Filme: No intenso agora

Ficha Técnica

Roteiro, texto e direção: João Moreira Salles
Montagem: Eduardo Escorel e Laís Lifschitz
Música original: Rodrigo Leão
Produção executiva: Maria Carlota Bruno
Pesquisa de imagens de arquivo: Antonio Venancio
Edição de som e mixagem: Denilson Campos
Coordenação de pós-produção: Marcelo Pedrazzi
Uma produção Videofilmes

Data de lançamento: 9 de novembro de 2017  (2h 07min)

 

SINOPSE

Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China, em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política.

O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.”

No intenso agora é um filme/documentário simples e ao mesmo tempo complexo. O diretor João Moreira Sales mescla imagens feitas por sua mãe durante uma viagem para a China, que vivia a intensidade da Revolução Cultural com imagens de outras sociedades também em transformação, como a francesa com seu Maio de 68. Era uma China que renovava seu mundo político.  Era uma França que questionava os valores da época.

João apresenta sua mãe que, na época era uma jovem, olhando para o mundo em transformação sem perceber que ela também se transformava. Seu olhar carregava emotividade aflorada com as mudanças observadas, mas, também, trazia sensibilidade e um sentimento de felicidade. Felicidade que é perseguida ao longo de todo o documentário.

O diretor busca encontrar quando esse “estado” ou “sentimento” de felicidade de sua mãe se perde, ou mesmo se isso foi uma constante por um período em sua vida. Ao mesmo tempo em que o diretor faz a caminhada ao longo da trajetória viajante da mulher que também é sua mãe pela China comunista, ele explora imagens francesas apresentando o cotidiano do Maio de 68.

O diretor e roteirista, ainda que em menor escala, apresenta também, imagens de época de outros cenários que, da mesma forma que França e China, passam por momentos intensos e de intensa alterações, como o Brasil e a antiga Tchecoslováquia.

O documentário perturba a calmaria de espectador, pois, ao percorrer todos esses trajetos políticos de mudança, ele lê sua mãe e questiona a presença da felicidade. Esse questionamento perpassa as especulações sobre a vida da autora de alguns vídeos e também dos cenários políticos. Afinal, quando somos felizes?

Há durante todo o decorrer do documentário uma linha muito bem costurada que une o que é pessoal e o que é político, apresentando afinal, que o pessoal também é político.

Maira Graciela Daniel
Professora de Sociologia
Fundação Liberato

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