EM UMA CERTA VISITA DO VOLUNTARIADO

“Mas irônico mesmo é pensar que a gente vai lá como doador e sai como recebedor.”

Nós não sabíamos exatamente o que esperar daquela visita a pessoas com deficiência mental na Casa de Repouso Nossa Senhora da Conceição, em Cachoeirinha – RS, no dia 30 de maio de 2016. Tínhamos certos pressentimentos e algumas expectativas. Mas, ao conversar com uma das moradoras, sentimos uma empolgação tão grande, porque ela estava ali, confiando em nós e precisava que alguém a escutasse. E nós estávamos dispostos a escutá-la!

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A emoção foi forte, nós só fazíamos olhar para ela com um sorriso no rosto. Lembramos que não conseguíamos desviar o foco, apesar das insistentes sombras que passavam ao nosso lado.

Sem dúvidas, foi um dos momentos mais felizes que vivemos. Foi um dia em que aprendemos a amar mais um pouco. Sentimos muito amor. Sentimos amor por pessoas que conhecíamos há menos de uma tarde. E isso não tem preço; deixou um calorzinho muito grande no nosso coração.

Achamos curioso um velhinho que estava lá e cantou umas 300 vezes Raul Seixas (e cantou muito bem!). Ele entoava: “Enquanto você se esforça para ser um sujeito normal / e fazer tuuudo igual./ Eu do meu lado, aprendendo a ser louco / maluco total/ na loucura real (…) /VOUU FICAAR, FICAR COM CERTEZA, MALUCO BELEZAA”. Pense bem, foi uma coisa tão simples (e meio irônica, sem deboche), mas nos fez pensar TANTO: “Poxa, a gente se esforça para ser sempre melhor, estar à frente de todo mundo, ser um ‘sujeito normal’, e a gente acaba não pensando nas outras pessoas.” Isso é tão triste, porque tira a cor do mundo. Que bom que ganhamos cores lá!

Sabemos que as coisas melhoraram no Lar, mas queríamos mesmo que elas realmente estivessem bem; não menos piores. Não bastasse o abandono familiar, as condições precárias do lar são de dar arrepios e não é só culpa da umidade e do frio dos cômodos. É difícil o sentimento que brota em nós, ao nos colocarmos no lugar dos residentes, que não teriam mais condições físicas, nem emocionais para passar por aquilo. São pessoas que possuem marcas de guerra, de uma vida sofrida.

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Mas irônico mesmo é pensar que a gente vai lá como doador e sai como recebedor. Lindo ver o carinho durante a recepção a tantos jovens. E, a par da precariedade em que vivem, demonstram desapego de seu mínimo conforto, oferecendo, mais que depressa, uma cadeira ou um espaço num banco para nos sentarmos, enquanto, alegremente, ouvem músicas e cantam conosco canções de seus tempos.

Cada um do seu jeitinho, faceiro ou mais fechado, demonstrava gostar da nossa presença e buscava chamar a atenção a todo o instante. Mesmo os mais tímidos se empenhavam em superar suas barreiras e interagir conosco. Ficamos totalmente rendidos ao carinho daquelas pessoas, e entendemos que, assim como a comida alimenta nosso corpo, a solidariedade alimenta nossa alma, e não há nada melhor do que isso.
Percebemos que fazemos a diferença na vida dessas pessoas, que sempre se despedem de nós com um “Vamos esperar vocês!” E já com saudade, a gente tem certeza de que vai voltar.

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Agora, sim, o receio de acompanhar uma ação do Voluntariado se foi! Nós nos perguntávamos se saberíamos como nos portar em uma visita, o que deveríamos falar… Mas, quando chega a hora, pode ter certeza, você saberá o que fazer! E conseguimos porque aprendemos com as histórias que escutamos, com cada sorriso, com cada abraço.

O processo é tão transformador que, quando nos retiramos desse momento, a emoção nos invadiu, sentíamos isso, e pensávamos: como nos entregar a esse momento? Só sorríamos, porque não tínhamos mais o que fazer… Na verdade, tínhamos! Saímos e fomos cumprimentar e abraçar outros idosos.

Sabe, quando se encerrar o ciclo de estudos aqui na Liberato, veremos mais claramente, que uma das melhores coisas que a Escola nos proporcionou foi a oportunidade de trazer um pouco de alegria para pessoas tão especiais. Atitudes como esta, além de nos revigorarem a alma, fazem-nos rever (pré)conceitos e repensar nosso protagonismo na busca de um mundo melhor. As vivências propiciadas pela participação no Voluntariado da Liberato são grandes lições de vida que recebemos e devemos isso ao Voluntariado! Tais experiências nos deixam mais sensíveis ao próximo, permitindo tirarmos o foco do nosso próprio umbigo e olharmos para as outras pessoas. Isso transforma nossa percepção quanto a um futuro de mais saúde, justiça e felicidade para todos os seres.

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* Este texto constitui-se na primeira experiência de criação de escrita coletiva, por parte dos alunos integrantes da Comissão de Voluntariado Liberato.

Aluno(a)s Autore(a)s: Eduarda Alves, Fernanda Frolich, Gabriel Schmitt, Giovana Moreira, Leandro Schabarum, Leonardo Kremer, Letícia Pereira, Lorena Toniolo Zampetti.

Coordenadora: Carla Casagrande (Bibliotecária e integrante da Comissão de Voluntariado).

Fotos: Juvan Silveira de Souza (pai da Giovana Moreira).

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