Leitura: instrumento de autonomia e pensamento crítico

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Conforme Marilena Chauí, tem se percebido estudantes com baixo nível de aprendizagem ao entrarem nas universidades, não sendo capazes de ler, ouvir e escrever, e essa culpa é jogada para o Ensino Médio precário e que não garante o direito da historicidade e criticidade aos estudantes.

Já dizia Bell Hooks, no texto O prazer da leitura, que o pai dela acreditava que aprender a ler e a ter pensamento crítico sobre o mundo em que vivemos era mais importante que uma formação superior, que diplomas. Para ela, a leitura é fundamental para um aprendizado genuíno, pois ler livros nos convida a imaginar e não nos deixa passivos. Quando o livro passou a incorporar a lógica econômica, a ser visto como mercadoria, menos livros passaram a ser lidos. A leitura deve ser um direito e uma necessidade para uma cidadania responsável; portanto, é fundamental o acesso a livros de forma pública. Também para os professores, é impossível sermos agentes adequados em nosso ambiente, cuidando de nós mesmos e do mundo, sem a habilidade de ler. Estudantes que não têm habilidade básica de leitura não conseguem aprender em sua capacidade total.

A leitura é fundamental para o desenvolvimento de conhecimentos na área em que atuo, a Filosofia, mas percebo que o seu hábito vai muito além dessa área. Quando se exerce a leitura, se pratica o exercício de paciência e descentramento. Analiso uma complexidade de fatores que envolvem a produção do texto, o que, por sua vez, gera uma crise, um conflito de interpretações, pois novas visões vão se opor às minhas concepções, levando à crítica e à troca de conhecimento. Isso conduz a uma ligação com o tempo, ou seja, como essa leitura e visão vão se inserir no meu tempo presente, o que posso levar disso.

Desde 2018, faço uma pesquisa com os estudantes de Ensino Médio com os quais atuo e que, no início do ano, estímulo, de forma direta e fortemente, a lerem não só livros de Filosofia, mas também livros que eles possam ler sem terem que prestar contas (testes ou avaliações) e que sejam do gosto deles, que lhes tragam prazer em ler. A ideia é ler ao menos dez livros por ano, conforme orientações da Organização das Nações Unidas (ONU), e que isso vá se incorporando como um hábito e possa se perpetuar em suas vidas.

Essa missão é um tanto desafiadora, principalmente num período em que os aparelhos tecnológicos, principalmente o celular, e os aplicativos atraem cada vez mais e dão respostas mais rápidas. Contudo, a crença de que a leitura faz os estudantes pensarem por conta própria e não serem somente um produto da mídia, ou seja, faz com que sejam capazes de avaliar criticamente sua interação com a tecnologia, que não pode ser proibida, me faz insistir na importância da leitura.

Alguns resultados corroboram com meus pressupostos. Durante esses cinco anos, apenas dois estudantes que leram dez livros ou mais tiveram reprovação, bem como as turmas que têm médias maiores de leitura têm um índice maior de aprovação.

Então, concluo que a leitura permite ampliar a perspectiva de compreensão, não só na área de Filosofia, mas também nas outras áreas, inclusive as técnicas, que, na sua maioria, são mais práticas. Claro que precisamos levar em conta que, se os alunos leem mais de dez livros, é porque, muitas vezes, já estão habituados ou têm um empenho maior no desenvolvimento do ensino e, por consequência, têm mais facilidade de desenvolvimento e não reprovação.

Referências

BELL HOOKS. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. Tradução de Bruno Libanio. São Paulo: Elefante, 2020.

CHAUÍ, Marilena. Em defesa da educação pública, gratuita e democrática. Organização de Homero Santiago. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2023.

UMBELINO, Luís António. Para que servem as Humanidades? Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – Erte Webinar. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xw-R9VfINZE>.

Vilson Joselito Schütz Professor de Filosofia Fundação Liberato

Vilson Joselito Schütz
Professor de Filosofia
Fundação Liberato

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