hospitalidade galega, um propósito

“Aprendi, como diriam os galegos,
a ‘dejar las riendas soltas’
deixar as rédeas soltas.”

Quando pensamos no Eixo Educação e Cultura, quando pensamos em iniciar nosso trabalho na Fundação Liberato, pensamos que, com alegria, fazemos parte desse espetáculo cultural. Entre as muitas atividades e a pesquisa cientifica, encontramos, na Agenda Cultural, um espaço onde queremos estar. Nesse cenário, o trabalho dos professores de língua portuguesa e de línguas estrangeiras deve ser evidenciado. Registramos, então, nosso desejo de dizer que admiramos muito a aprendizagem produzida por nossos alunos, admiramos as diferentes culturas que visitam a MOSTRATEC, admiramos as diferentes atividades culturais propostas por nossos colegas e por nossos alunos nas diversas apresentações da Gincana e da Agenda Cultural. Todas essas manifestações despertam em nós uma vontade imensurável de sermos hospitaleiros.

Aprendi sobre hospitalidade na Galícia, onde fui recebida com tratamento de nobre nessa região noroeste da Espanha, na cidade de Santiago de Compostela, no campus universitário VIDA, um campus de excelência internacional, para um curso de Língua e Cultura.

Como professora de língua espanhola, não deixei de me apaixonar por essa cultura, seus modos de ser, suas cores, seu sotaque espanhol, seu “xeito” de falar galego que mais parece Língua Portuguesa carregada de “x”.
Santiago de Compostela, cidade do Apóstolo Santiago, da catedral e do mágico caminho onde todas as portas se abrem magnânimas, tem uma arquitetura de 800 anos e uma gente de muita fé e docilidade que trata a língua falada e escrita com o adjetivo “elegante”.

A cidade está repleta de encantos: a Catedral, finalizada no ano de 1211 pelo Maestro Mateo, quando fundaram a Universidade e o Colégio Fonseca, e o CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA, Patrimônio da Humanidade, motivos esses que atraem culturas e peregrinos do mundo inteiro.

O que mais me encantou na Espanha foi a hospitalidade de um país que, mesmo em meio a conflitos e à crise política, pode oferecer aos seus semelhantes o que tem de melhor, plantando em nós o desejo de voltar. É o sentimento chamado saudade que não encontra palavra para ser descrito em nenhum outro idioma, somente na língua portuguesa. Saudade de voltar.

Estudar na Espanha era quase um sonho impossível, afinal, existem fronteiras hispanoablantes mais próximas e possíveis. Mas, quando temos amigos, sempre encontramos novas portas abertas e foi assim, pela generosidade dos amigos, que vivi um grande sonho. Desembarquei em julho de 2011, de um voo vindo da Argentina em meio às cinzas do vulcão no pequeno aeroporto de “Lavacolla”, na Cidade do Apóstolo Santiago, região também conhecida como Espanha Verde por sua exuberante paisagem.

Os galegos têm um “xeito ” hospitaleiro que percebi logo no aeroporto, quando fui tratada como “uma nobre” ao receber minha mala que havia chegado dois dias antes de Madrid e estava muito bem guardada. Aprendi, então, o porquê de ser “ Reino de Espanha”.

Na universidade, tivemos o privilégio, eu e mais alunos e professores de 40 países, de sermos recebidos no campus, no coração da USC, Universidade de Santiago de Compostela. Tudo em nosso entorno era cultura espanhola, os 28 professores brasileiros foram recebidos com honras de nobreza para um curso de língua e cultura, na Faculdade de Direito, onde tivemos muitas aulas de fonética e passeios culturais e fomos hospedados no “colexio” Fonseca de frente para a alameda da catedral. Aprendemos, então, o verdadeiro valor da palavra hospitalidade.

Logo no primeiro dia, fomos ao Museu de Arte Galega. Na verdade, dois museus, um em frente ao outro: o Museu da História da Galícia e o Museu de Arte Moderna. O contraste nos fez perder o fôlego. Palavras como “encantamento” e “maravilha” já não nos serviam mais para descrever nosso sentimento, e nos surpreendíamos com a velocidade do nosso crescimento intelectual em cada passeio e cada aula.

Com toda a elegância, que costuma vir do povo Galego, nos apropriávamos de uma cultura que nos transformou para sempre em pessoas com jeito de ser “bem galego”. A sua amabilidade me fazia sorrir longamente sempre que, ao me ouvirem falar espanhol, perguntavam-me se era espanhola. Tenho, então, vontade de responder que tenho agora uma parte do coração “galego-espanhola”, porque lá fui recebida como uma princesa e tratada com hospitalidade sem igual.

Na Cidade de “A Coruña”, de porto esportivo, banhada pelo Oceano Atlântico, que golpeava fortemente as rochas no farol de Hércules, revivemos histórias medievais e parecia que estávamos dentro de um filme muito antigo. Visitamos um lindo castelo com nome de meus antepassados, e fui chamada de nobre novamente. Como é interessante e gentil a forma educada de ser monarquia: jamais se perde a doçura e o respeito com os turistas e suas manifestações culturais.

Algo de encantamento, que me transformou para sempre, ocorreu nesse lugar. Tudo me pareceu familiar, era como se estivesse de volta a um lugar conhecido e reencontrasse pessoas amigas, mas eu estava do outro lado do oceano, junto a pessoas com diferentes formas de ver e sentir o mundo!Poderia escrever, ainda, muitas páginas cheias de “bem receber”, mas o que gostaria realmente de registrar é a importância de nossas atividades culturais. Nessas atividades, como as apresentações da Gincana, organizadas pelos alunos, podemos valorizar o trabalho de nossos colegas; ou melhor, o que quero realmente dizer aqui é que não tratamos de um trabalho que prepara para bem receber na MOSTRATEC, mas mostrar na convivência diária que todos temos, não um trabalho, mas, sim, um propósito comum, o de oferecermos a quem convive conosco todo dia o nosso melhor: respeito, carinho, amizade e gentileza, e fazemos isso sempre que prestigiamos nossas diversas atividades culturais.

Descrever minha admiração pela cultura hispanohablante é parte de minha agenda cultural, descrever o lugar que me encantou e registrar aqui, meu encantamento por todas as atividades carinhosamente planejadas por muitos colegas na Fundação Liberato.

Cristiane Pereira Alchimowich Anton Prof. de Língua Espanhola Fundação Liberato

Cristiane Pereira Alchimowich Anton
Prof. de Língua Espanhola
Fundação Liberato

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