Capacitando para a promoção do respeito à diversidade e enfrentamento da discriminação por gênero e orientação sexual na escola

“Não tenho a obrigação de amar toda a gente, mas, sim, de a respeitar.” José Saramago

As escolas, especialmente as públicas, são um ambiente plural. Alunos de diferentes origens socioeconômicas, credos e não-credo, idades, etnias, configurações familiares, gêneros e orientações sexuais ali dividem um espaço que tem, ou deveria ter, como objetivo não apenas repassar e construir conhecimento, mas também permitir vivências que contribuam para a socialização e uma formação cidadã. Entretanto, se por um lado a pluralidade está presente, por outro, nem sempre é respeitada

Com relação à diversidade sexual e de gênero, a instituição escolar foi e muitas vezes continua sendo um espaço silenciador e opressor. Os estereótipos de gênero são reproduzidos, desde a divisão na hora das brincadeiras consideradas específicas de meninos ou meninas, até a ideia de que as meninas teriam uma aptidão natural para as áreas relacionadas ao cuidado ou ciências humanas e os meninos àquelas que exigem raciocínio lógico. Há também o desconhecimento e o preconceito frente aos gêneros que não se enquadram no binarismo homem e mulher ou que não coincidem com seu sexo biológico de nascimento. Com relação à diversidade sexual, concernente à orientação sexual, a recorrente utilização de xingamentos, piadas homofóbicas e até agressões torna o cotidiano escolar fonte de sofrimento.

Os preconceitos e as discriminações trazem consequências negativas na formação do conjunto dos alunos e na vida dos indivíduos diretamente afetados. Ao tentar moldar os alunos dentro de um determinado padrão, a instituição escolar provoca desde sentimentos de inadequação até o abandono dos estudos, deixando marcas que serão levadas vida afora.

A luta promovida pelos movimentos sociais organizados, como o feminista e o LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) trouxe a conquista de direitos sociais, o que possibilitou, apesar da permanência de preconceitos e discriminações, mudanças significativas inclusive no ambiente escolar. A imposição de estereótipos de gênero, com padrões rígidos do que é ser mulher e do que é ser homem, passa a ser questionada. A diversidade sexual se torna visível. Os alunos sentem-se mais seguros para expressar suas identidades.

Essa nova realidade impõe um bom desafio para as escolas: a necessidade dos profissionais que ali atuam estarem atualizados e preparados para se posicionarem frente a essa diversidade de forma ética. Desafio posto também para a Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha. Nesse sentido, o Eixo Educação e Cultura do Núcleo de Educação, Cultura, Esporte e Ciência & Tecnologia da Liberato, promoveu um curso de capacitação para a promoção do respeito à diversidade e enfrentamento da discriminação por gênero e orientação sexual na escola. O curso, desenvolvido no primeiro semestre de 2017, contou com a participação de funcionários e professores e foi ministrado por profissionais da Instituição e convidados.

Norteou o curso a compreensão de que não nos cabe, como profissionais da educação, impor a nossos alunos um modo de ser e existir, orientado por nossas concepções religiosas e ideológicas pessoais. É preciso respeitar e acolher cada um e cada uma sem qualquer tipo de preconceito e discriminação. Nos debates realizados a cada encontro, se fez presente a preocupação em apropriar-se de conhecimentos que possibilitem qualificar-se frente a essa nova realidade para não apenas não reproduzir preconceitos no cotidiano escolar, como também combatê-los. A troca de vivências e de conhecimentos propiciou uma rica experiência de aprendizado. Ao final, a conclusão do grupo foi de que essa não deveria ser uma ação isolada, que as discussões e os estudos precisavam ser mantidos e multiplicados, resultando em outras ações concretas.

Uma dessas ações já se concretizou. Por sugestão do Núcleo, a Direção de Ensino incluiu na programação do Seminário Administrativo e Pedagógico, que abriu o segundo semestre letivo deste ano, a palestra da Profa. Dra. Jane Felipe, da UFRGS, intitulada “Diversidade de Gênero na Escola”. Com isso, buscou-se ampliar a discussão dessa temática para o conjunto dos servidores da Instituição.

Ministraram o curso pela Fundação Cláudia Müller (Psicóloga); Deise Bays (Professora); José Edimar de Souza (Técnico em Educação); Maira Daniel (Professora); Maria Inês Utzig Zulke (Psicóloga) e Raquel Sebastiani (Professora). Como convidados, Helena Martins de Souza (Aluna); Glaucio Rodrigues (Professor); Tiago Rodrigues e Vincent Pereira Goulart (Núcleo de Pesquisa em Sexualidade e Relações de Gênero da UFRGS).
Ao longo do curso, vários foram os pedidos para que fosse realizada uma nova edição, não apenas para a comunidade Liberato, mas também para o público externo. Em 2018, buscaremos oferecer novamente o curso e ampliar cada vez mais o nosso debate.

Raquel Vieira Sebastiani Professora Fundação Liberato

Raquel Vieira Sebastiani
Professora
Fundação Liberato

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