O dia estava ensolarado e quente quando Pedro viu seu neto chegar à praça de Porto Alegre, onde haviam combinado de se encontrar. Fazia anos desde que Pedro não via Daniel, seu neto, e por isso fez de tudo para agradá-lo. Tinha feito um chimarrão e cedeu sua melhor cadeira para ele. Estava um tanto nervoso em rever o neto, mas, quando o viu se aproximando, acalmou-se. Logo que Daniel se aproximou, Pedro exclamou:
– Guri! Fazia tanto tempo desde que eu não o via! Ainda lembro quando era um traquinas. Olha para você hoje! Está um pão! Venha, vamos tomar um mate e prosear ou prefere pescocear?
Daniel (para a surpresa do avô) pareceu nem ouvi-lo. Estava entretido mexendo em um aparelhinho que fazia muitos sons e emitia várias luzes. Pedro murchou seu sorriso e ficou chocado ao ouvi-lo resmungar:
– Droga! Este cara roubou meu lugar na pontuação mundial. Estava fazendo meu melhor tempo e ele me matou. Que saco! Agora nem em mil anos que faço meu recorde de novo!
– Mas bah, tchê! – exclamou Pedro – Não teve tanto laço em você pelo jeito! Que desrespeito!
– Ah sim. Desculpe não cumprimentar o senhor, mas agora mesmo eu tinha feito meu melhor tempo e não sei como. Era um dos melhores classificados, mas fui morto por um atirador. Detesto eles.
– Sim, sim, um atirador. Bom, depois descubro o que é isso. Agora, vamos sentar e tomar um mate?
Após terem se acomodado e começado a tomar o chimarrão, os assuntos surgiram com dificuldades. Pedro (um tanto incomodado com o silêncio) começou a puxar assuntos para passar o tempo:
– Então, anda campeando muitas alemoas? Aposto que um pão como você deve achar muitos brotos!
Daniel, que se engasgou com o chimarrão, olhou para o seu avô e perguntou:
– Meu Deus, o que é “broto”? E por que você me chamou de pão?
Depois de uma longa risada, Pedro falou:
– Ora, pensei que essas gírias ainda eram usadas pelos jovens. Bom, “broto” significa mulher atraente e “pão” significa homem bonito. Enfim, o que você anda fazendo?
– Ah, honestamente eu estou preocupado com meu PC, que pegou um vírus e ainda por cima não consigo zerar meu jogo preferido.
– Um vírus, né? Sei…
Depois de várias tentativas de conversa sem sucesso, Daniel inventou um compromisso e, desculpando-se, disse que tinha que ir embora. O avô agradeceu a prazerosa tarde e deu um caloroso abraço em seu neto. Depois de vê-lo ir embora, arrumou suas coisas e ficou rindo consigo mesmo:
– Ah, e eu que pensei que ainda estava acompanhando a adolescência!
Oi Nícolas
Adorei teu texto que bem traduz os conflitos entre gerações. Dentro de nossa própria língua há várias formas de não entendimento. Que pena que a informatização global traga em seu bojo o afastamento da interação pessoal, tão necessária para manter os vínculos afetivos.
Boa sorte, Nícolas.!
Continue amando os livros e escrevendo !
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