FILOSOFIA EPICURISTA E COTIDIANO

“Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para este estudo ainda não chegou ou já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade.” Epicuro (Carta a Meneceu).

Neste ano de 2016, os alunos das segundas séries da Fundação Liberato tiveram a oportunidade de conhecer diferentes correntes filosóficas do período helênico: Epicurismo, Estoicismo, Pirronismo e Cinismo. Essas correntes refletem o contexto político e cultural da época marcado pelo domínio do Império Macedônico, de Alexandre Magno, e a consequente desagregação da Pólis Grega. Além disso, há o processo de interação entre cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais. Nesse período, a preocupação dos filósofos foi proporcionar às pessoas desorientadas e inseguras com a vida social, alguma forma de paz de espírito, de felicidade interior. Daí as preocupações coletivas acabaram por ceder lugar às de interesses pessoais, enfraqueceu-se a reflexão política, e a vida privada tornou-se a questão filosófica principal. As correntes filosóficas ficaram conhecidas como “artes de viver” ou “filosofias de vida”.

Entendemos que a sala de aula é um espaço privilegiado para discussões filosóficas e que um dos principais sentidos do fazer filosófico é propiciar a reflexão sobre as questões que nos cercam cotidianamente. Ampliamos essa possibilidade quando adquirimos cultura filosófica, quando estudamos os pensadores clássicos, que são a base dessa cultura.

Assim, foi proposta a construção de uma carta argumentativa a um amigo, procurando demonstrar a relevância da filosofia epicurista na atualidade. Partindo-se da identificação de um problema atual (social, político, econômico, cultural, ambiental, etc..), cada aluno deveria produzir uma carta, procurando responder ao problema escolhido “à luz” da filosofia epicurista. Após, os alunos formaram grupos de até quatro integrantes com o objetivo de compartilhar conhecimentos e selecionar uma das cartas que seria objeto de avaliação pelo professor, com base nos seguintes critérios: a) articulação dos argumentos com o problema; b) capacidade de defesa da relevância da filosofia epicurista para a atualidade; c) cumprimento dos requisitos metodológicos.

Queremos compartilhar os resultados do trabalho em sala de aula de dois dos trabalhos realizados pelos alunos, com base nos estudos sobre o Epicurismo. Coincidentemente, o tema desses trabalhos é a felicidade. Foram escritos por Felipe Drumm, da turma 4223 (selecionado pelos colegas Luciano H. Spaniol, Mateus da S. Landim e Leonardo de P. Antunes) e Matheus Wollmannn da Costa, da turma 3212 (selecionado pelos colegas João Trevisan, João Guilherme e José Vitor).

Leandro Andrighetti Professor de Filosofia Fundação Liberato

Leandro Andrighetti
Professor de Filosofia
Fundação Liberato

 

Estância Velha, 18 de abril de 2016.

Prezado Senhor Jair:

Apresento aqui alguns argumentos a respeito da busca da felicidade, pois, na sociedade de hoje, temos várias definições sobre o que é a felicidade e como encontrá-la. Por exemplo: o dinheiro, as comidas refinadas, os carros de luxo, as bebidas são prazeres que levam à felicidade, de maneira passageira, e podem vir a prejudicar o ser humano. O filósofo Epicuro deixou alguns estudos sobre como encontrar a felicidade, considerando-a fundamentalmente prazer. Para ele, o prazer resulta da satisfação dos desejos. Então, para a filosofia epicurista, tudo é matéria e o ser humano é sensação, assim, a felicidade está diretamente ligada ao sentir prazer.

A filosofia epicurista deixou algumas dicas para evitar a dor, enquanto estamos na busca pela felicidade. Uma das principais causas da angústia e da infelicidade são as superstições e as preocupações religiosas. Epicuro acredita que tudo pode ser explicado pelo movimento aleatório dos átomos que produzem forças indiferentes às do destino humano. Ele também escreve sobre o medo da morte, mostrando o quanto esse sentimento pode vir a interferir na busca da felicidade. Para o filósofo, a morte é a privação de sensações, e o ser humano é sensação. Então, para que o homem consiga encontrar a felicidade que ele tanto busca de diferentes formas, Epicuro aconselha moderar os seus desejos.

Segundo o filósofo, os desejos podem ser classificados em três tipos: os naturais e necessários, que são comer, dormir e beber; os naturais e desnecessários, que são, por exemplo, comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais; e os não naturais e desnecessários, que são fama, poder e riqueza. Conforme o filósofo Epicuro, uma escolha a ser feita seria a de se contentar com pouco para encontrar o prazer e a felicidade, pois, com a expectativa reduzida, não há chances de decepção, ou seja, um grande prazer pode vir de um simples copo de água, por exemplo. Assim, Epicuro afirma que não é proibido sentir prazer com um eventual banquete, e sim, não desejá-lo sempre. Seguindo os conselhos deixados pelo filósofo epicurista, podemos nos prevenir de, mais cedo ou mais tarde, nos depararmos com a infelicidade.

Felipe Drumm Aluno Curso Técnico de Eletrônica Fundação Libearto.

Felipe Drumm
Aluno Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato.

 

 

 

Novo Hamburgo, 26 de abril de 2016.

Guilherme:

Querido irmão, estou escrevendo esta carta para voltar a falar de um assunto que já conversamos em outras oportunidades. Porém, hoje, quero relacionar o que falo com a filosofia Epicurista. Não sei se tu já tens o conhecimento sobre ela, mas o Epicurismo é um sistema criado por Epicuro de Samos, no século IV antes de Cristo. Nessa época, a insatisfação com as condições de vida social era grande, a injustiça também, o poder era concentrado na mão de poucos e as pessoas interessavam-se por coisas fúteis. A felicidade das pessoas baseava-se em buscar o poder e os bens materiais. A religião era forte, e a procura por mitos, rituais e crenças crescia.

Muitas vezes, já conversamos sobre a crescente onda de jovens que se interessam por festas, eventos ou uso de bebidas e drogas, sem mesmo ver um sentido nisso. Em meio a todas essas coisas, se analisarmos as situações, veremos que os valores levados em conta, muitas vezes, são fúteis, como, por exemplo, roupas, carros ou bebidas mais caras. É perceptível que pessoas que possuem mais esses bens são pessoas mais valorizadas nesses ambientes, ou consideradas melhores, assim como, na época de Epicuro, eram levados em conta cargos públicos, ou riqueza também. Considero que momentos como esses, de festas, podem ser, sim, bastante importantes para a caminhada da vida das pessoas, até porque eu gosto de estar nesses ambientes, mas acredito que não devemos considerar os valores que outras pessoas levam em conta, mas, sim, cada pessoa ter para si o que é importante. O Epicurismo afirma que a amizade é um valor muito importante na vida das pessoas, principalmente pela troca de opiniões e pensamentos que é feita. Por isso, digo que ambientes como o de uma festa podem ser importantes, pois são ambientes que fazem aflorar a amizade e o relacionamento entre as pessoas.

O que me faz pensar sobre esse assunto é uma certa banalização que acontece com essas coisas. Jovens preocupam-se primeiro com o que vão beber, com a droga que vão usar, ou a roupa que vão vestir, para depois pensar com quem vão estar, ou o que vão fazer. Digo isso, pois eu vejo e presencio, é algo que ocorre ao meu redor. O Epicurismo diz que devemos ter a inteligência, o raciocínio, o autodomínio e a justiça como itens essenciais para seguir a vida com felicidade. Acho que cada ponto pode ser relacionado com o assunto que estamos discutindo. A inteligência, para lembrarmos sempre de buscar o verdadeiro prazer e evitar a dor. O raciocínio, para podermos analisar toda situação em que estamos e vermos o que é realmente necessário para a busca do prazer verdadeiro e se estão ocorrendo exageros. O autodomínio, que, em situações como essas, é o principal ponto, pois devemos ter controle sobre o que nos é oferecido, não nos deixarmos ser influenciáveis e termos controle sobre os vícios que, para Epicuro, só provocam insatisfação e dor. E a justiça, como em tudo, deve ser procurada para haver um bom convívio com as pessoas ao nosso redor, pois quando queremos o bem e a justiça para o outro, quando passamos uma boa imagem de quem somos, é assim que buscamos um bom convívio para, desse modo, buscarmos a felicidade.

Temos muitas situações na vida que podemos relacionar com a filosofia Epicurista, que pode ser um belo exemplo a ser seguido, para buscar a felicidade plena e a fuga da dor.

Um grande abraço!

Matheus Wollmann da Costa Aluno Curso Técnico de Mecânica Fundação Liberato

Matheus Wollmann da Costa
Aluno Curso Técnico de Mecânica
Fundação Liberato

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