O livro ‘A Miséria do Mundo’, organizado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (Editora Vozes, 2012), reúne os principais pesquisadores sobre os problemas e os desafios do Mundo na atualidade e a incapacidade humana em agir racionalmente sobre eles.
Entre os temas centrais do livro, estão: (1) a influência dos lugares na formação da percepção, da mentalidade e da consciência dos indivíduos. E, quando os espaços estão dominados por relações utilitaristas e consumistas das coisas e das pessoas, associado ao estado falimentar das instituições e da mídia majoritariamente maquiadora das realidades, temos coletividades desprovidas de senso de significado dos fatos e dos acontecimentos, mantendo-se em situação de dormência existencial e apatia generalizada ou em estado de utopia às avessas; (2) a condição do Estado demitido. O sonho iluminista, do Estado como pacto social de segurança e bem-estar coletivo mínimo, dando condições de conquistas aos indivíduos, parece ter se tornado o pesadelo da maioria dos países. Os estados têm se revelado corruptos, quando não ausentes dos espaços sociais onde se fazem mais necessários. Loïc Wacquant (um dos autores do livro) chama os espaços sociais de ‘Estado demitido’ como Hustling ou economia dos guetos, onde a pobreza está associada ao controle dos territórios pela contravenção, e isso cria as condições estruturais de relações em frágil fronteira entre o ‘legal e o criminoso’, entre a ‘violência e a sedução’, entre a ‘solidariedade e a coação’. Exemplos desse tipo de realidade são as vilas controladas pelo tráfico de drogas e outras associações criminosas; (3) a herança das contradições nas estruturas da múltipla exclusão, cuja engrenagem dificulta a emancipação per si de amplos setores sociais e, sobre cujas realidades, os organismos nacionais e mundiais de compensação econômica e/ou de inclusão social têm baixa capacidade de compreensão e menor ainda capacidade de ação resolutiva; (4) o caos da sustentabilidade ambiental, que mostra o Mundo com seus recursos se esvaindo pela ação predatória dos sistemas produtivos e hábitos de consumo em massa.
Por causa dos problemas estruturais e da incapacidade da humanidade em criar e manter ações e estruturas estratégicas de resolução dos problemas, os autores revelam a condição da miséria humana e do mundo. É uma leitura profunda e muito esclarecedora sobre a realidade atual, a condição humana e os desafios presentes e futuros. É, portanto, uma leitura indispensável aos profissionais da educação e aos jovens que pretendem fazer a diferença no mundo.