Na aula de Sociologia, foi solicitado que minha turma assistisse a um material audiovisual, que serviria de base para um debate, o tema era violência contra a mulher. O assunto sempre foi muito vivo dentro de mim, as experiências deixaram cicatrizes, porém tudo se transformou em aprendizado e moldou quem sou. Vi aí uma oportunidade de dar voz àquelas que não têm, de mostrar minhas ideologias e transmitir sentimentos da força de uma luta, de instigar a dúvida. Quando tudo veio à tona, fiquei frágil, mas tive de me manter forte. Só criei coragem, de fato, quando me deparei com amigos que precisavam muito daquilo, fazendo piadas devido à mínima importância que deram. Eu estava prestes a transbordar, precisava falar e, além disso, eu queria ser ouvida.
Então, lhes disse que não sabia bem como começar; por isso, comecei perguntando: ” Vocês viram os vídeos e leram os textos? Se não, façam! Vejam isso como algo muito maior que um tema de Sociologia, muito maior que o agora. É muito doloroso ver vocês, homens da nossa geração, resistindo contra enxergar, é muito mais fácil não ver e não precisar pensar sobre isso, mas não deixem de tentar. 51 minutos não é nada, e acredito que não é com 5 ou com 51 que vamos entender o que ele quer dizer, vocês não têm que entender o que o vídeo quer dizer, vocês têm que ouvir o que ele diz, olhar para o lado e ver acontecer. Uma vez, um amigo me disse que devemos amadurecer, mas, se for demais, ficamos chatos. Quando amadurecemos, nos damos conta de que nossas atitudes não condizem com nossas ideias. Muitas vezes, falamos, pensamos, defendemos algo, mas nos contradizemos nas atitudes”.
E, olhando nos olhos deles, eu continuei “Queria falar para os homens desta turma que respeitem as mulheres que caminham na rua, independente do que pensam delas, como as que andam dentro das suas casas, as que vocês amam, mãe, avós e irmãs. E entendam que nós não devemos nem podemos sentir medo de vocês. Não façam isso acontecer! Uma pessoa que vive na escuridão do medo, não vê o brilho de viver um novo dia”. Finalizei falando, “E mulheres, entendam que, juntas, somos mais. Quando vemos e ouvimos brincadeiras e piadas que nos incomodam, não podemos ficar caladas, não podemos deixar passar “porque não vai fazer a diferença eu falar”, vai, sim! Quando acontece um manifesto machista, o óbvio é não reagirmos. Vamos além do óbvio, vamos colocar a pulga atrás da orelha, vamos obrigá-los a sair da zona de conforto, nem que seja por um segundo, e pensar. Pensem! E entendam que, quando uma de nós se machuca, todos sofremos. Nenhum de nós veio para este mundo para ser objeto de outro, viemos humanos; então, sejamos humanos”. Quando tudo acabou, aqueles inúmeros pares de olhos brilhantes e encharcados me olhavam, muitos deles trasbordavam sentimentos de agradecimento, outros de surpresa e até mesmo olhares de desculpas. O que sucedeu foi uma longa salva de palmas, que, para meus ouvidos, soou como um clamor de superação, e, enquanto eu tentava controlar a minha respiração, fui abraçada pela coragem. Eu consegui, consegui superar meus medos e transformar o meu silêncio e o de muitas em um grito de união.