Quem não lembra aquela experiência realizada em sala de aula onde os estudantes do ensino fundamental colocavam feijão no algodão e, deslumbrados, acompanhavam o crescimento da planta, dia a dia, como se estivessem assistindo à transformação de algo até então desconhecido para eles?
É provável que essa simples atividade tenha despertado, mesmo que inconscientemente, o instinto da investigação e da curiosidade em muitos estudantes.
Como falar em pesquisa e investigação científica no Brasil é algo pouco comum se compararmos com temas mais populares como, por exemplo, futebol e música, falar em ciência, até pouco tempo, era assunto típico das rodas de conversa entre “gênios“ ou “nerds” (segundo o Wikipédia, termo que descreve, de forma estereotipada, uma pessoa que exerce intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais populares).
Mas, como tudo é passível de evolução, aos poucos, fomos decobrindo que incentivar nossos jovens para novas descobertas, através da metodologia científica, era algo legal e possível de ser realizado, mesmo em um país onde as preferências populares são, na sua grande maioria, direcionadas para outras áreas, que não a ciência.
As feiras de ciências são exemplos de que podemos trabalhar por um mundo melhor. No caso da Mostratec, o pontapé inicial (parafraseando com o futebol) foi a Feira Interna de Ciência da Fundação Liberato (Feicit), em 1978, por iniciativa do incansável e dedicado professor de biologia, Alberto Dal Molin Filho. Aliás, é praticamente impossível deixar de relacionar o professor Dal Molin à história das feiras de ciências da Liberato.
Como nos tempos das séries iniciais, quando os estudantes acompanhavam o crescimento do feijão, na medida em que regavam o algodão, a Feicit também foi evoluindo. Em 1985, a feira passou a receber projetos de outras escolas do Rio Grande do Sul e passou a ser chamada de Mostratec – Mostra de Criatividade em Ciências, Artes e Tecnologia. Já em 1990, com o objetivo de receber escolas técnicas do Brasil, o evento passou a ser de caráter nacional. Em 1994, num processo de abrir ainda mais as portas da feira para o mundo, a Mostratec começou a receber os primeiros projetos vindos do exterior, primeiramente, de países que formavam o Mercosul. Começa, então, a surgir um novo idioma na feira, o “portunhol” (uma mistura entendível entre o português e o espanhol). Essa abertura possibilitou saber o quê e como os jovens pesquisadores estrangeiros desenvolviam a pesquisa nos seus respectivos países.
E não demorou muito para a feira receber projetos vindos mais de longe. Já passaram pela Mostratec, aproximadamente, jovens pesquisadores de mais de 30 países, entre eles: Argentina, Azerbaijão, Cazaquistão, Chile, China, Colômbia, Coréia do Sul, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, Itália, México, Nigéria, Paraguai, Peru, Portugal, Rússia, Taiwan, Turquia, Ucrânia, Uruguai e outros tantos. Acrescida da língua inglesa, a Mostratec passa a ter três idiomas.
Receber estudantes e professores de outros países agrega conhecimento não apenas científico, mas também cultural. Nesse aspecto, podemos citar algumas situações interessantes como, por exemplo, o grande número de projetos da área de matemática vindos do Cazaquistão, a qualidade dos projetos da Turquia na área de química, os projetos de ciências sociais dos estudantes do Peru, os hábitos alimentares dos participantes da Indonésia e a diversidade de ideias e culturas dos projetos brasileiros, afinal, todos os estados da federação participam da Mostratec.
O professor Dal Molin costumava dizer que os filhos nascem, crescem e partem para novos desafios. E foi isso o que aconteceu com a Mostratec. O espaço da escola ficou pequeno para tantas ideias inovadoras e, assim como aquele filho que um dia parte em busca das suas próprias conquistas, a feira passou a ser realizada num grande centro de eventos da cidade de Novo Hamburgo (RS), a Fenac. Essa estreia aconteceu em 2009, mobilizando ainda mais a comunidade escolar e as instituições parceiras, tanto em nível público como privado. Todos acreditavam que era chegada a hora de ampliar a feira e essa mudança confirmou que o momento era este.
Para um projeto chegar à Mostratec, é necessário que ele tenha participado de alguma outra feira de ciências credenciada a esta. Conseguir uma das 350 vagas disponíveis envolve, aproximadamente, 10 mil projetos de outras feiras do gênero. Participar da Mostratec pode ser considerado um prêmio.
Hoje, são 27 anos de história e muitas pessoas e instituições colaboraram para que a Mostratec chegasse onde está. Reconhecida internacionalmente como uma das principais feiras de ciência e tecnologia do mundo, a Mostratec credencia diversos projetos para outras feiras mundo afora. Nossa responsabilidade é muito grande e não apenas sob o ponto de vista da organização de um grande e importante evento. É grande porque, entre outras coisas, estamos colaborando com o desenvolvimento da educação, da ciência e da tecnologia em um mundo que necessita, cada vez mais, do talento daqueles que fazemos questão de chamar de “jovens cientistas”.