Relato – EU E O OUTRO: OLHAR PARA FORA PARA PODER SE OLHAR MELHOR

EU E O OUTRO: OLHAR PARA FORA PARA PODER SE OLHAR MELHOR

As discussões sobre educação e cultura na busca pela diversidade do olhar

No final de 2015, aceitei o convite de coordenar o Eixo Educação, agora unido ao Eixo Cultura por acreditar que, no fazer pedagógico que envolve o ensino de técnicas necessárias para a formação de um profissional competente, há muitas questões culturais que merecem ser discutidas para que a escola possa cumprir o nobre papel de formar cidadãos críticos e solidários em relação ao mundo em que vivem.

A Fundação Liberato sempre trouxe em seu discurso a prerrogativa de que nossos alunos são educados, também, para o mundo, para a apreciação artística, para a solidariedade, para a humanização das relações. E isso é fato. É situação recorrente e visível nas diversas atividades extracurriculares que vêm sendo desenvolvidas ao longo desses quase cinquenta anos de existência. A questão que surge para valorizar ainda mais essas práticas, portanto, é pensar até que ponto a cultura, o “educar para ser” pode estar presente na prática diária em sala de aula, com perspectivas que vão além dos eventos já tradicionais e consagrados na escola.

Para contribuir nessa direção, a dinâmica dos encontros tem procurado dar conta de leituras cooperativas que buscam a provocação do grupo no sentido de retomar a importância da temática cultural na prática docente diária, temática esta que deve permear o fazer pedagógico, seja no discurso do professor, nos textos trazidos para a sala de aula, nas concepções que perpassam, inevitavelmente, o seu relacionamento com o aluno.

Destaco, aqui, duas leituras iniciais apresentadas ao grupo nas primeiras reuniões do Eixo Educação e  Cultura. A primeira delas, intitulada “Cultura e educação na sociedade contemporânea”¹, procura definir o contexto social e histórico no qual se inserem nossos alunos, retomando de forma especial os conceitos de patrimônio, arte e conhecimento, em um entrelaçamento de ideias que nos leva a pensar na importância de um trabalho em que se articulem esses três elementos. É na integração de diferentes manifestações culturais que se torna possível a construção de novos saberes e novas relações pessoais.

Nesse sentido, também surgiram contribuições, no debate que se desenvolveu, a respeito do preconceito, chaga ainda presente em nossa sociedade, oriundo do modo de enxergar o mundo sob nossa perspectiva, julgando ser a única correta. É importante que se apresentem aos jovens variadas manifestações culturais, diferentes valores sociais e formas distintas de relações humanas. Apenas conhecendo outras realidades é possível colocar em prova nosso respeito e tolerância em relação ao que é do outro.

O segundo texto² cuja leitura foi indicada diz respeito à necessidade de “sensibilizarmos o olhar” para que possamos, dessa forma, afinarmos, também, o que é tão caro aos humanos: o sentimento de comunhão e de sensibilidade com o que ocorre em torno de nós. Como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade, ter o “sentimento do mundo”. A autora, Débora Krische Leitão, ao justificar a inclusão do ensino da antropologia no currículo do Ensino Médio, além de considerar a pluraridade cultural como necessária para a “relativização do ponto de vista” do indivíduo, afirma que apenas  conhecendo o universo do outro, saindo do território familiar, é que conseguimos entender quem realmente  somos. É possível afirmar, pois, que a cultura é um dos pilares da construção do ser humano no mundo: construção de si mesmo e de seu mundo.

Como desafio, a tarefa do Eixo Educação e Cultura é motivadora e exige olhar crítico e aberto aos encontros e desencontros que podem acontecer nas discussões das diferentes ideias, dos diferentes modos de viver de que compartilhamos nas reuniões de quarta-feira. Penso ser esse o caminho que fortalecerá os princípios que já vêm conduzindo as atividades dentro de nossa escola.

Iris Lisboa Professora de Língua Portuguesa e Literatura Fundação Liberato

Iris Lisboa
Professora de Língua Portuguesa e Literatura
Fundação Liberato

 

 

¹ CARRARA, Ana Regina; CARVALHO, Maria do Carmo Brant de; LIMA, Thais. Cultura e educação na sociedade contemporânea. Disponível em: <http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/59> Acesso em 3 mar. 2016.

² LEITÃO, Débora Krische. A arte de sensibilizar o olhar. Disponível em: <http//www.feis.unesp.br>.  Acesso em 22 mar. 2016.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *