Poema: A esquina que me fez olhar

Desde pequena eu já ouvia falar
da escola em que eu estudaria,
da esquina com a qual me depararia.
Não tinha não dobrar.
Única alternativa era entrar.

Sabe quando só se quer chorar
por se sentir deslocada do lugar?
Em ter que mudar
pra então conseguir se encaixar?

Durante 14 anos eu vivi
com as mesmas pessoas,
jeitos,
pensamentos,
gostos.
Os mesmos
que eu.

De repente me vi cercada
de uma diversidade incrível
com a qual, sinceramente,
fiquei encantada.
Como o mundo era mais colorido
do que eu estava acostumada.

Era inevitável que a vida mudasse
depois que a nova realidade se instalasse.
Mas a gente tem que escolher:
se adaptar ou sofrer?

É difícil no começo,
eu sei.
Porém qual a graça de viver
se nada muda,
se está tudo igual
e tu nem consegues ver
que poderias fazer algo acontecer?

A escola me ofereceu
a escolha de me olhar,
descobrir.
Me sentir minha e perceber
como a vida é mais bonita
quando tu podes ser tu,
sem alguém te acorrentar
à imagem já criada de ti.

Me ofereceu a descoberta
de me desafiar todos os dias,
de precisar ir atrás,
de saber que a vida é feita de escolhas
e que essas têm consequências
que devemos estar dispostos a encarar.

Me deu a oportunidade
de conhecer coisas novas,
descobri-las,
entendê-las,
abrir minha mente.
Colorir minha vida
com as cores que desejava.

Sabe quando tudo está bom demais?
Quando chegou no topo
da sua montanha-russa
e vem aquela descida brusca?
Em um segundo tudo mudou
e dentro de mim tudo escureceu.

Cercada de pessoas,
porém solidão.
Cercada de luz,
porém escuridão.
Sucessão de pensamentos.
Negativos.
Dolorosos.
Torturas da própria mente.

Escola foi abrigo,
refúgio.
Engraçado como mesmo
no preto e branco da Fundação,
tua vida se torna mais colorida,
graças aos que criaram moradia
no teu coração.

Pessoas que dobraram na mesma esquina.
Dividiam a mesma sala.
Palavras.
Permitiram conhecer,
ter perto.
Permitiram acolher no coração.

Pessoas que dividiram momentos,
tristezas,
alegrias,
tensões.
Que disponibilizaram os ouvidos
para ouvir,
e sabiam que estava aqui
para quando precisassem ser ouvidas.

Laços foram criados.
Ultrapassaram os muros da escola.
Coloriram e deixaram
a caminhada nessa rua
mais gostosa,
engraçada,
leve
e nossa.

Pessoas que eu sei
independente da esquina
que cada um decidir dobrar,
nossos laços vão continuar.
Independentemente
de onde cada um parar,
um jeito a gente vai dar
de continuar juntinhos pra aproveitar.

Essa esquina,
que me fez entrar
nessa rua,
que me fez
conhecer,
viver,
fortalecer
tanto a mim quanto a amizades.
Me fez crescer.

Essa esquina
me fez perceber,
que não é isso que eu quero.
Não é essa rua que quero seguir.
Quero dobrar outra esquina,
menos exata,
mais eu.

Última quadra da distância dessa rua.
Três já se foram,
marcaram.
Última quadra,
e essa
cheia de planos,
ideias,
expectativas,
sonhos.

Quero seguir esses últimos instantes
com a calmaria
de aproveitar a vista que ficará para trás.
Com a persistência
de quem sabe que não vai ser fácil,
mas que vai continuar com os esforços.
Com os sonhos
de quem sabe que tem outras esquinas
pra dobrar
e observar.

Por cada motivo,
é tão difícil,
em quatro minutos,
falar sobre algo
que mudou e mudará
o rumo
da tua vida inteira.

Gabriela Metz Schmidt Aluna do Curso Técnico de Química - 1412 Fundação Liberato

Gabriela Metz Schmidt
Aluna do Curso Técnico de Química – 1412
Fundação Liberato

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