Açúcar ou Adoçante?

Aceitei o café amargo por educação. Não queria ser antipático, afinal, eu era o visitante. A porta estava aberta. Entrei. Ninguém para me receber, apenas a garrafa térmica disposta, vulgarmente, sobre uma mesinha lateral, também, muito vulgar. Romântica a cena, no entanto. A sensação que tive foi a de um primeiro beijo de adolescente. A vida sem fim e o mundo todo a conquistar. Euforia, sim. Foi euforia de adolescente o que eu senti. Estranho, pois nada havia acontecido, ainda. Por alguns instantes esqueci, completamente, o objetivo de estar ali, naquele lugar úmido, abandonado, de cortinas velhas, porém alvas. A entrada do paraíso deve ser mais ou menos assim, envelhecida e alva. De repente, me senti intrusivo ao ter que decidir entre açúcar ou adoçante – tempos modernos contra a minha brasilidade. Um aperto no peito e… lágrimas, repentinamente, fecharam meus olhos. O passado, novamente, a me atormentar com a febril felicidade da adolescência. Esqueça…esqueça… pensei. Mas estava ali, só, no meio daquela saleta empoeirada e estranhamente romântica, com uma xícara de café na mão, sem poder decidir entre açúcar ou adoçante. A vontade foi jogar tudo para o alto e fugir. Como em Paris Texas. Para perseguir o quê? O café estava quente. O primeiro gole deixou registrado o amargor do adoçante. Por que decidi pelo adoçante? Que rumo dar à vida? Amargo ou doce? Um carro branco passou lentamente, desviando meus pensamentos. A atenção concentrou-se nos cabelos ruivos, longos, do motorista. A claridade parecia me atrair: as cortinas, o paraíso, o carro, os cabelos do condutor… Beleza. O que é? Algo me levara àquele lugar. O que teria sido? O café? O adoçante? O motorista? A vida? Por quê? Uma vontade imensa de chorar. De voltar ao ventre materno. Aquele mesmo nó na garganta nos finais dos filmes americanos. A tragédia dos filmes ingleses ou o escapismo loquaz dos franceses. Como falam! O que é a beleza? Onde ela está? Parece ter esquecido o nosso encontro. Fiquei ali e só, com uma xícara de café amargo na mão e a nostalgia do lugar a me fustigar. Até quando? Até quando?

Jorge Amaral – Professor de Língua Inglesa Fundação Liberato