Crônica semifinalista da Olimpíada de Língua Portuguesa Edição 2010-11-17
Etapa Curitiba-PR
Nasci na Capital e vivi minha vida toda na cidade grande. Desde sempre a sensação de liberdade me fascinava, mas, infelizmente, só podia experimentá-la ao meu estilo uma vez ao ano.
Ao chegar em Mato Queimado, uma cidadezinha no interior das Missões, onde ficava a casa da minha avó, a primeira coisa que eu fazia era colocar os meus “tênis de guerra”, vestir minha roupa mais velha e me mandar para os imundos potreiros.
Caminhava pensando no nada, simplesmente olhando para aquela beleza estonteante. Reparava nas coisas mais singelas, como o vento tocando delicadamente as folhas secas no chão, as vacas fazendo barulho ao ruminar o pasto, ou um “pente de macaco” descansando na sombra de uma árvore.
Naquele lugar, eu podia sair cedinho pela manhã e voltar tarde da noite. Eu podia comer uma “barrigada” de bergamotas quentes e suculentas direto do pé, eu podia tomar banho na sanga de água gelada ou pescar uma dúzia de lambaris simplesmente por diversão.
Mas de todas as coisas que eu fazia, havia uma predileta. Abrir os braços e correr de olhos fechados no meio do nada, completamente sem direção. Era a sensação mais incrível que eu já havia sentido. Era como se eu estivesse fazendo tudo ao mesmo tempo, como se o mundo não fosse grande o suficiente, como se eu pudesse voar mais alto que tudo. Eu podia ouvir o vento sussurrar as mais delicadas e belas melodias do universo.
Hoje, lembro-me todos os dias daqueles majestosos momentos que tão fortemente marcaram minha infância. Por isso, me considero uma das poucas pessoas de muita sorte no mundo, simplesmente por ter experimentado o que é a maior ambição de todos. E, apesar de ser passado, não consigo parar de pensar em como seria ter isso novamente, aqui, no lugar onde vivo, em como seria feliz se vivesse isso só mais uma vez e em como seria poder fazer com que todos soubessem o que é ter a verdadeira liberdade.