O dia do Empreendedorismo é uma atividade promovida na Fundação Liberato pela disciplina de Gestão e Empreendedorismo. Na edição de 2016, que ocorreu em seis de junho, participaram turmas de quarto ano dos cursos da escola. Houve dois momentos: um, com o economista Carlos Paiva, e outro, em que três painelistas apresentaram suas experiências de empreendedorismo, das quais uma foi na área cultural, outra na área de informática, e uma terceira, na área de química. Assim, os estudantes puderam ter visão teórica e visão prática do tema.
A disciplina de Língua Portuguesa, no quarto ano do curso de Química, somou-se a essa atividade, na medida em que os alunos participaram dela nesse horário de aula, desenvolvendo, após assistir às palestras, produção de texto que se constituiu de uma resenha. Dessa forma, além da aprendizagem própria da disciplina promotora da atividade, o exercício na forma de produção do texto em questão proporcionou que os conteúdos apresentados pudessem ser efetivamente assimilados, uma vez que seria necessário reorganizá-los, posicionando-se criticamente a partir do que foi transmitido pelos palestrantes. Da mesma forma, ao retomar o trabalho em aula, percebeu-se que o conjunto dos textos proporcionou boa visão do que foi apresentado. Foram, então, selecionados dois textos com o intuito de compartilhar aquilo que foi abordado nesse dia. Desses textos, um, da turma 1423, aborda a palestra e o outro, da turma 1411, aborda as experiências práticas.
Análises econômicas
A fim de trazer aos alunos da Fundação Liberato uma experiência relacionada ao dia do empreendedorismo – terceiro comemorado na escola – que facilitasse a compreensão do cenário atual do país, o professor de economia da FACCAT e integrante da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, Carlos Paiva, foi convidado para proferir uma palestra cujo assunto era “O contexto estrutural e conjuntural da economia política brasileira e seus reflexos em desafios e oportunidades para as principais cadeias produtivas do RS”.
Carlos iniciou ressaltando que qualquer empreendedor que deseja ingressar no mercado deve avaliá-lo antes de determinar a área em que atuará, pois a maioria dos setores que absorvem empreendedores, como os serviços em geral, depende amplamente do mercado local. É necessário perceber que o cenário de consumo já está estruturado e a demanda pelos produtos não aumentará pelo simples fato de existir um novo negócio na área. Logo, como há o intuito de conseguir clientes, deve-se ter cuidado com a saturação do mercado.
O palestrante explicou que os riscos da inserção no mercado reduzem-se quando há a inovação – termo que não deve ser associado apenas a uma diferenciação qualquer no produto, mas, sim, a um aumento significativo na qualidade deste ou na redução de custos, pois a finalidade é o lucro. Com base em Joseph Schumpeter, ele evidenciou que a melhor aposta é na diminuição do preço, o qual é mais visível para os consumidores, já que a qualidade, muitas vezes, pode passar despercebida ou vir acompanhada de maiores gastos. Outra economista citada com muita ênfase foi Edith Penrose, a qual escreveu “A Teoria do Crescimento da Firma”, que descreve a inovação como a exploração original das suas ociosidades, ou seja, uma melhor utilização dos recursos, que se apresenta como uma alternativa promissora devido à minimização de custos de produção.
Por fim, Paiva fez uma breve análise das causas da crise atual do Brasil (detalhando o ambiente político destas), atribuindo as consequências a uma série de fatores, tais como o investimento na fabricação de bens duráveis, que fazia com que a demanda reduzisse drasticamente depois de alguns anos, pois a maioria das pessoas já comprara e a vida útil dos produtos era muito grande; a desindustrialização a partir de 1994 até hoje, que faz com que haja muita importação; e o fato dos trabalhadores não receberem reajustes salariais baseados na inflação, o que promove uma redução no poder de compra dessa classe, levando a uma saturação do mercado interno. Outro ponto muito importante é a sobrevalorização crônica da moeda brasileira – que já chegou a mais de um para um em relação ao dólar – o que fez com que fosse mais barato comprar no exterior, mas as exportações tornaram-se mais raras, arruinando o mercado interno. Portanto, percebe-se que são problemas que se acumularam desde muito tempo atrás que devem ser resolvidos em conjunto com políticas adequadas de governo para que haja uma melhora na situação geral do país.
As opiniões do palestrante no campo político não se mostraram extremistas ou excessivamente expostas, mas, sim, foram apresentadas de maneira adequada ao propósito, sem que o público sentisse desconforto ou que levasse a palestra a um foco diferente do proposto. Carlos apresentou-as sutilmente – com defesas e críticas tanto à esquerda quanto à direita – como forma explicativa do cenário de crise, tendo em vista que assuntos relacionados à economia, geralmente, estão atrelados à política também, pois esses dois mundos completam-se e faz-se necessária a união para que haja uma compreensão geral de um dos contextos. Logo, devido ao embasamento político de algumas partes, houve um enriquecimento de dados e análises mais profundas da economia global da crise.
A plateia, no geral, mostrou-se entusiasmada e receptiva tanto com o conteúdo como com as exposições do professor, atribuindo valor mais elevado ao evento, já que houve maior aproveitamento e troca de ideias devido a esse fator. O tema geral da palestra foi um ponto que deixou a desejar devido ao tempo restrito estipulado para o professor, fazendo com que esclarecimentos sobre a crise ficassem em segundo plano. Porém, os conceitos básicos que explicam o cenário de atuação de um empreendedor foram muito bem trabalhados. Considera-se, portanto, que foi uma exposição muito bem estruturada e desenvolvida, a qual trouxe novas informações e tirou muitas dúvidas dos alunos sobre um assunto tão importante como a situação do país.
Dia do Empreendedorismo
Em uma das atividades do Dia do Empreendedorismo, três convidados deram seus depoimentos sobre suas experiências empreendedoras, relatando sua trajetória desde o início da ideia de negócio, o desenvolvimento e sua situação atual. O primeiro a relatar sua experiência foi Rodrigo de Castro, fundador da Empresa Teevo Tecnologia da Evolução, seguido de Ralf Cardoso, da Empresa Um Cultural, e de Schana Andréia da Silva, fundadora da empresa Atitude Verde. Cada negócio pertencia a áreas distintas do mercado, mas todos eles eram muito criativos e tinham ótimas propostas.
Castro nos contou que, desde pequeno, era muito “nerd” e se interessava por tecnologia. Por conta disso, acabou por fazer o Curso Técnico de Eletrônica na Fundação Liberato, tendo como ideia inicial trabalhar futuramente com robôs. Porém percebeu que não conseguiria isso através do curso e mudou seus planos com o início da internet. Deixou a eletrônica de lado e passou a focar nessa nova tecnologia e nas máquinas necessárias para utilizá-la, os computadores. Como se interessou pela área, começou uma pequena empresa de assistência técnica, e após um tempo, passou a atuar na área de tecnologia da informação. Essa empresa expandiu-se rapidamente e se transformou na Teevo. Rodrigo queria permanecer perto da área tecnológica, queria continuar em contato com o processo produtivo que era seu foco, porém, conforme a empresa foi se desenvolvendo, ele foi se afastando aos poucos. Segundo suas palavras, ele se transformou em “um daqueles executivos de paletó e gravata” e isso estava lhe fazendo mal. Decidiu retornar para a área de criação de produtos e afins e hoje trabalha com sua equipe com várias seções de brainstorm e maratonas de criação.
Ralf Cardoso comentou sobre como é interessante trabalhar no mundo da cultura, que muitas oportunidades se abrem e que é possível conhecer muitas pessoas. Ele fundou a empresa Um Cultural, que tem como base leis de incentivo à cultura e como objetivo promover eventos que aproximem as pessoas e reavivem a cultura local das cidades nas áreas da literatura, do teatro, da dança, do cinema, da música, entre outras áreas culturais. Esses eventos exigem grande dedicação e organização por envolverem um número muito grande de pessoas e também por, muitas vezes, estarem relacionados às prefeituras das cidades nas quais são realizados. Ele nos contou que recebeu uma indicação para realizar o Festival de Cinema de Gramado, mas que não acreditava que seria escolhido para organizar tal evento por liderar uma empresa ainda pequena na época. Recebeu, porém, uma ligação da responsável pelo festival, agendando um horário para discutirem os preparativos. Segundo ele, foi uma alegria imensa ter a oportunidade de realizar um evento de tal porte e conseguiu aprender muito sobre sua área de atuação. Teve de estudar durante um longo período todo o processo de preparação do festival, como por exemplo, como auxiliar cada um dos convidados desde a chegada ao aeroporto até o voo de volta. O Festival de Gramado impulsionou o trabalho da Um Cultural, que hoje é conhecida em diversas cidades e apreciada por muitos.
Por último, a professora Schana Andréia relatou sua experiência empreendedora. Ela nos contou que a ideia de uma empresa que fabricasse camisetas de PET reciclado teve início em 2008, quando ela compareceu a um evento com a empresa na qual estava trabalhando, e, nesse evento, havia um homem vendendo um fio de poliéster derivado do PET reciclado. A partir daí, ela começou a pesquisar sobre esse produto, sobre outros produtos semelhantes, como o tecido de PET, para verificar se era viável fabricar camisetas com esse material. O problema foi que ela não encontrou a parceria correta, não tinha dinheiro para investir e seu tempo livre era limitado. Sendo assim, o projeto da empresa foi sendo adiado até que, em 2015, ela finalmente conseguiu tempo para dar continuidade à ideia. Encontrou uma máquina de estampagem para as camisetas, conseguiu o fornecedor do tecido de PET reciclado, uma costureira para confeccionar as camisetas, aprendeu como editar imagens com tutoriais no YouTube para fazer as estampas, registrou a empresa e criou sua loja online. É uma loja relativamente nova, ainda com poucos produtos, mas Schana pretende expandi-la logo que possível.
Todos os depoimentos foram ótimos, porém o de Rodrigo foi o mais interessante, pois nós, adolescentes, estamos passando por um período de escolha de curso para a faculdade, que área seguir, e ele nos deu dicas importantes, que podem nos guiar nessa situação tão confusa na qual nos encontramos. Por exemplo, é preciso ter uma finalidade para o seu trabalho (“o que eu quero através do meu trabalho? Fazer com que a vida das pessoas evolua com a tecnologia.”), não se importar com o fato de não gostar do curso técnico que está cursando no ensino médio, já que isso só fará com que você elimine uma opção da sua lista (“Não quero trabalhar com eletrônica.”), buscar sempre estar feliz com o que está fazendo. Ele pode não ter dito exatamente dessa forma as dicas, mas foi o que ele passou com todo seu entusiasmo e paixão por sua profissão.
Empreendedorismo e situação atual do mercado rio-grandense
Na última segunda-feira, 06 de junho de 2016, a Fundação Liberato contou com a presença do economista Carlos Paiva, para comemorar o Dia do Empreendedorismo. Em sua palestra, Carlos falou sobre o contexto estrutural e conjuntural da economia política brasileira e seus reflexos em desafios e oportunidades para as principais cadeias produtivas do RS. Teve ao longo de todo o tempo uma fala imparcial, mostrando os aspectos políticos e econômicos em suas diferentes faces, sem, em nenhum momento, induzir os ouvintes para a sua forma de pensar.
Paiva começou sua fala com uma breve explicação do que é o empreendedorismo, sua importância, como inovamos, falou sobre demanda de mercado e por fim na crise do RS. Seu diálogo foi de fácil acesso e didático para que todos ali pudessem compreender em pouco tempo o que se dedica anos a estudar. No cenário econômico atual, está cada vez mais precária a manufatura, exemplo de indústria de transformação (calçadista). São aquelas que produzem insumos para outras indústrias e trabalham com uma demanda sobre ela mesma, perfeitamente elástica. Um dos motivos apontados pelo palestrante pela queda dessas indústrias de transformação foi o plano real, criado por Itamar Franco, como modo de promover o fim da inflação. As indústrias não lucram e compram insumos de fora, por serem mais baratos que os nacionais, findando com a manufatura.
Segundo Paiva, a inovação relevante para a empresa é aquela que gera lucro. Inovar é usar os recursos já existentes de um modo diferente, valorizar os recursos ociosos. Explicou que, quando o mercado está crescendo, é fácil entrarmos nele sem inovação. Porém, se o mercado é local, a expansão é complicada, ele deve ser global e a curva de demanda não deve estar estagnada.
Discorreu, por fim, sobre a crise do RS e sua principal causa, deixando a plateia participar para expor suas ideias. Para Carlos, o principal motivo para a crise do estado são as aposentadorias integrais criadas no século passado, que beneficiavam militares e servidores do Estado. Hoje, 54% da população gaúcha recebe esse benefício, gerando um rombo nos cofres públicos. De acordo com o palestrante, uma das soluções deveria ser uma reforma nessa lei.
Carlos Paiva, no decorrer da palestra, procurou interagir com o seu público, mostrando como já citado todas as faces da política/economia. Discursou em um tom espirituoso, prendendo a atenção e se fazendo entender pelos alunos. Foi de suma importância sua participação para trazer aos estudantes do ensino técnico conhecimento e, quem sabe, gerar preferência para empreender futuramente.