artigo: Livro, livro meu, existe alguém mais encantado do que eu?

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O Troca-troca de livros da Fundação Liberato é uma das atividades enriquecedoras da Semana Cultural e, como o próprio nome diz, é um espaço onde podemos trocar preciosidades. Tal atividade me fez refletir sobre as representações e relações que temos com os livros em tempos de internet.
Ocorreu-me, então, mencionar o historiador Leandro Karnal, quando certa vez, aqui mesmo na escola, assistimos a uma palestra sobre o processo de tornar-se escritor. Na fala do historiador, “antigamente era preciso anos de estudo e trabalho dedicado, e mais anos de exercício de uma capacidade argumentativa para convencer um editor; hoje, quase todo mundo pode publicar quase tudo em ambientes virtuais, mesmo que sem nenhuma credibilidade e passa a ser seguido por muitos”.
Parece algo negativo que o conhecimento e os anos de estudos de um autor possam aparecer fragmentados na rede, inclusive em trabalhos científicos. Não precisamos mais ler um livro inteiro para conhecer um estudo sério, basta com alguns fragmentos ou capítulos lidos sem contexto, copiar e colar e já julgamos conhecer, e não raras vezes, mal conhecer um autor e sua obra.
Precisamos, urgentemente, valorizar o conhecimento integral de uma obra, de um trabalho sério, de uma criação científica comprovada com muitos anos de estudo e não de umas horas de navegação.
Afortunadamente, temos pessoas que gostam de ler livros inteiros, para além de citá-los e para isso está o nosso Troca-troca. Na verdade, precisaríamos de mais dias de incentivo à troca de livros. Deparei-me, então, comigo leitora, alguns livros, confesso, poderia trocar tranquilamente, porém outros, ainda não.
Quando lemos um livro inteiro, ainda que o julgamento de qualquer leitura pertença ao leitor, passamos a fazer parte do estudo feito pelo autor, entramos na história, viajamos no tempo, ficamos acordados uma noite inteira, nos apaixonamos, choramos, milhões de coisas nos acontecem e nos transformam para sempre. Jamais seremos capazes de devolver o que ganhamos com certos livros. Por esse motivo, não poderíamos trocá-los, são objetos de nosso encanto, de um encanto só nosso, de uma relação egoísta e apaixonada.
Uma relação de encanto e cuidado, que só pode ser criada por alguém que leu um livro inteiro, e o leu mais de uma vez e ainda quer ler uma frase ou página assinalada em algum momento futuro.
Troque um livro, então, exercite o desapego, apoie a Semana Cultural, leia um livro inteiro, entre no mundo do autor, encante-se com essa ideia e encante.

Cristiane Pereira Alchimowich Anton Prof. de Língua Espanhola da Fundação Liberato
Cristiane Pereira Alchimowich Anton
Professora de Língua Espanhola
Fundação Liberato

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