O MUNDO DA COPA

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O mundo representado na Copa 2014 é formado por 32 Nações. Dessas, 13 são Europeias, 10 pertencem às Américas, 5 são Africanas, 3 são Asiáticas e uma pertence à Oceania. A população de todos esses países somados chega a 1,8 bilhão de pessoas. Logo, o Mundo da Copa 2014 representa uma amostra de aproximadamente 25% da população mundial.

O PIB dos 5 países mais ricos (EUA, Japão, Alemanha, França e Inglaterra) representa mais de 65% do total. O PIB das outras 27 Nações somadas é apenas ligeiramente superior (0,6%) ao dos Estados Unidos – que também ultrapassa a soma do PIB dos outros 4 mais ricos em mais de 11%.

A Nação mais rica é também a mais populosa. A Suíça, no entanto, tem um PIB per capita muito superior a qualquer outra Nação – para superá-lo, podemos somar os valores dos 13 piores resultados, que incluem o Brasil (20º nesse ranking).

A Suíça é também o país menos corrupto entre os participantes da Copa 2014 (7º menos corrupto no mundo). Duas Nações Africanas (Nigéria e Camarões) dividem com o Irã o pior resultado entre os participantes (144º).

O Brasil é o primeiro país no ranking das Copas, seguido de perto pela Itália, terceira colocada.

A Itália é o 69º país menos corrupto, seguido pelo Brasil, 72º.

No Mundo da Copa 2014, a Alemanha ostenta o 4º lugar entre os países menos corruptos (12º no mundo), 4º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), 3º no desempenho de seus estudantes em ciências no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes– PISA – (12º no mundo), é o 4º país que mais investe seu PIB em saúde pública (9,00%) e é o 5º em investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (2,82% do PIB). Além disso, consta na 2ª colocação no ranking geral da Copa, mas aí mora uma contradição. Isso porque das suas 17 participações, 10 se referem à Alemanha Ocidental… Aliás, em 1974, duas Alemanhas estiveram em campo, com direito a confronto direto… (com vitória da Alemanha Oriental por 1×0). Em 2006, a Copa foi realizada na Alemanha reunificada, com uma grande euforia tomando conta do país.

A Austrália e os Estados Unidos, que nunca ganharam uma Copa do Mundo, possuem os maiores IDH’s no Mundo da Copa 2014.

Nenhuma das Nações das Américas ou da África presentes no Mundo da Copa 2014 possui expectativa de vida ao nascer maior que 80 anos. Esse é um privilégio de 9 Nações Europeias, do Japão (maior expectativa, de 83,6 anos), da Coreia do Sul e da Austrália. Se durante a Copa você encontrar turistas nigerianos ou camaroneses com 53 anos, estará em contato com pessoas que já ultrapassaram a expectativa de vida em seus países – as menores entre os participantes. Pertencem também à Nigéria (58%) e a Camarões (77%) os piores índices no acesso da população à água potável.

Coreia do Sul (7º) e Japão (4º) detêm os melhores índices no PISA em ciências. Também são as Nações que mais investem seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (mais de 3%).

Dentre os países que mais investem seu PIB em Saúde Pública, apenas Estados Unidos (9,5%) e Costa Rica (7,4%) estão nas Américas. Uruguai (5,9%) e Colômbia (5,6%) são os únicos sul-americanos que investem mais de 5%. Uruguai, que é o 9º no ranking das Copas, sediou e venceu a primeira Copa do Mundo, em 1930, e tem como seu presidente José Mujica, considerado o presidente mais pobre do mundo. No entanto, ele rejeita esse título, pois alega que “pobres são aqueles que precisam de muito para viver”.1 Já a Colômbia nunca ganhou nem sediou uma Copa – sediaria a de 1986, mas devido a uma grave crise econômica, desistiu, passando o compromisso para o México que já sediara em 1970.

A Argentina sediou e venceu a Copa de 1978, em plena ditadura de Jorge Rafael Videla. O Brasil, também sob regime ditatorial, ficou em 3º lugar e, diante das suspeitas de favorecimento argentino, teve de seu técnico, Cláudio Coutinho, a declaração de que era “Campeão Moral”- não deixa de chamar a atenção a posição de destaque para a palavra “moral” em algo relacionado com o Brasil… A arquirrival do Brasil no continente, no entanto, ocupa a 4ª posição no ranking das Copas, mas tem apenas 2 títulos contra 5 do Brasil…

Por fim, 7 das 32 Nações que estarão na Copa 2014 não eram independentes na outra Copa realizada no Brasil, em 1950. Fazem parte desse grupo todas as 5 Nações africanas presentes – Gana , Costa do Marfim, Camarões, Argélia e Nigéria – e as europeias do leste, Croácia e Bósnia Herzegovina, dissidentes da ex-Iugoslávia, que se tornaram independentes apenas nos anos 1990.

Há muito mais sobre o Mundo da Copa. Curiosidades, fatos históricos, além dos lances inesquecíveis para quem gosta de futebol – para quem não gosta, é só mudar de canal!

Bola fora

Para quem posta “hashtag-não-vai-ter-copa”, vale saber que a Copa, desde seu início, só deixou de ser disputada durante a Segunda Guerra Mundial. Seriam nossas misérias tupiniquins equivalentes àquelas atrocidades? É quebrando vidraças que mudaremos este país para melhor? Talvez mude mais se escolhermos no dia a dia exercer a verdadeira cidadania – desafio difícil, trabalhoso, cansativo e desanimador frente às atuais circunstâncias…

Que haja liberdade. Para protestar na rua ou para comemorar um gol. Que haja liberdade para aqueles que amam seu país e que torcem, pelo menos dentro dos gramados, por um triunfo verde-amarelo. Não é sediar uma Copa do Mundo que faz do Brasil um país de terceiro mundo. É o que se faz a partir disso que escancara para o mundo, neste momento, o nosso atraso como Nação e a nossa incompetência. Mas nenhum brasileiro se tornará melhor ou pior cidadão se o Brasil perder ou ganhar a Copa.


Ao contrário de muitos professores, penso que a Copa do Mundo tem todos os elementos para servir de boa base para várias ações educacionais e pedagógicas – aspectos positivos e negativos, como qualquer construção humana que se conhece. Fico com o exemplo das escolas de Sochi, na Rússia, que receberam os atletas brasileiros da última Olimpíada de Inverno com o Hino Nacional, com crianças se esforçando para falar algumas palavras em português e com uma tentativa de reproduzir a culinária brasileira (fizeram alguns “quase-brigadeiros”). Eu gostaria, sim, que a escola onde atuo considerasse a Copa do Mundo adequadamente em seu calendário escolar – inclusive mudando o período de férias.


Não é apenas a bola. É a valorização dos talentos. De algo que muitos brasileiros fazem bem. A gestão do futebol é ruim em todo o mundo. No Brasil “gestão” é um problema para quase tudo. Os “padrões Fifa” nos atormentam… Critica-se a elitização do futebol – eu também critico, pois sempre preferi arquibancada às cadeiras numeradas. Mas me anima que em algum momento “a minha gente sofrida se despeça da dor, para ver a banda passar, cantando coisas de amor”². Mesmo que sejam ilusões a conta-gotas – quem não precisa de um pouco de fantasia?


Os novos estádios brasileiros poderiam levar os seguintes nomes oficiais: 1) Estádio Operário Fábio Hamilton da Cruz; 2) Estádio Operário Fábio Luiz Pereira; 3) Estádio Operário Ronaldo Oliveira dos Santos; 4) Estádio Operário José Pita Martins; 5) Estádio Operário Marcleudo de Melo Ferreira; 6) Estádio Operário José Antônio da Silva Nascimento; 7) Estádio Operário Raimundo Nonato Lima da Costa; 8) Estádio Operário José Afonso de Oliveira Rodrigues. Esses nomes são dos trabalhadores mortos nas obras de construção ou de reforma das novas arenas brasileiras. Como 5 Estádios são novos (“Arenas” Pantanal, das Dunas, Amazônia, Itaquerão e Pernambuco), prever a mudança do nome antes da inauguração oficial na Copa seria mais fácil. Entre Mineirão, Mané Garrincha, Maracanã e Castelão (estádios construídos e mantidos exclusivamente com recursos públicos), podem ser escolhidos 3 para terem seu nome modificado… Penso que seria um reconhecimento permanente não apenas aos falecidos e suas famílias, mas também à necessidade do país melhorar as condições de segurança no trabalho em todos os níveis.


Um mundo sem Copa continuaria sendo desigual e injusto, não deixaria de ser capitalista e teria um pouco menos de graça. Fui contra a realização da Copa no Brasil. Mas não vou torcer contra o meu país.

 Leia também:

O país da Copa 2014

 

André Viegas

André Luís Viegas – Professor de Química – Fundação Liberato

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:

Os dados sobre as populações, riquezas e índices de desenvolvimento dos países participantes são do IBGE Países. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php.

Os dados sobre índices de corrupção são da Transparency International, 2013. Disponível em: http://cpi.transparency.org/cpi2013/results/#myAnchor1.

Os dados sobre as avaliações dos alunos no PISA são doPortal EBC, em 03/12/2013. Disponível em: http://www.ebc.com.br/educacao/2013/12/ranking-do-pisa-2012.

As informações históricas sobre a Copa do Mundo são do site oficial da Fifa. Disponível em: http://pt.fifa.com/worldfootball/statisticsandrecords/tournaments/worldcup/alltimerankings.html.

1: Opera Mundi. Mujica rejeita título de “presidente mais pobre do mundo”. 18/05/2013. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/28959/mujica+rejeita+titulo+de+presidente+mais+pobre+do+mundo.shtml.

2: Referência à música “A banda”, de Chico Buarque. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=WZWcpEgJZAY&feature=player_detailpage .

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