Quando deixo minha casa,
E o corpo cruza por outros lugares,
Tenho a impressão
De que ela não é minha.
Às vezes, tenho a sensação
De que estou lá
Só de passagem,
É como se a alma não habitasse…
Quando deixo minha casa,
O tempo me leva para outro lugar,
Um lugar povoado de saudades,
Uma saudade doída,
Mas terna…
Saudade daquele tempo
Em que brincava de bonecas
E o sapatinho abandonado no quarto
Era apenas um pezinho
Que trilhava em direção ao futuro…
Do abandono de meus brinquedos,
Do atira o pau no gato à canoa virou,
A menina franzina sonhava
E do sonho, salpicado de esperança,
Nascia a vontade de ser grande
Poder ir ao cinema sozinha,
E andar pelas ruas do bairro e da cidade
Feito gente grande, dona do nariz…
Hoje, vejo que tudo aconteceu tão de repente,
Que minha casa é só minha,
Mas quando deixo minha casa,
Sinto que os dedos dourados do futuro
Deixam escorrer o tempo
E a menina que ainda
Existe dentro de mim
Só quer mais um colo,
Um único colo onde possa
Abrigar o corpo e a alma,
Como se minha existência
Pudesse reinventar
A alegria de viver
No calor inebriante
Da vida…
Quando deixo minha casa…