ISEF primeiras histórias

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Eles queriam fazer uma furadeira CNC para circuitos impressos. Eles estavam trabalhando em conjunto com mais dois alunos do Curso Técnico de Eletrônica, Luciano Schmidt e Jeferson Costa, que, por sua vez, eram orientados pelo professor Irineu Alfredo Ronconi Jr. Juntamos o pessoal e formamos um grupo intercursos. O trabalho foi apresentado na MOSTRATEC de 1993, ganhou o primeiro lugar e foi classificado para uma feira internacional na PUC, na qual obtivemos o credenciamento para participar na ISEF de 1994, em Birmingham, no Alabama, EUA.

Não tínhamos nenhum conhecimento ou experiência em participação de feiras internacionais. Eu nunca havia saído do país ou mesmo entrado num avião. Nenhum dos alunos ou nós professores, sabíamos o idioma inglês. Na época, o professor Hélio era um dos organizadores da MOSTRATEC e nos acompanhou, talvez fosse ele, o mais experiente em viagens do grupo. Resumindo, estávamos viajando com um grupo de quatro alunos, menores de idade, em rumo do desconhecido. Naquele ano, a MOSTRATEC estava recebendo, pela primeira vez, o credenciamento para participar da ISEF.

As surpresas já começaram no aeroporto, pois um dos alunos, o Jeferson, ganhou a passagem da empresa onde estava fazendo o estágio e não viajaria no nosso voo. Ou seja, um aluno, sem nenhum conhecimento em viagens, que não falava inglês, iria viajar sozinho, e nós o encontraríamos somente no Alabama. Teríamos que torcer para que tudo ocorresse da melhor maneira com ele. Os alunos tinham construído um protótipo e, evidentemente, queriam levar o equipamento, e nós, por não conhecer as regras, imaginávamos ser importante ter a máquina na feira. Então, solicitamos ao zelador da Fundação, Sr. Vanderlan da Rosa Fagundes, que construísse uma grande caixa de madeira para embalar e proteger a máquina, com duas alças, o que permitiria carregar entre duas pessoas, já que o conjunto tinha se tornado muito pesado.

A peregrinação pelos aeroportos foi um capítulo à parte, pois fomos arrastando a caixa de aeroporto em aeroporto, literalmente correndo atrás dos voos, já que o intervalo de tempo entre os checkings eram pequenos, inexperiência nossa ao adquirir as passagens, não tínhamos ideia do tamanho dos aeroportos, o que nos levou a correr entre os portões com as bagagens e com a caixa. O roteiro foi Porto Alegre – São Paulo – Dallas – Birmingham e, na volta, o sentido inverso. Ao chegar ao centro de eventos da feira, continuou a nossa aventura, que consistia em conseguir realizar a inscrição e credenciamento, pois não conhecíamos o regulamento, nem o que significava CRC ou CRI. Sem entender o que nos diziam, iniciamos a montagem do estande, instalando a máquina e tentando ligá-la. Neste momento, fomos falar com os organizadores e, entre muitas dúvidas e questionamentos, pedimos a instalação elétrica e o ar comprimido, quando, então, nos perguntaram como funcionava a máquina. Depois de nos “ouvir”, disseram que não poderíamos ligar a máquina, pois a mesma tinha peças em movimento e utilizava tensão elétrica alta, o que a tornava arriscada para os visitantes. Para completar nossa frustração, o tamanho da máquina não permitia que ela coubesse no estande padrão. No final da história, não pudemos nem deixar a máquina no estande, e nós não havíamos levado nenhuma outra forma de mostrá-la, como fotos, filmes, desenhos, etc. Carregamos um trambolhão por dias, pagando excesso de bagagem e que não teve finalidade nenhuma na feira. Os banners que levamos estavam fora de padrão e não eram traduzidos, o que nos obrigou a fazer um trabalho de corta e recorta. E, para completar, os alunos não falavam inglês e não sabíamos que deveríamos ter solicitado, antecipadamente, tradutores. Evidentemente, que pelo pouco que apresentamos, sabíamos que estávamos muito longe das premiações. Na verdade, nem tínhamos ideia de como eram as avaliações e a que classificações e premiações estávamos concorrendo ou se estávamos concorrendo. Na época, lembro que via muito longe a possibilidade de que, algum dia, nós pudéssemos conquistar algum prêmio. Ficamos assistindo à festa dos gringos, sem ter a verdadeira concepção do que estava ocorrendo.

Esses foram alguns dos primeiros passos da família Liberato no mundo das feiras internacionais. Faltou falar dos episódios hilariantes fora da feira, no hotel e nas visitas, mas isso é outra história, e, possivelmente, terei que pedir autorização de alguns colegas e ex-alunos para revelar.

Hoje, depois de muita garra, vontade e dedicação, a Liberato chega já em 20 participações, com várias conquistas e alegrias. E, aquele pensamento pessimista que tive em 1994, foi totalmente ultrapassado, graças à capacidade e à motivação dos nossos alunos e à superação dos nossos servidores, que abraçaram a causa da pesquisa no Ensino Técnico. Por fim, agradeço todos os dias o fato de ter sido escolhido pelo Gustavo e pelo Edson e também pelos demais alunos que os sucederam, para ser orientador em muitos outros projetos, pois tive a grande oportunidade de ver a história acontecer e evoluir em nossa instituição. Obrigado a todos.

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Ramon Fernando Hans

Professor da Fundação Liberato

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