Numa Ilha Hipotética, localizada em algum lugar ao norte do Pólo Sul e ao sul do Pólo Norte, as pessoas têm a obsessão por associações. São tão obsessivas que inclusive criaram o Computador Associativo, um mainframe ultrainteligente que escaneia o tempo todo os interesses dos habitantes da Ilha, conferindo se eles não estão de fora de alguma associação a que pertençam ou se não estão ligados a uma associação com a qual não devem mais ter vínculo. Quando encontra um caso, imediatamente envia o cartão de boas-vindas, o que torna a pessoa oficialmente parte da associação em questão, ou envia um Agente que toma de volta o cartão. Não se pode recusar um convite: se você preenche os requisitos, é como se já pertencesse ao grupo. No entanto, se você deixa de preencher os requisitos, é imediatamente retirado do grupo.
Dessa forma, existem muitos grupos na Ilha. O “Clube de Golfe”, o “Clube de Xadrez”, o “Clube de Amantes de Cavalos”, o “Clube Para Pessoas Que Gostam de Morangos”, etc. Existe até mesmo o “Clube Para Quem Gosta De Et Caetera”.
O Governo dessa ilha, numa tentativa de incentivar a criação de novos grupos, paga ao criador de cada grupo uma quantia equivalente à quantidade de membros do grupo. Isso faz com que seja muito lucrativo criar um grupo: basta perceber uma brecha, uma ligação entre pessoas, que ainda não tenha sido agraciada com a criação de um grupo sobre isso, ir na Central de Grupos (onde se encontra o Computador Associativo) e registrar o grupo. Em questão de segundos, o CA encontra todos os habitantes que podem participar e envia os cartões de sócio.
Um revés do processo é que os Criadores geralmente não pertencem ao grupo que criam. Eles o fazem somente pelo dinheiro. O criador do Grupo de Carne Vermelha é um vegano assumido, por exemplo. Em razão disso, existem muitos velhos ricos, avarentos e tristes que não fazem parte do grupo que criaram, às vezes de nenhum, e isso é muito ruim para eles, pois a participação em um grupo é o que rege a maioria das vidas dos habitantes dessa Ilha Hipotética; é lá que conhecem seus futuros maridos e esposas, e também é lá que conhecem os amigos que convidarão para padrinhos dos seus casamentos. Não fazer parte de nenhum grupo é uma grande tristeza.
O Senhor A. percebeu isso. Ele mesmo nunca tinha criado um grupo, participava de alguns, e estava numa pindaíba desgraçada, precisava do dinheiro. Foi, então, que resolveu criar um grupo, e o grupo se chamaria “Associação Para Criadores de Grupos que Não Participam do Próprio Grupo”.
Já vislumbrava o que faria com o dinheiro ganho quando estava se dirigindo para a Central de Associações. Entrou, explicou-se com a atendente e assinou alguns papéis. Em seguida a atendente inseriu os dados no Computador Associativo. O Sr. A. olhava tudo com olhos atentos. Quando ela inseriu os dados, pequenas lâmpadas começaram a piscar por toda a grande máquina, demonstrando a atividade que estava se desenrolando em seus circuitos internos.
Depois de alguns segundos, um bipe soou e uma grande remessa de cartões de boas-vindas saíram da impressora do CA. Um grupo de Agentes irrompeu pela sala, e dividiram igualmente os cartões para todos. Se detiveram olhando para os nomes e endereços nos cartões, e em seguida todos saíram pela porta, maquinalmente. O último ia saindo quando olhou para trás e viu o Sr. A. parado admirando o processo. Voltou-se e disse “Esse convite é para o senhor”. A. achou engraçado, mas fazia sentido: ele mesmo não participava do grupo que criara, e esse é o único requisito necessário para participar.
No exato momento em que A. pegou o cartão, o Computador Associativo emitiu mais um bipe, uma oitava abaixo do bipe anterior. Uma Ordem saiu pela impressora, e o Agente foi verificar. Olhou para o Sr. A. e voltou andando depressa, dizendo: “Desculpe, mas o senhor não faz mais parte desse grupo” e tomou o cartão das mãos de A. antes que este terminasse de ler os detalhes no verso.
Afinal, A. tinha passado a pertencer ao grupo que criara, o que fazia com que deixasse de preencher o requisito necessário para participar.
Quando o Agente rasgou o cartão de A., mais um cartão saiu pela impressora do CA. Era para A. O Agente entregou o cartão para A., que o aceitou, para logo em seguida ver-se entregando de volta o cartão para o Agente, que o rasgava. Em seguida, mais um cartão saía do CA.
Enquanto isso acontecia, as luzes do CA começaram a piscar mais repetidamente, e no décimo cartão o computador começou a emitir vários bipes, desodernadamente. No vigésimo cartão, quando o Agente e A. já estavam fartos da situação, uma fumaça esverdeada saiu de trás do computador, e uma sirene de emergência soou no local. Policiais emergiram das janelas, das portas e do teto e, então, prenderam A. Os cartões de boas-vindas e as Ordens de Retirada amontoavam-se ao redor da impressora. A atendente, então, em uma manobra muito inteligente, deletou o grupo do computador, o que fez com que toda balbúrdia de sons e luzes parasse na hora.
O Sr. A. encontra-se atualmente no Presídio Hipotético, aguardando julgamento por violar as Leis da Lógica.