Considerações sobre a educação básica no RS (2)

Dando continuidade à análise da edição anterior da Revista Digital da Fundação Liberato, procuraremos abordar alguns equívocos recorrentes nas análises de setores progressistas sobre a educação.

  • Considerar a seleção prévia e a dotação orçamentária especial como contrárias ao caráter universalizante do ensino público: esta convicção parte do pressuposto, verdadeiro, de que a seleção é discriminatória socialmente e do pressuposto, falso, de que, sem isso, se dá acesso aos excluídos ao bom ensino. Todas as experiências mostram que, pelo contrário, a universalidade do acesso joga uma massa de despreparados que pressionam a qualidade da Instituição para “baixo”. A prova disso é a própria rede estadual de ensino. O acesso universal não será prejudicial à  qualidade quando se resolver o problema do ensino fundamental e das condições de vida/estudo dos alunos, de outra forma, é utopia. Na prática, isso representa destruir a qualidade de instituições que, para vários filhos de família de trabalhadores, de maior condição material e/ou capacidade intelectual, representa a possibilidade de uma vida melhor. Temos vários dados concretos de ascensão social de alunos a partir dessas instituições públicas de qualidade como as escolas Tiradentes ou a Fundação Liberato.
  • Considerar que o currículo deve se adaptar à “realidade do aluno”: esta postura considera que o ensino deve priorizar o meio cultural do aluno acima da cultura universal. Para os que defendem essas idéias, o professor de Matemática deve se preocupar mais em ligar a sua matéria ao meio dos alunos do que ensinar o que de fato vai lhes servir para serem cultos e capazes de resolver problemas, ou, o professor de História deve ensinar a história de Sepé Tiaraju ou Zumbi, (que influenciaram meramente a história local), preferencialmente à  Revolução Francesa, que é a base para se compreender todo estado contemporâneo, do brasileiro ao chinês.
  • Entender como nocivas a competição e a classificação no ensino: parte-se do pressuposto que nascemos com as mesmas capacidades, o que é falso, e também que devemos ensinar a cooperação e não a competição. As escolas dos países de primeiro mundo e socialistas foram severíssimas em processos seletivos e classificatórios. A competição dos Espartanos no seu aprendizado nunca lhes tirou a igualdade e cooperação entre os cidadãos da Polis. A luta para ser “o melhor” é motor dos alunos que se destacam em eventos como a Mostratec ou a Intel-Isef.
  • Defender a democracia no ensino sem respeitar a especificidade dos segmentos: aprovou-se no RS, em 1995, uma lei “desastre” que é a eleição direta para diretor com voto universal, (o voto do aluno vale o mesmo que o do professor). Esquece-se que o ensino é uma instituição e não a própria sociedade. Não se divide em classes, mas em segmentos. E os integrantes desses segmentos não são cidadãos da instituição, mas, sim do País, com igual direito perante a lei do mesmo, mas não na Instituição. O papel do docente é um, o da responsabilidade sobre o ensino; o do aluno é outro, aprender e se formar enquanto indivíduo. A universalidade do voto tem levado a que professores oportunistas e demagogos assumam a direção de diversas escolas contra os professores mais sérios que, ao serem minoria entre os alunos, ficam anulados enquanto segmento na lógica em que “cada voto é um voto”, pois o número de alunos supera em muito o de docentes. Esse fato tem ampliado significativamente a desmoralização dos docentes e a frustração dos seus mais competentes representantes. Se, no ensino superior, o voto universal é um erro, o que dizer do ensino básico em que os alunos são crianças e adolescentes: é uma irresponsabilidade que destrói a educação!  Quem defende que a importante área educacional do estado fique na mão de adolescentes, para ser coerente, deveria propor a diminuição da maioridade penal, o que é um absurdo.
  • Contrapor avaliações gerais do ensino: com base nas concepções já elencadas, considera-se que as avaliações gerais das instituições não “abarcam os diferentes meios sociais e culturais em que se realiza o ensino”. Há uma cultura universal básica sem a qual a formação do aluno não passa de uma falácia para dizer que se faz política social. Na prática, forma ignorantes que o mercado vai jogar no desemprego ou nos piores salários. Por isso, é fundamental provas que permitam aferir a qualidade do ensino justamente, apesar, das diferenças locais e culturais.

A primeira experiência da esquerda no governo do RS transigiu com muito desses equívocos e criou fatos reprováveis: discriminação dos conteúdos das matérias em favor de uma mera questão de forma pedagógica, (se fez um concurso para professor em que nada da matéria específica foi perguntado, mas apenas Paulo Freire!), ataque às Escolas Tiradentes, desvalorização da Fundação Liberato (tida como privilegiada!), promoção de uma concepção de educação libertária ao estilo “escolas do MST”, igualar todas as instituições, evitando a ideia de polos ou modelos e a não recuperação salarial significativa, entre outras.

Por fim, cabe apresentar algumas alternativas que, em função do espaço, deverão ser explicitadas na próxima edição.

Daniel V. Sebastiani Professor da Fundação Liberato

Daniel V. Sebastiani
Professor da Fundação Liberato

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *