pelo menos naquela edição, em um fórum virtual. Então o SIET ocorreu pela primeira vez de maneira totalmente virtual, com inscrições, transmissão, certificação, de forma virtual. E isso foi um enorme desafio, pois nós não sabíamos como fazer. Nós tínhamos uma expertise de promover o Seminário de forma presencial, conhecíamos e dominávamos as ferramentas, a comissão estava preparada para promover o SIET de forma presencial, mas não sabíamos fazer de forma virtual, não conhecíamos as ferramentas e tivemos de aprender ali, em alguns meses, e organizar para que acontecesse daquela maneira. Apesar do sofrimento, foi um aprendizado grande e um legado que fica então a partir de 2020: sistema de inscrição, forma de certificação e várias outras vantagens que adotamos nesse modelo híbrido ou presencial.

José de Souza
Professor no Curso de Mecânica
Comissão Organizadora do SIET
Fundação Liberato


O principal desafio talvez seja trazer novidades, tentar trazer novos temas para discussão, para não se tornar algo repetitivo, porque temos sempre uma boa fidelidade do público que assiste ao SIET. Alguns participantes estão desde a primeira edição, e estamos já na trigésima edição, neste ano. O SIET teve, na sua criação, o objetivo de trazer para a discussão a educação, mais voltada à questão tecnológica. Nós somos uma escola técnica, e os temas tentam abranger esse aspecto, mas sempre a ideia é trazer temas, debates sobre a educação. Portanto eu diria que as palestras, os painéis que mais fizeram sentido foram aqueles que trouxeram questionamentos sobre o fazer pedagógico, sobre o fazer da educação […] Eu cito aqui 2014, pegando um pouco do histórico, quando o professor Pedro Demo trouxe a palestra “Educar pela Pesquisa”. Há outros tantos, mas trago-o como uma referência onde se questiona todo o fazer de sala de aula tradicional, como a educação se faz. Acho que aí é interessante porque faz a reflexão de como nós, como escola Liberato, estamos fazendo. Percebemos que muitos pontos colocados naquela palestra estamos fazendo: tornar o aluno protagonista, trabalhar a autonomia, quando se faz pesquisa, por exemplo. Percebemos que estamos no caminho certo pensando dentro dessa fala. Mas é claro que tivemos diversos palestrantes e conferencistas que fizeram várias indagações, e é interessante porque tu fazes a reflexão sobre aquilo que tu estás fazendo, então te faz pensar, questionar, te desacomodar. Acho que é o grande objetivo de um seminário.

Leori Tartari
Professor no Curso de Química
Diretor da DPEI e Comissão Organizadora do SIET
Fundação Liberato


O futuro é o que mais discutimos. Um tempo atrás, comentávamos sobre o futuro pensando em uns dez anos para frente, talvez mais. Agora o futuro é pensando amanhã, como a escola vai seguir, como a educação vai acompanhar essas mudanças. Hoje, por exemplo, dentro de diversas empresas, as transformações são muito rápidas, o uso da tecnologia está muito avançado. E há tecnologias das quais a Escola ainda não dispõe. E por vezes não há investimento suficiente, e, quando vem esse investimento, ele já é tardio, em termos de tecnologia. Por isso o grande impacto do Seminário se dá nessa ordem. Tu trazes profissionais que neste momento estão utilizando ou implantando essa tecnologia para que nós possamos, juntamente com os alunos, discutir, de certa forma, como utilizá-la. Essa é a grande vantagem. […]

E quanto ao contato com palestrantes, existe uma equipe responsável. Discutimos qual a temática para o SIET daquele ano e, em função daquela discussão, buscamos nomes. Quais são as pessoas que poderiam contribuir dentro dessa temática que nós estamos buscando? […] Listamos alguns nomes, sugestões, analisamos esses nomes, colocamos em discussão e elencamos ali os escolhidos. E aí corremos atrás, começam os primeiros contatos. Isso tem de ser feito com antecedência, pois essas pessoas são bastante requisitadas. Paralelo a isso, buscamos os recursos. Esta edição de 2023 vai ser presencial, então tivemos que buscar recursos financeiros para trazer o pessoal. Mas em 2021, 2022 foi híbrido, presencial e virtual. Então o que aconteceu: o contato se deu da mesma forma. E teve uma facilidade: a pessoa lá na sua residência na Colômbia só teve de mudar o fuso-horário e ofereceu a palestra para nós. E uma das grandes preocupações é quanto à tecnologia: se não der, se faltar energia em algum momento. Nos preocupamos com esse aparato tecnológico e buscamos maneiras de, se acontecer algo, termos um plano B.

O que temos hoje: os meios de comunicação estão muito diversificados. Mas nada substitui o olho no olho. Então eu prevejo que vai permanecer a modalidade presencial. É muito cômodo cada participante estar na sua residência, mas se perde esse olhar; a interação entre o público e o palestrante não é tão grande, e no presencial tu tens a oportunidade de estar sentado ao lado de uma pessoa de outro país, uma pessoa que trabalha em outra escola, outra realidade. […]

Acho que todo mundo ganha. Visões diferentes, de pessoas com culturas diferentes. […] No presencial, diferente do online, a palestra termina e tu estás dentro da feira, muitas vezes encontra o palestrante, ou alguém que fez uma pergunta e consegue discutir. Tu percebes que a pessoa está ali com um projeto e vai conhecê-lo. Isso é algo bom de o SIET ser paralelo à Mostratec. […] Neste ano será presencial justamente por isso, vamos retomar o que vinha sendo feito antes da pandemia. Nós nos acostumamos um pouco com o virtual, então queremos retomar a convivência, trazê-la novamente para dentro do Seminário.

Luis Gonçalves
Professor no Curso de Mecânica
Coordenador do 30º SIET
Fundação Liberato


O SIET nasceu com a ideia de que era importante poder parar e discutir, conversar um pouco com os professores, pessoas vindas das mais diversas partes do país, do mundo, que estavam participando da Mostratec. Importante parar e escutar um pouco o que cada um vivencia nos locais de onde vem. […] Nesse SIET (o 7º), nós vínhamos de uma caminhada de Fundação Liberato com uma ideia de escutar um pouco mais os professores, as experiências pedagógicas, as vivências, um pouco mais essa linha […] E com a ideia também que era importante que os alunos pudessem participar. Abrir espaço para os alunos fazerem inscrição, organizar uma logística para que eles pudessem participar, porque nesse momento a Mostratec ocorria aqui na Liberato, mas o Seminário acontecia na Feevale. Pensamos em como levar os alunos para que eles também pudessem escutar esses palestrantes que estavam sendo contatados. E também para que acontecesse uma integração entre os alunos da Liberato e os que vinham de fora. Também tivemos a participação do governador do estado, na época o Olívio. Isso mostrava um prestígio que estava sendo construído.

Mirela Stoll
Supervisora pedagógica no Curso de Eletrônica
Comissão Organizadora do SIET
Fundação Liberato

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