RELATO – NOTÍCIAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA MOSTRATEC

Muitas são as pesquisas científicas realizadas todos os anos, com contribuições para as mais diversas áreas do conhecimento humano. Porém, na maioria das vezes, esse conhecimento fica restrito à academia e não chega ao público leigo. Para tentar mudar essa realidade e levar o conhecimento científico a um público não especialista, existem textos que se relacionam à área da divulgação científica, ou seja, à popularização da ciência na mídia. Notícias, reportagens e infográficos são exemplos de gêneros textuais que podem ser responsáveis por fazer circular essas ideias entre a população leiga. Revistas brasileiras como Superinteressante, Galileu Galilei e Mundo Estranho são publicações especializadas nesses gêneros.

Na MOSTRATEC — Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, promovida anualmente pela Fundação Liberato, jovens de várias partes do Brasil e do mundo apresentam suas pesquisas. Com o objetivo de fazer com que alunos da primeira série da Fundação se familiarizassem a esse universo da ciência, conhecessem trabalhos da Mostra e, ao mesmo tempo, ampliassem suas habilidades na área de produção textual, pensou-se em um trabalho com a produção textual de notícia de divulgação científica a partir de pesquisas da MOSTRATEC.

No ano de 2015, nas turmas 4111, 4112 e 4123, do Curso Técnico de Eletrônica, após a leitura e análise de notícias de divulgação científica, foi solicitado que, em grupos, os alunos visitassem a MOSTRATEC e escolhessem um trabalho para a produção do texto. Uma notícia, conforme Costa (2012, p. 179), é um relato de informações que “têm grande importância para a comunidade e o público leitor”. De acordo com o Manual da redação da Folha de São Paulo (2001), a notícia precisa responder a seis questões importantes que giram em torno de um fato: quem fez o quê, quando, como, onde e por quê. Possui ainda um título e pode apresentar subtítulo (ou “linha fina”), foto e legenda.

A notícia de divulgação científica possui essas mesmas características, porém o fato a que ela se refere é uma descoberta científica. Quem escreve não é o cientista, mas, sim, o jornalista, que tem o papel de entender a pesquisa e explicá-la a um público leigo. Isso não significa que os termos científicos e dados quantitativos não aparecerão, mas eles precisarão ser explicados ao público leitor, que não é um especialista na área.

Como fruto deste trabalho, apresentam-se três notícias de divulgação científica produzidas por alunos de 2015. A primeira, intitulada Respeito, finalmente, foi produzida por Felipe Drumm, turma 4123 de 2015. A segunda, Canela pode ser “remédio do futuro”?, é de autoria de Ana Carolina Torres e Bettina Löser Gehm, 4111, e a terceira, Um ponto final ao desperdício de energia elétrica, tem como autores Lucas Franck, Fabrício Rubo Machado e Jessé de Oliveira, também da 4111.

O trabalho possibilitou que os alunos se aproximassem do universo científico, visitassem a MOSTRATEC (até então desconhecida para alguns, já que os autores estavam em seu primeiro ano na Fundação Liberato) e realizassem um exercício de produção textual em que a habilidade de reflexão sobre o público a que se destinava o texto era exigida. Afinal, eles precisaram entender a pesquisa e adaptá-la ao gênero solicitado e a um público não especialista.

Daiana Campani Professora de Língua Portuguesa Curso Técnico de Eletrônica Fundação Liberato

Daiana Campani
Professora de Língua Portuguesa
Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato

 

 

RESPEITO, FINALMENTE?

Aluno da Fundação Liberato expõe trabalho sobre sistema de optimização de radares de trânsitos estáticos na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (MOSTRATEC)

 Pesquisador Rafael Zibetti ao lado do autor

Pesquisador Rafael Zibetti ao lado do autor

 

Estudante do Curso Técnico de Eletrônica da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, Rafael Hoffman Zibetti desenvolveu seu projeto sobre Sistema de Optimização de Radares de Trânsito (S.O.R.T.E). Para a realização do trabalho, o pesquisador afirmou ter se inspirado na frase de Robert Powell: “Se tiver o hábito de fazer as coisas com alegria, raramente encontrará situações difíceis”.

Em 2015, Rafael decidiu pesquisar uma solução para a quantidade enorme de acidentes em alta velocidade perto dos radares estáticos (que ficam parados). Rafael teve então a ideia de construir um radar que verificasse a velocidade média dos veículos em um determinado trecho e não só em um ponto, como são os radares de hoje. Ele decidiu criar um novo jeito de utilizar esses controladores, pois percebeu que, muitas vezes, os motoristas freavam somente a poucos metros dos radares e, logo que eles passavam, voltavam a acelerar. Para conseguir realizar seu projeto, ele utilizou câmeras de radares estáticos já existentes, pois afirma que elas são as melhores para qualquer condição de tempo.

O projeto de Rafael funciona por passos: o primeiro deles ocorre quando as fotos são tiradas das câmeras dos radares e depois são enviadas pelo Raspberry Pi através de  uma conexão a internet. “O Raspberry Pi é um minicomputador montado em uma placa de prototipagem, o que facilita quando se precisa de um computador em  um sistema e não é viável o uso de um desktop ou notebook”- explica Rafael. O segundo passo é quando as fotos, depois de enviadas, são processadas junto com o horário em que elas foram tiradas. Assim, depois que as duas fotos são tiradas, é calculada a velocidade média do veículo (Vm = d/t-to).

Rafael optou por utilizar no seu trabalho o HORÁRIO EPOCH, que expressa a data, a hora e os minutos em segundos. Esse horário está em funcionamento desde dia 1º de janeiro de 1970. Rafael disse que prefere usar o horário EPOCH mesmo ele sendo com números grandes, pois, para o computador, é mais fácil trabalhar com números inteiros, do que trabalhar com dia, hora, minuto e segundo.

Se o tempo em que o veículo levou para percorrer o trajeto for maior do que o estipulado, o veículo não irá receber multa, mas, se o tempo for menor, ele a receberá, pois significa que o veículo andou acima da velocidade permitida, o que fez com que ele percorresse mais rapidamente o trecho. Os dados dos veículos que levaram multas são armazenados em um banco de dados diferente do banco de dados dos veículos que não levaram multas.

Para Rafael, os resultados obtidos com esse projeto foram bons, pois pôde notar a eficiência do sistema como um todo. Ele afirma que dispositivos para qualquer fim estão com uma tendência cada vez mais forte de utilizar uma conexão de internet pra cumprir com seus objetivos. Além de utilizá-la para a transferência de dados, outra vantagem dessa conexão é a possibilidade de os radares serem colocados em rodovias com grandes percursos.

Felipe Drumm – 4123

 

CANELA PODE SER “REMÉDIO DO FUTURO”?

Estudante baiana pesquisou para comprovar atividade analgésica da especiaria

Anna Clara, no centro, em frente ao seu estande na MOSTRATEC

Anna Clara, no centro, em frente ao seu estande na MOSTRATEC

 

Cerca de 30% da população sofre com alguma dor, sendo ela crônica ou aguda. No tratamento destas dores, existem duas classes de medicamentos. Uma delas é a dos anti-inflamatórios não esterioidais (AINEs), entre os quais estão Ibuprofeno e Dipirona, ou seja, os remédios que costumamos adquirir na farmácia sem prescrição médica. A outra classe é a dos Opioides. Estes são os derivados do ópio, tendo como principal exemplo a morfina.

O problema com esses medicamentos é que, no caso dos AINEs, a reação deles com o nosso organismo pode causar problemas como gastrite, por exemplo. E a morfina exige que se ingira uma dose cada vez maior para que se obtenha o efeito inicial no paciente. Foi preocupada com esses danos provocados pelos remédios que a estudante Anna Clara Barbosa Santos, da Bahia, resolveu pesquisar sobre o assunto.

Onde Anna Clara mora, no interior do nordeste, a aluna do Instituto Federal Baiano aplicou questionários e pôde perceber que algumas pessoas que não têm acesso a medicamentos por questões financeiras ingerem o chá da canela para aliviar dores. Surgiu então a curiosidade: seria esse apenas mais um mito social ou realmente existe a atividade analgésica da canela? Não encontrando na literatura algo disponível sobre o assunto, Anna Clara viu a oportunidade de realizar essa pesquisa.

Em laboratório, foram testadas reações químicas e foi produzida uma molécula proveniente do óleo da canela.  Na fase de testes biológicos, a estudante pôde obter resultados em sua pesquisa a partir do espectro de infravermelho, aparelho que funciona da seguinte forma: coloca-se, dentro dele, a molécula a ser testada. São emitidas ondas eletromagnéticas que, ao incidirem na molécula, fazem-na vibrar. As vibrações são sentidas pelo aparelho que então as transmite para um computador a ele conectado, em forma de gráficos. Fica visualmente perceptível, analisando os gráficos, que as reações produzidas realmente aconteceram.

Após, iniciaram-se os testes com camundongos: os animais foram colocados em tubos fechados, com a cauda para o lado de fora. Tendo injetado o analgésico proveniente da canela no animal, coloca-se a cauda dele num recipiente com água a cerca de 50ºC (considerada uma temperatura que não irá agredir o camundongo). Com a ajuda de um cronômetro, controla-se o tempo que o animal irá suportar com a cauda na água quente. Colocando os dados em uma planilha, Anna Clara verificou que, enquanto a morfina apresentava atividade analgésica de apenas 37%, a molécula proveniente da canela atingiu um percentual de 80%.

“Hoje, mais do que nunca, faz-se necessário o investimento na produção de analgésicos provenientes de materiais naturais”, diz Anna, afirmando que os efeitos colaterais de remédios naturais não são nulos, mas muito menores do que os que são causados por medicamentos sintéticos. Além disso, os fármacos naturais são de custo menor e, portanto, mais acessíveis.

Ana Carolina Torres – 4111
Bettina Löser Gehm – 4111

 

UM PONTO FINAL AO DESPERDÍCIO DE ENERGIA ELÉTRICA

Estudantes de Pelotas criam sistema para controlar gasto de energia na escola

Os estudantes Samuel, Lucas, Jessé, Claus e Fabrício

Os estudantes Samuel, Lucas, Jessé, Claus e Fabrício

Os estudantes Claus Rodrigues Tessmann e Samuel Caled Blaas Wachholz, do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, desenvolveram um aparelho capaz de fazer a gestão do consumo de energia dos laboratórios da escola. O motivo que levou os estudantes a desenvolverem esse sistema foi o fato de que, diversas vezes, após o uso dos laboratórios da Instituição, os aparelhos permaneciam ligados mesmo quando não havia ninguém os utilizando, desperdiçando energia elétrica.

O projeto dos estudantes começou a ganhar forma no início de 2015, quando uma situação crítica ocorreu. Um condicionador de ar ficou ligado um final de semana inteiro devido a um esquecimento do último utilizador do laboratório e, depois, na hora de cobrar as despesas do responsável, ninguém se pronunciou; o famoso caso “ninguém foi e ninguém sabe quem foi”.

O Instituto onde ocorreu todo processo da pesquisa é um dos locais de captação de lixo eletrônico da cidade de Pelotas. O aparelho criado pelos alunos reutilizou componentes que iriam para o lixo, diminuindo drasticamente o custo de produção do projeto. Os pesquisadores contaram que nada foi desembolsado por eles. A soma dos componentes novos custeados pela Instituição não passou de dez reais.

O funcionamento desse sistema é baseado em cartões com código de barras. Cada usuário teria seu cartão próprio e um cadastro no sistema. Toda vez que alguém quisesse utilizar o laboratório, a pessoa deveria colocar o cartão no aparelho, o qual estaria localizado na entrada do laboratório. No momento em que um cartão é introduzido no aparelho, a energia é liberada para o laboratório respectivo e as informações do usuário seriam enviadas ao banco de dados da escola.

O aparelho é um sensor que identifica os usuários de acordo com uma sequência de linhas no cartão (semelhante a um código de barras), assim o acesso é registrado. Cada acesso, tempo de uso e o nome do usuário são armazenados e podem ser consultados futuramente a qualquer momento. Sempre quando as atividades no laboratório forem encerradas, o responsável deverá retirar seu cartão e fechar o laboratório. Caso algum problema for verificado posteriormente, o último usuário responsável será facilmente identificado no sistema da escola. A aparência do dispositivo é de uma caixa com um display e, sobre a caixa, há um suporte de cartões onde é feita a leitura do código.

Os alunos contaram como foi empolgante a pesquisa, a montagem e a execução do projeto. Afirmaram que pretendem colocar em uso o sistema na Instituição e, assim, tornar a escola um exemplo estadual nesse quesito. O preço para produção de novos exemplares com peças novas gira em torno de oitenta reais. Os alunos afirmaram que o preço é baixo considerando a quantia de energia economizada.

Lucas Franck, Fabrício Rubo Machado e Jessé de Oliveira – 4111.

 

REFERÊNCIAS:

COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

FOLHA DE SÃO PAULO. Manual da redação: Folha de São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2001.

 

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