Prosa poética: Como Cecília

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Como Cecília, não me reconheço no espelho. Já nem me ponho a refletir sobre perguntas filosóficas, apenas passo o pó compacto – Avon, para garantir o tradicional – e sigo até que… Um artista nô me ensine a flutuar com a beleza de arte transcendental e bobes nos cabelos, a face, fantasmagórica e o quimono longo, exuberante e negro. “Eu quero um homem negro porque black is beautiful”, tanto que já não posso perder tempo com detalhes e, então, coloco toda a minha esperança na dança de balé tresloucado e perdido, distanciado, que se encontra, somente, nos aplausos escutados, apenas, por mim, dentro de mim. Loucura de artista abandonado, porém completo, pois independente, liberto e leve, pronto a alçar vôo com semblante de quem quer amar e, ainda assim, ser amado. Estar no ar é tarefa como a de arqueiro zen, porque muitos se arrancaram os cabelos e dançaram nus e carecas, tão belos em suas rigidezes a ponto de me levarem ao delírio. Mas busco o oriente, o ópio dos poetas tristes portugueses, que está ao “Oriente, do Oriente, do Oriente, do Oriente” para chegar onde estou, com tantas rugas n’alma, a passar o batom no espelho porque não me reconheço.

 

Jorge Luíz Gouveia Amaral Professor de Língua Inglesa Fundação Liberato

Jorge Luíz Gouveia Amaral
Professor de Língua Inglesa
Fundação Liberato

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