O mundo de “Log Horizon”

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Light novel é uma palavra do inglês surgida a partir da combinação de novel, gênero de narrativa em prosa fictícia com certo grau de realismo, e light, que significa leve, usada pelo fato de essas histórias não passarem de algumas centenas de páginas. Bastante popular no Japão, esse tipo de literatura data da década de 70 e ganhou força ao longo dos anos, principalmente entre os públicos infanto-juvenis e jovens adultos.

Jogos eletrônicos também ganharam atenção nas últimas décadas, entre eles, o gênero de MMORPG. A sigla é a junção de outras duas, a primeira, MMO ou Massive Multiplayer Online, é usada para designar jogos que reúnem milhares de jogadores simultaneamente. Já a segunda, RPG, Role Playing Game, descreve jogos nos quais o jogador pode assumir o papel de um protagonista imerso em mundo definido. Um dos mais conhecidos jogos desse tipo é o World Of Warcraft, lançado em 2004 e que conta, atualmente, com mais de 10 milhões de jogadores assinantes.

Não é surpresa, dessa forma, que Light Novels e MMORPGs se encontrassem em uma única obra. Entre essas obras, está “Log Horizon”, uma série de light novels escrita por Mamare Touno, publicada a partir de 2011.  Originalmente escrita no formato web, em 2010, ela conta a história de 30 mil jogadores japoneses do MMORPG Elder Tales que foram transportados a um mundo igual ao do jogo, após logarem no dia do lançamento da 12ª expansão, Novasphere Pioneers.

A história de Mamare caracteriza-se por uma fortíssima temática de “homem vs natureza”, representada pelas dificuldades que os jogadores enfrentam ao entrar nesse novo mundo e ter que se adaptar a ele. Não são apenas aspectos culturais e sociais, como a forma pela qual as pessoas interagem e os códigos de conduta socialmente aceitos, que mudam. Até mesmo a lei natural mais básica, de que a morte é um caminho sem volta, torna-se falsa nessa nova realidade.

Esse abalo é bem explorado com um dos aspectos mais simples de nossas vidas: o ato de se alimentar. Quer sejamos alguém que come bastante ou come pouco, com paladar exigente ou não, o sabor das refeições que comemos é muito importante para nós. Prova disso é o quanto gastamos com comidas de baixo valor nutricional ou que podem fazer mal à saúde, se ingeridas em grandes quantidades. Agora, imagine o que aconteceria se toda a comida e bebida que ingerisse não tivessem quase que gosto algum. Carne assada, chocolate, peixe frito, tudo com gosto de bolacha rançosa. Mantenha essa situação por algumas semanas e o resultado é uma forte abstinência por comida com gosto real. E é nesse ponto em que a narrativa empregada em “Log Horizon” se mostra fascinante, pois pega um aspecto aparentemente insignificante, ou em que não se pensa muito, e transforma em algo essencial na vida dos personagens.

Além do choque mundo real x mundo de Elder Tales, existe outro choque muito forte, que é a mudança brusca de Elder Tales, que se joga sentado numa cadeira, sem contato físico propriamente dito, para um mundo “real”, em que todas as experiências são vívidas e intensas. Esse choque é explorado de forma bastante interessante com a questão dos NPCs (Non Playable Character, ou seja, criados pelo jogo), que se tornaram pessoas tão reais e complexas quanto os jogadores, porém com suas próprias virtudes, valores morais e cultura. Leva-se muito tempo para que os jogadores veteranos, mais acostumados com os NPCs como simples seres sem vida, a aceitá-los como humanos. E durante esse meio tempo, a história propõe várias questões: o que define um ser humano? São as emoções? A capacidade intelectual? A capacidade de desenvolver valores morais e culturais? Houve casos em que tais jogadores escravizaram NPCs sob a ideia de que não são pessoas. É de fato justo fazer isso? Deveriam essas pessoas ser punidas de forma igual a que seriam no mundo real?

Os NPCs, chamados no jogo de People of The Land (Pessoas da Terra), aliás, desempenham um importante papel no enredo de “Log Horizon”: são eles que representam a história e a cultura desse mundo e de seus habitantes, em contraste com os jogadores (chamados de Aventurers, Aventureiros, no jogo), que, basicamente, são a cultura estranha, alienígena. A história de dois volumes é quase que centrada na interação política, social e econômica entre as Pessoas da Terra e os jogadores, que, obviamente, continua relevante no restante da história.

Enfim, existem vários outros aspectos que se poderia descrever sobre como o mundo de “Log Horizon” é desenvolvido e os detalhes a que se dá atenção, mas esses aqui apresentados já dão uma boa noção disso. “Log Horizon” é uma ótima leitura para aqueles que adoram um mundo de ficção rico em detalhes e que têm a aventura como um gênero de interesse.

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Arthur Kassick Ferreira
Curso Técnico de Eletrônica

 

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