E se eu fosse leal

E se eu fosse leal iria passar as férias em Katmandu.

Buscaria pedras coloridas e cataria todos os piolhos. Emendaria um mantra após o outro.

Viveria anos assim.

Como um disco de vinil emperrado na vitrola ou como a velha agulha dos toca-discos, cheia de pó.

Passaria por todas as porteiras e subiria as montanhas. Uma a uma.

Ficaria por lá. Como monge.

Vivendo de ar. Rarefeito como tudo que há aqui.

 Ficaria careca. Deixaria Sansão enlouquecido, como quando Dalila virou cabeleireira.

Emendaria o mantra do esquecimento e esqueceria.

E, quando esquecesse, desceria o K2 junto com as mulas.

Viajaria a Lhasa e devolveria o Zig ao trono.

As mordidas acabariam.

 E após rodar todas as rodas de orações, eu dormiria profundamente.

E não acordaria mais.

Sonia Roselle Porto Machado Professora da Fundação Liberato

Sonia Roselle Porto Machado Professora da Fundação Liberato

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