A história brasileira, infelizmente, desde seu descobrimento é marcada pela violência. Já na chegada dos primeiros colonizadores em nosso país houve uma ocupação do nosso território pelos portugueses, quando dizimaram a população autóctone, o que quase levou à sua completa extinção. Durante a nossa história, desde então, a sociedade brasileira sempre foi marcada por pequenos levantes e revoluções, tendo que conviver com a presença da violência. Atualmente, a violência está disseminada na sociedade, na qual educadores e estudantes não estão imunes. Esse problema vem ocorrendo com certa frequência nas escolas brasileiras, pois já não é de hoje que a violência vem se instalando nas escolas públicas, principalmente, em relação ao que se refere a alunos, professores e patrimônio escolar.
O tema violência em sala de aula é frequentemente relatado em pesquisas acadêmicas, embora, segundo a filósofa alemã Hannah Arendt, “faltam grandes estudos sobre o fenômeno da violência e tem-se, consequentemente, uma banalização do conceito”. E continua afirmando que “a violência se caracteriza por sua instrumentalidade, distinguindo-se do poder, do vigor, da força e, mesmo, da autoridade” (AREND, 1992, p. 40-1). Hannah Arendt enfoca o conceito de violência a partir da filosofia política e busca entender o fenômeno em sua complexidade e amplitude. Também o autor francês Jean-Pierre Bonafé-Schmitt reflete sobre o tema, quando afirma que “não devemos generalizar ou ampliar demais a conceituação de violência, pois o conceito reúne agressão física, extorsão, vandalismo, incivilidades tipo: xingamentos, linguagem rude, empurra-empurra e humilhação” (DEBARBIEUX, BLAYA, 2002, p. 61). Compreende-se, portanto, através desses dois autores, que o conceito de violência é bastante amplo.
Uma maneira de verificar a questão da violência escolar é através de depoimentos dos próprios educadores sobre o tema. Nesses relatos, foram destacadas algumas questões, como: autoritarismo nas escolas, a ação da polícia, a falha no sistema de ensino e a desvalorização do professor. Quando o educador sofre violência, sendo esta física, moral, simbólica ou psicológica, ele, geralmente, procura a direção da escola, mas, muitas vezes, é mal interpretado pelos diretores e coordenadores, isso quando não há uma completa omissão.
A violência na escola tem sido um assunto recorrente no noticiário e na comunidade escolar. O tema é polêmico e, por ser complexo, todos têm uma opinião ou solução pronta, mas sabemos também que a escola é um reflexo da violência que ocorre na sociedade. Segundo um estudo do Sindicato dos Professores do Ensino Privado – SINPRO/RS (FARIAS, 2007), baseado em dados da Secretaria da Educação de Canoas, a violência na sala de aula tem aumentado na mesma proporção em que o professor perde autoridade perante os alunos. O professor não tem mais o respaldo da sociedade (pais e legislação) para atuar de maneira mais rígida com os alunos, e isso se dá, devido a diversos fatores, como: remuneração inadequada; má qualificação para a atividade docente; salários defasados há anos, limitando a busca dos professores por uma melhor qualificação; professores preocupados com seus interesses pessoais e não com o aprendizado de seus alunos. O estudo segue aponta ainda que, cada vez mais em escolas, tanto particulares quanto públicas, invariavelmente, ocorrem pressões das administrações para o aluno não vir a reprovar, corrompendo a relação professor-aluno; existem instituições mal-intencionadas que escondem esse tipo de problema para não terem médias gerais com baixo índice de aprovação, velando resultados e deixando, assim, o problema nas mãos dos docentes; escolas e universidades tornando-se cada vez mais empresas, onde precisam de lucros para sobreviver neste mundo capitalista e globalizado; e políticas públicas fracas voltadas para crianças e adolescentes perante a violência generalizada da sociedade.
Todos esses fatores identificados pelo estudo do Sindicato dos Professores do Ensino Privado contribuem para o total descaso com o lado mais humano da atividade docente, já que os salários são baixos, há pouco reconhecimento da sociedade e há precariedade de investimentos na área, tornando o serviço mais difícil e ocasiona a perda de interesse pela profissão.
Por outro lado, porém, é verdade que a sociedade está muito mais exposta à violência. A violência sempre existiu, mas o que mudou foi o acesso das pessoas a esse tipo de informação, pois, com a mídia noticiando casos a todo instante, tem-se a sensação de um mundo muito mais violento e, por sua vez, os governantes fazem pouco caso do problema, pois utilizam-se da mesma sistemática de solução de outros assuntos para tratar o tema, assim, conserta-se sempre o que é mais visível, deixando assuntos mais difíceis que requerem muito esforço para depois.
Os pais dos alunos também demonstram pouco interesse nas atividades da escola e no acompanhamento de seus filhos, pois acreditam que a escola é a responsável direta pela modelagem da personalidade de uma criança. Alguns pais até colocam toda a responsabilidade de criação e controle das crianças e adolescentes sobre a tutela da instituição de ensino, que, na verdade, não tem nenhuma autoridade e competência para a finalidade de criação do ser humano. Projetos de leis e o próprio Estatuto da Criança e Adolescente são interpretados de maneira superficial e pouco eficaz pelas autoridades.
Devido a pais “desatentos” com as informações que chegam dos meios de comunicação, como: músicas, games, filmes, noticiários, sites, etc., a violência passou a ser mais explícita, sexual e sádica, tendo influência sobre as crianças. O estado de indiferença e insensibilidade está associado a um modelo político-econômico em que tudo é descartável, dos bens de consumo aos bens de sustento. Essa discussão não deve ficar somente a cargo da escola, mas também de outras instituições sociais, que têm a responsabilidade com a educação de um país. As leis estão muito flexíveis, nas escolas a violência pode ser sentida na depredação do patrimônio, nas mesas e cadeiras quebradas e riscadas com líquido corretivo, muros pichados, evocação às drogas, agressões a professores, dentre outras.
No que tange aos educadores, a desconstituição da sua autoridade e as atividades de trabalho sem remuneração são os principais constrangimentos presentes no cotidiano docente, além da ingerência na avaliação dos alunos e na ação pedagógica. A violência na escola, embora tenha sua especificidade, não se resolverá de forma plena enquanto, no mundo, os bens materiais valerem cada vez mais e as pessoas cada vez menos. O Ser deve ter prioridade em relação ao Ter.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e a crise da autoridade docente. Cadernos CEDES, Campinas, v. 19, n. 47, dez. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0101-32621998000400002&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 set. 2012.
ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. São Paulo, Perspectiva, 1992.
DEBARBIEUX, Eric; BLAYA, Catherine. [Orgs.] Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília, UNESCO, 2002. 268 p. Disponível em: http://www.cepib.org/_upimgs/arquivos/arq4d8cc8d10ca33.pdf>. Acesso em: 19 set. 2012.
FARIAS, Cecília. Violência Contra o Professor. Revista Textual (SINPRO-RS), Porto Alegre, v. 01, n. 9, out. 2007, p. 22-27. Disponível em: <http://www.sinpro-rs.org.br/textual/out07/Revista%20Textua%20outubro2007.pdf>. Acesso em: 19 set. 2012.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007.