Na disciplina de Comunicação e Expressão do Curso Técnico de Informática para Internet, foi proposto que os alunos e as alunas realizassem leituras literárias, que consistiram em contos. Para essa atividade, foram escolhidos, pela professora, contos de terror e contos de final surpreendente. Sobre os últimos, Braulio Tavares diz que esse tipo de conto é “aquele que nos últimos parágrafos, ou nas últimas frases (às vezes, até na última palavra de todas) dá uma guinada completa no que vinha sendo contado até então. Puxa o tapete debaixo dos pés do leitor” (TAVARES, 2013, p. 29). É o que ocorre também nas piadas, e o autor diz que “o termo técnico para essa famosa frase final da piada é punchline, a frase porrada.” (Idem), pela reviravolta que causa no que vinha sendo narrado e na imaginação do leitor. No primeiro caso, situam-se os contos “O barril de amontillado”, de Edgar Allan Poe (1846), e “Venha ver o pôr do sol”, de Lygia Fagundes Telles (1988). No segundo caso, situam-se os contos “O colar”, de Guy de Maupassant (1884), “A resposta”, de Frederic Brown (1954), e “Os outros”, de Neil Gaiman (2006). Após a leitura compartilhada desses contos, em sala de aula, foi realizado um trabalho com os contos de terror. A atividade consistia em compará-los, já que se tratava de releitura do primeiro pelo segundo, apontando temática, semelhanças e diferenças. Esse trabalho resultou em produções textuais, das quais quatro são compartilhadas aqui. Os cinco contos lidos são facilmente encontráveis na internet e sua leitura é muito acessível.
Edgard Allan Poe, pioneiro na escrita literária sobre terror, faz sua história com uma temática de vingança, retratando um homem que, por se sentir profundamente ofendido com insultos vindos de outra pessoa, opta por assassiná-la de uma maneira extremamente cruel, enterrando-o vivo! Lygia Fagundes Telles faz uma releitura do texto de Edgar e isso torna possível encontrar diversas semelhanças entre os textos. Uma delas é deixar claro que a pessoa não poderia pedir socorro, pelo fato de estar muito distante de todos; outra semelhança é que os dois “vilões”, de alguma maneira, se sentiam profundamente chateados com algo que suas vítimas os fizeram sentir. Os textos se diferem no ponto em que, na escrita de Edgar, o assassino (Montresor) deixa claro que está cometendo um assassinato, já na história de Lygia, o assassino (Ricardo) simplesmente deixa a sua vítima para morrer. Ricardo demonstrava sentir mágoa e ressentimento, já Montresor agiu puramente por orgulho e sede de vingança, pois, no texto de Edgar, não fica claro o que o levou a matar cruelmente. Lendo o conto de Lygia, no entanto, é possível compreender melhor o que levou a personagem a agir da maneira como agiu.
Douglas Rafael da Silva
Os dois textos, tanto o de Lygia quanto o de Edgar, tratam sobre vingança, o primeiro trazendo como motivação o “amor” e o segundo sendo motivado por injúrias. Enquanto em “O barril de amontillado” a isca utilizada para atrair Fortunato à armadilha de Montresor foi seu próprio orgulho, em “Venha ver o pôr do sol”, Ricardo propõe um último encontro do antigo casal, o que causa curiosidade em Raquel, que o havia deixado por outro rapaz. Apesar de sutis diferenças no enredo, a construção e a finalização das histórias se aproximam de diversas formas. As duas vítimas são atraídas para lugares remotos, o que demonstra a certeza e a solidão de suas mortes, além de enfatizar a crueldade de seus assassinos, que planejaram algo que, além de livrá-los de qualquer consequência, causasse extrema dor física e psicológica em Raquel e Fortunato. Outra semelhança que é possível destacar é a maneira como Ricardo e Montresor tentam distrair suas vítimas, livrando a estranha situação e quaisquer suspeitas. Por fim, o último contraste observado entre os dois textos são em suas narrativas, pois a de Edgar Allan Poe é feita em primeira pessoa e a de Lygia Fagundes Telles é em terceira, o que pode contribuir para a surpresa que alguns leitores têm ao descobrir o final da história.
Pálise Brandolff Oliveira
Os textos, embora não sendo completamente iguais, têm relações muito parecidas. Os dois textos tratam de morte e crueldade; as duas personagens que são as vítimas nas histórias, são tomadas pelos seus egos e, de certa forma, morrem por isso. Ambos os textos lidam com um ato de vingança. O primeiro, de Edgar Poe, trata de uma personagem que não aguenta mais ser insultado; o segundo, de Lygia Telles, de um homem que não aceitava o término do namoro. A época dos textos é distinta uma da outra, mas a releitura do conto de Edgar é feita de tal forma que o cenário usado é quase igual. O conto de Poe se passa em uma catacumba que passava por baixo da casa de outros vizinhos; essa catacumba tinha vinhos envelhecidos guardados e, em uma das salas, também havia restos mortais. O de Telles se passa em um cemitério que estava abandonado, onde os túmulos estavam velhos e malcuidados, pois ninguém mais os visitava. No final deste conto, o casal chega em uma catacumba, onde Ricardo tranca sua ex-namorada, para que esta morra sozinha.
Dyonata Vinicius S. de Souza
Os dois textos possuem semelhanças e diferenças. Foram escritos por Edgar Allan Poe, o mestre do terror, e Lygia Fagundes Telles. Suas primeiras semelhanças estão no gênero e no tema, que são terror e assassinato respectivamente, e, em ambos, as vítimas são enterradas vivas. Nas suas diferenças, a história, as personagens e as motivações são notáveis. Edgar descreve o cenário de forma tão detalhada que fica fácil reproduzi-lo na mente; não que o de Lygia não consiga, mas o de Edgar deixa mais clara a situação. Em “O barril de amontillado”, temos dois amigos, na época de Carnaval, em que um quer se vingar do outro; eles seriam o protagonista e Fortunato. Em “Venha ver o pôr do sol”, temos um casal, Ricardo e Raquel, que é convidada pelo rapaz para um encontro em um cemitério. As diferenças nos motivos para o assassinato são que o protagonista da história de Edgar não aguentava mais os desaforos de Fortunato e o levou para uma catacumba, preparando todo o cenário e usando suas manipulações para dar um fim a ele; enquanto Ricardo quer matar Raquel por ela não o amar da mesma forma que ele a ama. Então, ele a leva para um cemitério e, usando tons de voz assustadores, que dão o ‘clima’ da história, a ‘enterra’ lá.
Lucca Spier Gonçalves
REFERÊNCIAS:
TAVARES, Braulio. O impacto do final surpresa. Revista Língua Portuguesa, ano 8, nº 92, junho/2013, p. 28-29.