Os raios do sol bordeavam as relvas, abertas ao esplendor da vida e tornavam o reflexo prateado, um convite para continuar a caminhar no Parcão, em Porto Alegre.
Os amigos eram os mesmos, cheios de vitalidade e disposição. As crianças e os pipoqueiros já se encontravam na união de suas ilusões. O azul de brigadeiro do céu havia inaugurado um novo dia, uma lembrança já perdida. A sombra das árvores se deitava sobre os bancos para se envolver nos beijos e abraços dos jovens enamorados.
O Mestre, Elio Lee, com seu grupo, desenvolvia sua atividade no centro do parque. Seus gestos, envolvidos no Thay Shu Shy, compunham uma poesia, um cântico para uma saúde plena. E, sua espada, um desafio, uma oração, modelava os olhares e os corações dos que por ali passavam.
Uma figura imponente, perseverante e amiga, o Sr. Marco Antônio Heit, “o guardião do parque”, se posicionava, como sempre, junto à rua lateral, a estender o seu olhar e o seu estímulo a todos, com um: “Bom dia!”
Ei que, de repente, algo inédito aconteceu: sons suaves, inebriantes, saudosos e reflexivos, invadem, com ondas melodiosas, as estruturas mais íntimas daquele parque. Eram os sons magníficos do saxofone tenor, do músico e amigo, Ernesto Lobato. As vibrações brotavam do centro do parque e margeavam todas as ruas laterais. O semblante das pessoas que caminhavam se irradiava. Passaram a sorrir umas para as outras, sem saber o porquê, enquanto a melodia contornava os caminhos, estimulava o sentir, o sonhar e as recordações que cada música despertava.
Ainda que a natureza e o parque sejam esplêndidos, aquele suave modular de sons trouxe outra dimensão para tornar a vida, ainda mais bela, amplificar as ilusões, harmonizar as múltiplas faces do conviver e testemunhar que inovar é preciso.