Hábitos de leitura: diferentes gerações e suas relações entre as leituras em telas e as leituras em papel

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Os hábitos de leitura da população brasileira são continuamente influenciados pelo desenvolvimento de novas tecnologias digitais de informação e comunicação. Periodicamente, o Instituto Pró-Livro (IPL) coordena a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, cuja 5ª e última edição foi realizada em 2019 e apresentada em 2020. Entre os objetivos da pesquisa, destacam-se o levantamento das condições de leitura e de acesso ao livro (impresso e digital) e a identificação dos hábitos de leitura da população brasileira.

A pesquisa apontou que 67% das pessoas entrevistadas preferem a leitura de livros impressos, enquanto 17% preferem a leitura de livros digitais (os demais 16% indicaram que tanto faz, que usam ambos os formatos e sem preferência por algum deles).

Um dos recortes desse levantamento foi a observação do contexto relacionado ao hábito de leituras em outros suportes além do impresso. Nesse aspecto, os resultados indicaram que as atividades de leitura mais realizadas na internet são de notícias e informações gerais (78%) e de temas de próprio interesse (76%). Na sequência, foram apontadas as leituras de estudo e pesquisa escolar (53%), de livros (40%), de jornais (37%) e de revistas (28%). À época, 56% das pessoas entrevistadas declararam que nunca haviam ouvido falar de livros digitais, ao passo que 37% afirmaram que já haviam lido nesse suporte. Os dados demonstraram que a predominância da leitura de livros digitais em relação a livros impressos dá-se entre pessoas mais jovens, principalmente na faixa entre 18 e 24 anos (64%). A leitura de livros digitais é realizada, predominantemente, por meio de celular ou smartphone (73%); a pesquisa também apontou as tendências de aumento no uso de celular e de redução no uso de outros dispositivos para leitura em suporte digital (computadores, tablets, iPads, leitores digitais como o Kindle).

Os hábitos de leitura de diferentes gerações e suas relações entre as leituras em telas e as leituras em papel surgiram como pautas específicas indicadas e escolhidas pela comissão editorial da Expressão Digital para produção de uma reportagem especial nesta edição. Foi contatado um grupo com dez pessoas, com representação igualitária de gênero e de faixa etária (jovens estudantes da Fundação Liberato e pessoas adultas), das quais sete apresentaram suas contribuições a partir das seguintes questões:

ED: Tens, por hábito, realizares leituras em suporte digital (tela), em suporte impresso (papel) ou em ambos? Quais tipos de textos costumas ler nesses suportes?

Nícolas Ferreira (20 anos), aluno do curso técnico de Eletrônica, embora costume ler textos de Filosofia, afirma não possuir o hábito da leitura, mas comenta que, eventualmente, quando decide ler, normalmente o faz por meio de uma tela.

Samuel de Vasconcellos Pereira (19 anos), aluno do curso técnico de Eletrotécnica, costuma ler em ambos os suportes. Leitor apreciador de contos (especialmente narrativas fantásticas, de suspense e de horror), também se interessa por obras sobre Filosofia e outras áreas acadêmicas, para escapar um pouco, conforme diz, das leituras de artigos científicos que devem ser realizadas a cada projeto de pesquisa novo. No entanto, ultimamente, tem coletado algumas obras que deseja ler, principalmente narrativas literárias mais longas, como romances, porque sente ter perdido a oportunidade de conhecê-las, por conta do ensino técnico e da pandemia.

Beatriz da Silva Ribeiro (16 anos), aluna do curso técnico de Química, também lê em ambos os suportes e costuma ler obras ficcionais, em plataformas digitais, como o próprio Google Livros, e também em livros físicos.

Júlia Brandelero Labres (18 anos), aluna do curso técnico de Química e instrutora de Língua Inglesa, declara já estar habituada a ler textos em ambos os suportes. Porém, quando lê livros, prioriza o formato impresso. Já para a leitura de artigos, crônicas e reportagens, opta, frequentemente, pela leitura em telas.

André Luís Viegas (43 anos), professor de Química na Fundação Liberato, comenta que lê muito em telas, como parte de seu trabalho docente, o qual envolve atividades como organização de apresentações, preparação de materiais de aula, e-mails e demais rotinas da escola que migraram para o formato digital. Embora prefira o jornal impresso, é assinante de um portal de notícias, concessão feita por comodidade, custo e racionalidade no uso de papel. Já no que se refere a leituras mais longas, seja de algum assunto técnico a estudar, seja de entretenimento, mantém preferência pelos livros impressos.

Rodrigo Vieira Fagundes (38 anos), editor de livros e assessor editorial da PUB Editorial, costuma ler em ambos os suportes, tanto digital quanto impresso. Em seu trabalho editorial, a leitura em tela é predominante, especialmente de originais em Word, além de provas impressas que simulam o formato final do livro, conhecidas, no meio editorial, como “bonecos”. Para lazer e estudo, utiliza tanto livros impressos quanto dispositivos como o Kindle. Enquanto leitor de Literatura, tem predileção especial pelos gêneros narrativos conto e romance.

Daiana Campani (42 anos), professora de Língua Portuguesa, doutora em Linguística Aplicada e pesquisadora sobre a escrita digital, também costuma realizar leituras tanto de textos digitais quanto de textos impressos; contudo, as faz com interesses diferentes. Para a leitura de obras literárias ou sobre assuntos mais relacionados à sua profissão, as quais serão fontes de consulta permanente, sempre que possível, compra livros em formato físico. Confessa que adora grifar textos com canetas marca-texto, colocar post-its e fazer anotações. Porém, quando o assunto é mais técnico, para uma consulta pontual, usa bibliotecas digitais ou artigos científicos disponíveis em formato on-line.

Em geral, tens preferência pela leitura em suporte digital (tela) ou em suporte impresso (papel)? Quais vantagens reconheces na leitura no suporte preferido? Quais desvantagens observas na leitura no suporte não preferido?

O estudante Nícolas Ferreira tem preferência pela leitura de obras em suporte impresso. Nela, as distrações são mínimas e, desde que o leitor se comprometa, a leitura fluirá melhor. Pessoalmente, considera que a leitura em uma tela é sempre distrativa e não flui bem, principalmente se é em um celular. O aluno comenta que, no computador, consegue aproveitar melhor a leitura, e não pensa em adquirir um Kindle.

O estudante Samuel Pereira declara que, geralmente, prefere ler no papel. Explica que isso se deve ao fato de que seus olhos cansam ao ler nas telas, principalmente quando está em deslocamento por trem ou algo do tipo. Como tem labirintite leve, frequentemente se sente cansado quando realiza leituras digitais. Contudo, acredita que a acessibilidade dos materiais digitais contribui muito mais para a leitura de diversos livros do que os materiais impressos, principalmente para leituras simultâneas de vários textos. Para ele, a desvantagem do suporte digital, para além de enxaquecas e enjoos, são as distrações; então, geralmente, silencia seu celular para entrar em uma completa imersão na leitura.

A estudante Beatriz Ribeiro também prefere ler em suporte impresso, pois ao ter o livro consigo, pode marcar algum trecho, folhear etc. Não costuma ler digitalmente, pois prefere esse contato com o livro do que a dependência de celular (ou outro meio eletrônico) para ter disponibilidade à leitura.

Como os demais jovens estudantes aqui entrevistados, Júlia Labres declara que tem preferência pela leitura em papel, a qual considera mais prazerosa e, também, não tão cansativa para a visão. O lado sensorial (textura do papel, cores impressas, cheiro de livro) é bastante valioso para ela. No entanto, também lê textos em formato digital e reconhece que, nessa modalidade, os textos costumam ser mais acessíveis (a qualquer hora, em qualquer lugar e, em geral, sem custos).

O professor André Viegas afirma que mantém sua preferência pela leitura em suporte impresso, pois a considera uma experiência sensorial mais completa: o tato ao folhear as páginas, o cheiro, o formato, a existência do conteúdo em um formato físico são aspectos que lhe atraem bastante. Quase como contramovimento, revela que tem preferido retornar à biblioteca pública para retirada de livros, em vez de buscar um dispositivo digital de leitura, como o Kindle. Comenta que a experiência de estar fisicamente em uma biblioteca, de dedicar um tempo para buscar títulos e pedir sugestões é, para ele, muito representativa. O docente aponta a possibilidade de desconexão com o mundo exterior como uma grande vantagem da leitura em suporte impresso, pois a única urgência passa a ser o contato com o conteúdo. Comenta que, assim, até percebe o passar do tempo em um ritmo mais lento. Ao dizer isso, pontua que já expressa, também, as desvantagens que percebe no formato digital: a dificuldade de manter a concentração em níveis mais aprofundados e a constante possibilidade de algo de menor importância (como notificações) conduzir o leitor a se distrair e perder o aprofundamento no tema da leitura. No caso dos Kindles e similares, pensa que, talvez, esse aspecto não seja importante. Entretanto, argumenta que a perda sensitiva acontece, já que a leitura fica reduzida a uma “imitação” das páginas impressas.
O editor Rodrigo Fagundes aprecia ambos os formatos. No suporte digital, valoriza o conforto de poder ajustar a configuração da leitura, como layout, fontes, espaçamentos e luminosidade, o que, em sua opinião, torna a experiência mais personalizada e agradável. No suporte impresso, aprecia os projetos gráficos e a sensação tátil do livro. Conforme ele, a principal desvantagem do formato digital é a ausência das características sensoriais e materiais do livro impresso, enquanto a do formato impresso é a falta dos recursos configuráveis que o livro eletrônico oferece.

Em seus estudos na área da Linguística, a professora Daiana tem um interesse grande pela escrita digital, mas confessa que, como leitora, prefere o livro impresso. Segundo ela, precisamos pensar que a leitura nos modos on-line e off-line têm suas potencialidades e seus desafios; entende, assim, que não se trata de dizer se é “melhor” ou “pior”, pois isso é uma decisão muito pessoal. A docente acredita ser muito válido refletirmos sobre as diferenças que estão em jogo. Em sua opinião, a modalidade on-line traz vantagens importantes como a praticidade, a acessibilidade, o preço e a relação com a sustentabilidade. Ademais, quando se quer localizar um trecho específico em uma obra, fica muito mais fácil encontrá-lo. Daiana ressalta, também, que ao pensarmos em pessoas disléxicas, por exemplo, se elas puderem aumentar a fonte ou espaçamento entre as palavras, isso pode ser muito bom. Destaca, ainda, que um texto digital disponível na internet traz características importantes que precisam ser levadas em consideração e menciona os estudos de Marie-Anne Paveau, uma linguista francesa cuja obra embasa suas pesquisas, a qual afirma que, em textos digitais, há características importantes como a composição (elementos linguísticos e tecnológicos ao mesmo tempo), a deslinearização (em um clique, se está em outro texto) , a imprevisibilidade (nunca se sabe onde um texto pode parar), a investigabilidade (as ferramentas de busca e de ajuda), a relacionalidade (textos estão em rede) e a ampliação (possibilidade de inserir comentários, de escrever concomitantemente com outra pessoa). A professora destaca que isso tudo precisa ser pensado e explica que Paveau chega a usar o termo “escrileitor”, pois, ao escolher clicar (ou não), compartilhar (ou não), comentar (ou não) em um texto, o leitor ou a leitora auxilia (ou não) a construção de uma escrita, em uma verdadeira “excursão hipertextual”. Já em relação à leitura em suporte impresso, Daiana acredita que pode ajudar a termos uma experiência mais concentrada, já que fica mais fácil evitar distrações, como notificações do celular. Também destaca a experiência sensorial (sentir a textura das páginas, o relevo de uma capa, o cheiro do papel, pintar trechos e anotar). Ressalta, também, que muitas pessoas gostam de colecionar livros e usá-los, inclusive, como objetos de decoração. Livros com dedicatórias e autógrafos de suas autoras ou seus autores também são muito apreciados, e isso não tem no livro digital. Muitos livros impressos até mesmo se tornam relíquias. Ela revela que, recentemente, ganhou um livro de poemas como presente de uma querida amiga e que não sentiria o mesmo encanto e emoção, se o presente fosse um livro digital.

Como avalias o uso de ambos os suportes de leitura por pessoas de tua geração?

Em sua geração de jovens leitores, conforme Nícolas Ferreira, aquelas e aqueles que, efetivamente, encontram uma fluidez maior na leitura digital devem e irão se beneficiar disso. Aquelas e aqueles que percebem que ler em uma tela é prejudicial, ou que não rende tão bem, por sua vez, irão procurar outras maneiras de ler. Para o jovem estudante, está tudo bem em se descartar determinados métodos e adotar outros, desde que as pessoas busquem e alcancem um maior aproveitamento na leitura, de acordo com seu próprio ritmo de aprendizado.

Samuel Pereira percebe que a maioria dos jovens lê materiais digitais devido à acessibilidade. No entanto, revela que lhe surpreende que, na diversidade de materiais lidos, poucas pessoas se aventuram pelos clássicos. O jovem estudante reconhece que é um fruto do seu tempo e comenta que, tardiamente, percebeu a qualidade de escritores como Machado de Assis. De acordo com ele, as pessoas de sua geração estão aprisionadas em suas bolhas individuais e, assim, os interesses pela leitura são, também, muito individuais e muito “nichados”. Samuel opina que, hoje em dia, é possível que uma autora ou um autor seja muito famoso em um meio e completamente desconhecido pelo restante da sociedade, e que não há mais uma autora ou um autor que todos conheçam. Diz acreditar que um dos problemas de sua geração é o desinteresse pela leitura desses grandiosos escritores e escritoras e complementa com uma crítica às instituições escolares na forma de ensinar Literatura. Em sua opinião, esses grandes autores e autoras devem ser revisitados para que leitoras e leitores estejam inseridos no mundo real, e não em uma bolha, pois isso os capacitaria ao exercício da interação social e impossibilitaria que algum estudante de Ensino Superior fosse um completo alienado.

Beatriz Ribeiro aponta que, hoje em dia, a maioria das pessoas de sua geração lê digitalmente, porque, de certa forma, é mais prático e mais fácil.

Júlia Labres afirma que, entre amigas, amigos e colegas que são da mesma geração que a sua, observa, cada vez mais, a opção pelo formato digital. Segundo ela, aplicativos para leitura e adaptação de livros digitais, bem como os aparelhos específicos para e-books (Kindles), estão em alta. Observa, também, como uma característica de sua geração, a opção por gêneros literários diferentes dos tradicionais. Quadrinhos, mangás, crônicas e poemas digitais atraem, principalmente, leitoras e leitores jovens.
Sobre sua geração de adultos leitores, André Viegas comenta que percebe que não está muito deslocado dos demais em relação à preferência pela leitura em suporte impresso. Observa que, embora muitos tenham aderido ao Kindle, a maior parte das pessoas que tem o hábito de leitura e com que troca ideias segue a preferir os livros impressos.

Em relação a essa mesma geração, de pessoas que têm em torno de 40 anos, Rodrigo Fagundes argumenta que é a geração que vivenciou a transição do mundo analógico para o digital. Segundo o editor, muitos ainda têm uma preferência pelo livro impresso devido à falta de letramento digital e, frequentemente, associam o livro digital a experiências de leitura em telas com materiais mal-editados. Apesar de terem acesso à tecnologia, muitos ainda veem a leitura digital como sinônimo de PDFs de fotocópias digitalizadas, de leitura sofrível, e evitam as experiências de leitura eletrônica. Além disso, continua Rodrigo, existe um certo receio infundado de que o suporte digital possa levar ao desaparecimento do livro impresso, o que intensifica o preconceito contra o formato digital. Na sua opinião, entretanto, os dois formatos se complementam, pois permitem leituras mais flexíveis e adaptadas às necessidades de cada situação.

Daiana Campani também destaca que sua geração vivenciou essa fase de transição. Menciona que é uma geração que utilizou a internet discada, que precisava ser usada de madrugada, para ser mais barato. Essa geração não cresceu com a leitura on-line. A docente comenta que, em sua época de faculdade, tinha que comprar polígrafos que se encontravam fotocopiados em uma loja, na universidade. Livros eram retirados na biblioteca ou comprados. Daiana comenta que, quando voltou a estudar, no doutorado, notou uma diferença significativa em relação à época da graduação e do mestrado. Revela que, em uma das primeiras disciplinas do doutorado, em que levou textos impressos para a aula, uma colega, bem mais jovem, lhe disse: “Daiana, tu não vais dar conta de imprimir tudo”. Assim foi. Na semana seguinte, comprou um tablet.

Como avalias o uso de ambos os suportes de leitura por pessoas de outras gerações?

Ao apresentar sua percepção sobre os hábitos de leitura de pessoas das gerações anteriores, Nícolas Ferreira comenta que elas costumam ler obras físicas, impressas, e assim o fazem porque aproveitam a leitura dessa forma. Afirma que nunca viu uma pessoa idosa a ler em um Kindle. Porém, declara não ter julgamento sobre isso, pois o que importa é que as pessoas leiam.

Já o jovem Samuel Pereira percebe que tudo se processa como uma mudança gradual. Cada vez mais, observa que pessoas das gerações anteriores aderem ao meio digital e acreditam que ele veio para ficar, mas deve, sim, ser regulamentado; por isso, em seu ponto de vista, o meio digital não deverá mais ser visto com tons reacionários de que “a tecnologia é o fim dos tempos”. Ao avaliar as gerações anteriores, afirma perceber que as pessoas adultas, com seus 45 e 50 anos, parecem bem instruídas e leitoras assíduas. Enquanto isso, comenta que se espanta com muitas pessoas adultas de 30 anos e também de 60 anos que parecem uma “poça rasa” quanto à leitura, as quais se afeiçoam por alucinações reacionárias, fascistas e conservadoras e acreditam em esquemas de conspiração e autores completamente malucos. Samuel comenta que, a cada vez que percebe um jovem próximo a sua idade a ler livros de autoajuda ou sobre finanças, uma parte de sua esperança morre, e isso se repete em algumas gerações anteriores. Preocupa-se com a possibilidade de que as gerações futuras venham a seguir esses mesmos passos de ignorância, de alienação e de completa imersão no meio digital que, segundo pensa, tem causado impactos negativos na aprendizagem. Porém, revela que toda vez que se pega a pensar nisso, desponta-lhe, também, um leve riso por pensar em tantos professores que criticaram a sua geração sem saber o que os aguarda no futuro.

Beatriz Ribeiro ratifica que a geração que mais consome a leitura digital é a sua (geração Z em diante), haja vista perceber que as pessoas das gerações anteriores mantêm o costume pela leitura em suportes impressos.

Júlia Labres declara que, nas ocasiões em que conversa sobre Literatura e leitura com pessoas de gerações anteriores à sua, percebe que se mantém a preferência pelo formato impresso, pelas modalidades consagradas de livro, revista, jornal… Destaca, porém, que isso não é uma regra: há pessoas com mais idade que se adaptaram bem ao uso de aplicativos e aparelhos para leitura digital. Entende que essas pessoas veem vantagens em poder concentrar suas leituras e administrá-las de maneira mais prática, e que, ao mesmo tempo, há quem reconheça que se sente melhor com a leitura em suporte impresso, mais conhecida e mais cômoda.

Ao comentar sobre sua percepção sobre os hábitos de leitura de pessoas das gerações posteriores, André Viegas declara que já abordou esse assunto, várias vezes, em sala de aula e, também, com familiares adolescentes. Entre os mais jovens que têm o hábito da leitura, afirma que segue com a impressão de que o formato impresso é o preferido, mas que o Kindle aparece como uma boa opção pelas suas comodidades, portabilidade etc. Entretanto, aponta que, mesmo entre os mais adeptos do Kindle com que conversou, parece haver uma hierarquia, com um entendimento de que alguns livros são escolhidos para serem lidos no formato impresso. André considera interessante essa mescla, vê essa possibilidade de escolha de suporte como algo positivo e pensa que o mais importante é que o hábito da leitura seja mantido e valorizado.

Rodrigo Fagundes argumenta que as gerações mais jovens, que cresceram em um ambiente digital, tendem a ser mais familiarizadas com formatos digitais. Essa familiaridade indica que aceitarão e utilizarão mais os livros digitais, embora o formato impresso continue a se mostrar insubstituível. Contudo, considera que, mesmo entre os mais jovens, ainda pode haver um certo preconceito, herdado das gerações anteriores, sobre a superioridade do formato impresso. Em sua opinião, é essencial entender que ambos os formatos podem coexistir, se complementar e oferecer o melhor de cada um, conforme a situação exigir.

Por fim, Daiana Campani afirma perceber que seus alunos leem bem mais no suporte digital do que as pessoas da sua geração, mas que também tem notado que eles têm um encanto grande pelo livro impresso. A professora afirma que nunca fez um levantamento oficial, mas arrisca dizer que eles preferem o suporte impresso. Ela explica que sempre realiza um trabalho de apresentação de algum livro, lido por livre escolha, em que as alunas e os alunos precisam fazer uma propaganda oral desse livro para sua turma. Nessas atividades, o fascínio pelas coleções e pelo formato impresso ainda é grande. Todavia, a professora constata que quando eles contam onde adquiriram os livros, a resposta, geralmente, é a mesma: no site X, Y ou Z.

Referências
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil: 5ª edição. São Paulo, 2020.

Elenilto Saldanha Damasceno - Editor Fundação Liberato

Elenilto Saldanha Damasceno
Editor e jornalista
Fundação Liberato

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