Neste ano de 2016, quando regressei ao trabalho e recebi as turmas de quartas séries dos cursos técnicos de Eletrônica e Eletrotécnica, elaborei um roteiro para a apresentação dos alunos. Desde os clássicos, como “nome, idade e cidade onde mora, estão também o último livro lido na escola e o livro que está lendo”. Deixo para o final a referência a um tema da atualidade que preocupe, indigne ou satisfaça.
Surpreendeu-me a diversidade temática apresentada pelos alunos. A maioria tocou em assuntos que preocupam. Raros indicaram satisfação com algum tema. Entre os temas mais frequentemente citados, estão a preocupação com a atual situação política, econômica e social do Brasil, o crescimento da violência e da criminalidade, a falta de segurança nas cidades brasileiras, a falta de consciência ambiental, o aumento do desemprego, o preconceito na sociedade, a intolerância crescente no mundo, o desrespeito à mulher, o feminismo, a revolução da internet, a liberdade nas redes sociais, o descaso dos políticos com o povo brasileiro, a corrupção, o terrorismo virtual, o Zika vírus e outras moléstias causadas pelo mosquito Aedes Aegypti, a energia sustentável, a tecnologia assistiva, os conflitos religiosos, o abuso de crianças e de mulheres, os protestos e as manifestações, a legalização da maconha, as Olimpíadas no Rio, a ameaça da volta da ditadura no Brasil…
Para que possamos ter uma ideia desse mosaico temático e do grau de preocupação dos jovens estudantes, selecionei alguns parágrafos escritos por eles e os apresento nesta edição da Revista Expressão Digital. Confira.
Objetificação do corpo da mulher
Apesar de faltar muito para alcançarmos uma verdadeira equidade entre os gêneros, o feminismo vem se destacando na sociedade em geral. Em diversos setores, as mulheres estão provando que podem (e devem) quebrar as barreiras da misoginia e serem quem elas bem entenderem. Mas falta estímulo, principalmente, da mídia. Recentemente, uma grande discussão tomou nossas redes sociais: mulheres podem ou não amamentar em público? Acontece que, principalmente no Brasil, essa discussão demonstra grande hipocrisia. Muitas das chamadas “musas do carnaval” mostram, durante o desfile, suas bem malhadas bundas, coxas e também seus peitos. E isso é dito natural. Nas propagandas, na televisão, em qualquer horário, é possível ver mulheres seminuas em uma exploração do corpo feminino para venda de produtos, enquanto uma mãe alimentando o filho é algo feio que merece repúdio. Nossa sociedade dita regras sobre o corpo das meninas e as ensina a se preservarem do assédio masculino ao invés de ensinar os homens a não assediá-las. As mulheres são tradicionalmente vistas como objetos decorativos e responsáveis pela violência que as aflige.
A ameaça da volta da ditadura militar no Brasil
Nos últimos tempos, vem se presenciando uma situação preocupante no Brasil: pessoas, em manifestações, pedindo a volta da ditadura militar, sendo que essa forma de governo já esteve à frente do país de 1964 a 1985 e trouxe tempos de autoritarismo, censura e tortura. O caráter conservador dos protestos contra o governo Dilma possui semelhanças com os atos da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorridos em 1964, em resposta a uma suposta ameaça comunista do governo de João Goulart, e que, juntamente com outros movimentos, colaboraram com a instalação da ditadura militar. Em momentos como o que se vive atualmente, toda cautela é necessária, já que está em jogo a democracia e os direitos de expressão. Quem pede o retorno da ditadura deve ter em mente que, se atingisse seu objetivo, não poderia mais expor livremente sua opinião. Deve-se aprender com a História para que isso não venha a se repetir.
A Corrupção na Política Brasileira
Não é novidade que o Brasil está passando por uma grave crise de corrupção. Basta ligarmos a tv, o rádio ou lermos o jornal para sermos informados sobre as investigações que envolvem lavagem de direito, propina, superfaturamentos, omissão de bens, etc. Infelizmente, os maiores envolvidos nisso são as pessoas que elegemos para exercerem o poder legislativo e o executivo do nosso país, e que deveriam nos representar, formulando leis e debatendo sobre questões que podem melhorar a qualidade de vida das pessoas que os colocaram onde estão. Muitos brasileiros permanecem frustrados e impotentes perante essa situação e têm perdido a esperança nos nossos políticos, acreditando que, apesar de apresentarem boa índole em suas propagandas eleitorais, ao ocuparem o Planalto e o Congresso passam a se preocupar apenas com seus interesses e, muitas vezes, acabam submergindo para o lado das pessoas envolvidas em esquemas de corrupção. A única perspectiva de mudança desse cenário é o nosso voto; por isso, é importante desenvolvermos nossa consciência política para confiarmos nosso voto em candidatos que nos representem e tratem esse assunto sem comodismo e com austeridade, fornecendo à população a expectativa de que pessoas comprometidas com a corrupção não passem impunes e que acontecimentos como este sejam cada vez menos frequentes dentro da política brasileira.
Criminalidade
A indústria criminal vem ganhando mais destaque a cada ano no Brasil, o que faz com que os brasileiros sintam-se cada vez menos seguros pelas ruas e, até mesmo, dentro de suas próprias residências. Seja durante o dia ou durante a noite, segundo dados estaduais, os criminosos provocam um (1) assassinato a cada meia hora em cada estado do Brasil, fazendo com que nosso país esteja em 11° lugar como o mais inseguro do mundo. Esses índices assustam não só os brasileiros, como também os turistas que planejam suas viagens para o Brasil. Os criminosos não estão apenas assaltando e recolhendo bens alheios, mas estão fazendo com que mais roubos venham seguidos de morte e fazendo, muitas vezes, com que os assassinatos não sejam resultado de nenhum antecedente de roubo. A partir desses e outros dados, as pessoas se perguntam até onde vai a liberdade de cada um.