É um daqueles relacionamentos que conseguem sobrepor o tempo. Nos conhecemos desde que nasci. Ela estava por aí, só me esperando. Não é muito fiel, eu sei. Em muitas noites, não é só na minha porta que bate, bate na de muita gente, e não tem preferência por sexo, é completamente liberal. Homem ou mulher, tanto faz.
A gente está junto há tanto tempo que eu nem sequer sei quando foi a nossa primeira vez. Isso comprova que, para o homem, a primeira vez não é tão inesquecível assim. Mas sei de vários outros momentos em que ela esteve junto comigo e, como sempre, não foram momentos agradáveis. A filha da puta é terrível e não me larga. Queria eu poder ter forças de me livrar dela, mas ela é muito mais forte que eu. Muito. Parece uma criança birrenta, quanto mais você a quer longe, mais perto e grudada ela fica. É incompreensível.
E o relacionamento é um inferno. Cheio de pontos negativos e bem poucos positivos. Mas tenho que admitir que ela é um pouco sexy e é a minha musa inspiradora, até quando não é o foco, mas tem vezes que, por causa dela, eu consigo escrever algo, mesmo que para outro alguém. Ela não costuma ter ciúmes. A prova disso é que, normalmente, quando ela aparece, é falando de outra mulher, bem comum isso. Tons vermelhos no meio da madrugada pra me manter atento a tudo que ela quer, eu. É sempre assim, são momentos tumultuados e movimentados quando ela está presente. Eu não sei se eu sinto frio ou calor, alegria ou raiva, se penso ou fico burro, se abro ou fecho o olho. Completamente perdido nos meus próprios sentidos, é assim que ela consegue me deixar, quase que diariamente.
Admito que já senti isso por outras mulheres, inclusive, meu pensamento agora tem um único tom, mas quem está aqui, novamente, é ela. E insiste em ficar grudadinha comigo, na cama, saboreando esse meu desespero. E olha que hoje eu nem tomei café antes de me deitar. Maldita insônia.