artigo: uma educação comprometida com a criatividade

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Toda a nossa ciência, contraposta à realidade, é primitiva e infantil. E, apesar disso, é a coisa mais preciosa que temos.” Albert Einstein

Este é um espaço em que gostaria de compartilhar algumas questões sobre o atual aprendizado da ciência, sem a pretensão de escrever nenhuma teoria ou tese sobre o assunto e, sim, fazer uma reflexão sobre alguns princípios que me fazem ser entusiasta pelo ensino da ciência. Em uma definição formal:
Ciência é um conjunto de conhecimentos que representa a compreensão atual dos sistemas naturais e o processo pelo qual esse conjunto de conhecimentos foi estabelecido e está sendo continuamente estendido, refinado e revisado. (CROWTHER, 2007, p. 27).

Verifica-se que o interesse pela ciência se manifesta na mais tenra idade e fomentar esse interesse, acredito possa vir a ter resultados que poderão refletir na construção de uma sociedade comprometida desde cedo com um futuro sustentável. Crianças possuem uma curiosidade inata do mundo natural e, historicamente, o sistema educacional pode remover essa característica básica. Segundo Robinson e Aronica (2011), a escola pode eliminar a criatividade de uma criança, impossibilitando a inovação. Rodari (2006) refere-se a uma mente criativa como aquela que está sempre a trabalhar, a questionar, a descobrir problemas e a tentar solucioná-los e a criar juízos autônomos e independentes.

Vejo como responsabilidade da escola oportunizar que a criança utilize sua criatividade, permitindo, a partir da observação, que a curiosidade seja incentivada para que possa buscar meios de descobrir e entender o mundo em que vive e os fenômenos à sua volta, aproveitando os recursos disponíveis. A curiosidade natural deve ser fomentada e, se preciso, resgatada pelo educador em suas práticas pedagógicas. As crianças são capazes de compreender os conceitos científicos básicos de acordo com seu nível de entendimento e como estes se aplicam ao mundo que as rodeia. As atividades em grupo ajudam na resolução de problemas mais complexos além de estimular o compartilhamento de ideias e interações sociais.

Os novos tempos exigem habilidades essenciais, como lógica matemática, boa capacidade de comunicação, capacidade de análise e resolução de problemas e afinidades com áreas tecnológicas. Muito se tem falado sobre a revolução industrial 4.0 no século XXI, o que causa uma transformação nos processos de produção e na estrutura social, devido à interação entre o físico e o digital. Precisamos estar preparados para a Revolução 4.0 e enfrentar os desafios do século XXI que. segundo Crowther (2007), estará em enfrentar um desenvolvimento sustentável, manter recursos hídricos, desenvolver e interagir com a inteligência artificial, a regulamentação e a ética na Internet. Sabemos que o desenvolvimento social e econômico requer recursos energéticos, gera poluentes, provocando esgotamento de recursos, destruição ecológica e problemas com o clima. O mundo precisa de uma rápida adaptação aos novos desafios globais.

O ensino também deverá se adaptar, para que o aluno possa aprender de forma independente, utilizar a tecnologia a seu favor para resolver os problemas e desafios que estão ao seu redor com a facilidade de se conectar e de ter acesso ao conhecimento. Essa metodologia está sendo chamada Educação 4.0. O sistema educacional ainda está a passos lentos para atingir os objetivos, pois, ao mesmo tempo em que encontramos professores preocupados em evitar que os dispositivos digitais sejam distração para os alunos, vemos também professores que começam suas aulas com “liguem seus celulares e consultem”.

A escola é um local onde podemos usar a tecnologia disponível de forma correta e produtiva. O objetivo pode ser alcançado de forma positiva, se o aluno tiver claro o propósito do uso da tecnologia disponível. Para atingir os objetivos da Educação 4.0, tem-se falado que o futuro da Ciência é o STEM, sigla utilizada para representar a interligação de quatro áreas do conhecimento: Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (em inglês Science, Technology, Engineering, and Mathematics). Um dos grandes objetivos dessa integração no ensino é gerar uma força de pesquisa e desenvolvimento, voltada para a inovação e qualificar os estudantes de hoje para o mercado de trabalho do amanhã, preparando-os para os desafios do século XXI. O STEM utiliza a integração de conhecimentos, a postura perante desafios, a habilidade de identificar perguntas e resolução de problemas da vida real, a capacidade de chegar a conclusões baseadas em fatos e evidências. Tudo isso de forma conectada, interligando as disciplinas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Há, também, uma linha pedagógica atual que acrescenta a Arte (HARDMAN, 2009), incentivando a leitura e a criatividade, modificando a sigla para STEAM.

Aulas de linguagem de programação, aulas de Robótica, participação em feiras de ciência e Engenharia, olimpíadas de diferentes áreas do conhecimento, projetos interdisciplinares, visitas a museus etc., são projetos que interligam as áreas propostas e incentivam a motivação dos alunos. Ao interligar essas áreas, os alunos são desafiados a planejar, desenvolver e implementar projetos que possam impactar a comunidade em que vivem, sua cidade, país e até mesmo o mundo; a ciência está acessível a todos e pode ser muito mais simples do que se imagina. Assim, com o objetivo de levar o aluno a pensar num problema e buscar resolvê-lo, as ciências são um fator crucial para o início da exploração e descoberta dos fenômenos e conhecimentos que estão ao seu alcance, preparando-se para os desafios sociais ou tecnológicos que surgirão neste século.

Países que têm investido em tecnologia entendem que, começando a educação para ciência na infância, teremos um futuro melhor na pesquisa e no desenvolvimento da tecnologia. E há um movimento crescente de incentivo a eventos de ciências como feiras e olimpíadas, para que haja um reconhecimento dessa pedagogia da pesquisa como um meio de fomentar a criatividade, a inovação e o desenvolvimento social e tecnológico.

De acordo com o movimento de popularização das Ciências do Ministério de Ciência e Tecnologia e Informação (MCTIC), o número de feiras científicas e de Engenharia de ensino básico tem crescido no Brasil, fazendo com que a comunidade escolar brasileira busque a adaptação necessária aos dias atuais e futuros, para que sejamos uma nação competitiva que valoriza o aspecto criativo para resolução de problemas, tão característico dos brasileiros.

Solange Bianco Borges Romeiro
Coordenadora da 33ª MOSTRATEC
Fundação Liberato

 

Referências:

CROWTHER, David T. Taking science to school. Disponível em: <http://www.region9hsa.org/wp-content/uploads/2017/02/The-Importance-of-Engaging-Young-Students-in-Science.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2018.

HARDIMAN, Mariale et al. Neuroeducation: learning, arts, and the brain. 2009. Disponível em: <http://dev.steam-notstem.com/wp-content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2018.

ROBINSON, K.; ARONICA, L. O elemento. Porto: Porto Editora, 2011.
RODARI, G. Gramática da fantasia: introdução à arte de inventar histórias. Lisboa: Caminho, 2006.

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